São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jovens celebram "contratos" de abstinência com pastor pop

EM CAMPALA (UGANDA)

Casado e com cinco filhos, o pastor Martin Ssempa, 40, é uma das vozes mais estridentes da política do governo de Uganda de "terceirizar" parte da promoção da abstinência sexual para as igrejas. "Nossa visão não é a dos europeus e americanos, que diz que você pode ter sexo com quem escolher", diz.
A cada sábado, Ssempa reúne em sua igreja grupos de jovens para celebrar "contratos de abstinência". Pequenos cartões que podem ser carregados na carteira são assinados por jovens. "Faço uma comunhão com Deus, comigo, minha família, meus amigos, minha nação, meu futuro cônjuge e meus futuros filhos de ser abstêmio desse dia até o dia em que eu entrar num casamento monogâmico e para a vida toda", diz o "contrato". Ssempa diz que chega a reunir 3.000 jovens em alguns desses eventos.
Sua agressiva estratégia de marketing lembra a dos televangelistas americanos. Ele distribui um "business card" em que se apresenta como "uma voz fervorosa na luta global contra HIV/Aids". Gosta de se apresentar não apenas como pastor, mas como "CEO" de um conglomerado de ONGs que promovem a abstinência.
Ssempa tem website, programas de rádio e é figura fácil na TV, em passeatas e seminários, locais e internacionais. Na América Latina, esteve no México, mas nunca no Brasil.
Um ajudante confidencia que ele sonha levar Kaká, jogador do Milan e da seleção brasileira conhecido pelo fervor religioso, para visitar Uganda.
O pastor é um aliado do presidente Yoweri Museveni, e seu desprezo pela camisinha é assumido. "Quando as pessoas têm muito acesso à camisinha, se tornam promíscuas", afirma.
Há alguns anos, Ssempa fez questão de ser filmado queimando um lote de preservativos. "Eram camisinhas defeituosas." É um grande admirador do presidente dos EUA, George W. Bush. Mas espreita inimigos e ameaças em todos os cantos, principalmente entre feministas e as ONGs internacionais que atuam no país.
"Para nós, o que você faz na privacidade do seu quarto não é só da sua conta. É da conta de todos. Aqui todos pertencemos a clãs. Quando um está doente, estamos todos doentes." (FZ)


Texto Anterior: Religiosa, Uganda usa moralismo contra a Aids
Próximo Texto: Para ONG, ação faz garotas entrarem em uniões de risco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.