São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2011

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Livro retrata "tribo" dos correspondentes estrangeiros

Obra do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, que será lançada hoje em SP, mostra os desafios da função

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

"Com raras exceções, o correspondente internacional é prima donna, workaholic, egoísta e solitário, às vezes agressivo, às vezes dissimulado".
A descrição certamente não tem nada do glamour associado normalmente a uma das mais festejadas atividades da imprensa.
Mas, como retrata o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva em seu livro "Correspondente Internacional" (editora Contexto, 186 págs., R$ 33), que tem lançamento hoje em São Paulo, a função é bem mais ampla do que a cobertura de casamentos da realeza ou a assinatura de acordos de paz.
Ex-correspondente da Folha nos EUA e atualmente colaborador do jornal, Lins da Silva intercala na obra anedotas pessoais e vasta referência teórica sobre o tema, reflexo de sua carreira acadêmica (é professor livre-docente da USP).
Segundo ele, ser correspondente exige no mesmo grau tenacidade, coragem pessoal e uma imensa paciência. Não raro, também litros de álcool.
Correspondentes estrangeiros já foram definidos por alguns, como Andrew Marr, ex-editor de política da BBC, como uma "aristocracia" dentro do jornalismo. O autor prefere o termo "tribo", e é fácil entender a razão.

"ELITE DA ELITE"
Afastados de seu país, impondo sacrifícios à família e frequentemente sentindo-se esquecidos (ou rejeitados), tendem a unir-se em grupos onde a divisão companheiro/concorrente é tênue.
É um mundo em que adversários nas páginas dos jornais dividem despesas de hotel, trocam ideias sobre a melhor maneira de abordar uma reportagem, consolam-se e animam-se na mesma medida em que competem e geram desconfiança mútua.
Entre os dilemas da tribo, diz Lins da Silva, talvez o maior para o correspondente seja como não se apaixonar demais pelo país em que está baseado, esquecendo-se de que precisa falar de assuntos de interesse para o brasileiro.
O correspondente, que se sente a "elite da elite" do jornalismo, precisa encarar a realidade de que o noticiário internacional está normalmente longe das preocupações centrais dos leitores, o que se reflete na edição.
Ele lembra com pesar que o Massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim, não foi manchete da Folha em junho de 1989, mas sim uma frase hoje desimportante do então presidenciável Ulysses Guimarães.
O livro pode ser lido como um manual para não-iniciados e deve fazer sucesso em escolas de jornalismo.
Seu ponto alto sem dúvida é o relato dos percalços de um correspondente, a mistura da vida profissional com a pessoal, a ginástica para escrever uma reportagem com uma mão e alimentar o filho pequeno com a outra (com gotas de sopa espirrando no laptop, como ele relembra).
Num mundo interconectado, conclui Lins da Silva, correspondentes fazem cada vez mais a diferença para o leitor.
Mesmo se essa "elite" hoje não tem escritórios com poltronas de couro, tapetes orientais e palmeiras, como o americano "Daily News" oferecia a seus repórteres em Paris e Londres, há cem anos.


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