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El Paso nutre desejo de migrar e medo da insegurança
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A EL PASO
Em cada uma de suas esquinas e
em seus vários restaurantes de comida tex-mex, El Paso reflete tanto o desespero dos mexicanos que
buscam entrar nos EUA quanto a
paranóia em relação à segurança
que tomou conta dos americanos
após 11 de setembro de 2001, mas
sempre existiu nessa região.
Três, quatro, cinco ou até seis
cercas de metal chegam a separar
o eldorado texano da vizinha Ciudad Juárez, maior cidade do Estado mexicano de Chihuahua com
mais de 1,3 milhão de habitantes.
Com os cerca de 700 mil de El Paso, é formada uma conurbação de
2 milhões de moradores que, de
cada lado do rio, vivem situações
absolutamente distintas.
O rio Grande (ou río Bravo, para os mexicanos) não impressiona, espremido entre cercas e muros de metal ou concreto. Todos
os dias, milhares de mexicanos
atravessam legalmente as pontes
que separam as duas cidades sem
preocupar as autoridades americanas. Trata-se de mão-de-obra
barata para a abastada El Paso.
Todavia as centenas de milhares
de pessoas que cruzam a fronteira
ilegalmente por ano são idéia fixa
das autoridades da cidade. Prova
disso é o impressionante aparato
de segurança exposto ao longo da
divisa. A Border Patrol, a polícia
americana responsável pela vigilância da fronteira, conta com picapes e pessoal muito bem treinado para desempenhar o trabalho.
Parte significativa de seu cotidiano é reservada à sua luta perpétua contra os "coiotes", os traficantes de migrantes, que dão falsas esperanças aos candidatos à
clandestinidade e, com frequência, os abandonam no deserto.
Justiça seja feita: a Border Patrol
salva inúmeros clandestinos deixados pelos "coiotes", fornecendo-lhes alimentos e tratamento
médico. O calor é terrível, e o clima, bastante seco na região.
Para dificultar ainda mais a entrada de estrangeiros, ela conta
com a ajuda e o know-how da
Força-Tarefa Conjunta Seis
(FTCS), uma operação militar cuja missão oficial original é ajudar a
polícia na "guerra contra as drogas". Após os atentados de 2001,
ela também realiza trabalhos ligados ao combate ao terrorismo.
Sua sede fica no forte Bliss, local
em que o presidente George W.
Bush recebeu prisioneiros de
guerra vindos do Iraque, em abril.
No que se refere à vigilância da
fronteira, a FTCS levanta cercas e
muros, reforma estradas e constrói pontes para facilitar o trabalho da Border Patrol. Essa política
tornou as zonas urbanas bastante
policiadas, compelindo os migrantes clandestinos a aventurar-se pelo deserto. A FTCS também
está preparada para fornecer à
polícia especialistas em diversas
áreas ou professores de espanhol.
Contudo isso provavelmente
não seja necessário: todo mundo
fala espanhol em El Paso. Aliás,
muito mais do que inglês. Em
suas lojas ou em seus restaurantes, os funcionários abordam os
clientes em castelhano mesmo
que ele pareça ser americano.
A migração clandestina também preocupa as autoridades mexicanas. Entretanto, como disse à
Folha um alto funcionário mexicano -que não quis ser identificado-, "muito mais teria de ser
feito por ambas as partes". "Ciudad Juárez é muito longe da Cidade do México, e El Paso é longe
demais de Washington."
"Castañeda era o único que
pensava realmente nos problemas da região, mas ele não está
mais no poder", lamentou o alto
funcionário mexicano, aludindo
ao primeiro chanceler do gabinete do presidente Vicente Fox, Jorge Castañeda, articulador da
aproximação com os EUA, que
deixou o posto em janeiro passado por "razões pessoais".
Todavia Steven Barracca, especialista em política mexicana da
Universidade do Texas em El Paso, discorda da opinião do alto
funcionário mexicano. "Qualquer
político do México sonha em chegar a um acordo migratório com
os EUA, pois a população é totalmente favorável a isso", avaliou.
Os problemas econômicos do
Estado de Chihuahua tendem a
agravar-se, segundo especialistas.
Muitas "maquiladoras" (empresas que se mudaram para o México apenas para montar produtos
-em busca de mão-de-obra barata) estão se mudando para a
China, onde o custo do trabalho é
ainda menor, o que já constitui
um golpe na economia da região.
Assim, ante um quadro de pouca esperança para a população de
Chihuahua, um dos mais pobres
Estados mexicanos, a tendência é
o aumento dos problemas na região de El Paso e Ciudad Juárez.
O jornalista Márcio Senne de Moraes
viajou a convite do governo dos EUA
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