São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Libanês vê risco real, e israelense, jogo de cena

Analistas ouvidos pela Folha debatem chance de ataque

DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas consultados pela Folha divergem sobre a possibilidade de um ataque israelense ao Irã.
O libanês Rami Khouri é dos mais preocupados. "Israel não está blefando. Os israelenses já bombardearam o Iraque e, recentemente, a Síria. Não vejo por que não atacariam o Irã", diz o editor-chefe do jornal "Daily Star", de Beirute.
Para Khouri, o fato de Israel falar em atacar o Irã ao mesmo tempo em que negocia com grupos pró-Teerã como Hizbollah e Hamas não é paradoxal. "A diplomacia às vezes caminha junto com a guerra, é uma maneira de manter todas as opções em aberto", expõe.
Tom semelhante foi usado pela revista britânica "Economist". Em editorial, a publicação afirmou que os riscos de guerra generalizada e de explosão no preço do petróleo não assustam Israel.
"Tendo em vista a sua história, os israelenses estão dispostos a correr qualquer risco para impedir que um governo que prega a destruição de seu país obtenha os meios de pôr em prática o seu desejo", diz a "Economist".
Trita Parsi, do Conselho Nacional Iraniano-Americano, é mais cético. "Israel está fazendo muito barulho em cima dessa história. Conhecendo os israelenses, eu ficaria mais preocupado se eles estivessem calados", diz o especialista, que enxerga as ameaças como uma forma de pressão psicológica.
Concorda a americana Jacqueline Shire, do Instituto pela Segurança Internacional. Ela cita o silêncio recente do presidente Mahmoud Ahmadinejad nos últimos dias e a melhora no clima do diálogo entre o Ocidente e o Irã como reflexo do "tom barra-pesada" de Israel.
Yossi Melman, veterano analista do jornal israelense "Haaretz", afirma que o risco de ataque existe, mas que a tensão atual é um jogo de cena destinado a mostrar que Israel não descarta a opção militar.
Segundo Melman, dois fatores tornam a possibilidade de ataque muito remota: a fraqueza do premiê Ehud Olmert, desmoralizado por acusações de corrupção, e o fato de uma ofensiva ser impensável sem a ajuda dos EUA, cujo Exército está atolado no Iraque e no Afeganistão, sem condições de abrir mais uma frente militar.
O belga Alain De Neve ressalta que os aliados Israel e EUA às vezes têm agendas divergentes. "Às vésperas da eleição presidencial, o governo americano vive uma espera estratégica, e até os aliados mais fiéis acabam tendo que se curvar a esse contexto", diz.
De Neve afirma ainda que a fracassada guerra contra o Hizbollah, em 2006, provou aos israelenses que "bombardeios não se traduzem necessariamente em vitória". (SAMY ADGHIRNI)


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