São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Para ONG, ação faz garotas entrarem em uniões de risco

EM CAMPALA (UGANDA)

A política anti-Aids do governo de Uganda atenta contra os direitos humanos e pode colocar vidas em risco. Este é o veredicto de um relatório de 2005 da Human Rights Watch (HRW), respeitada ONG baseada nos EUA. "Amplamente considerada líder na prevenção da Aids, Uganda está redirecionando sua estratégia de métodos cientificamente comprovados para programas de caráter ideológico", disse a ONG.
Segundo o relatório, que defende a promoção da camisinha, "o efeito é o de substituir estratégias de saúde pública consistentes por mensagens não comprovadas e que podem ameaçar a vida, impedindo a realização do direito humano da informação".
A HRW aponta uma brecha no programa de abstinência que algumas ONGs locais também percebem: geralmente, quem segue a orientação são as mulheres. "Garotas de menos de 18 anos em sua maioria se casam com homens que há anos são ativos sexualmente e não usam camisinha."
Algo parecido diz Syahuka Hannington, diretor-executivo da Rede de Organizações de Aids de Uganda, que reúne cerca de mil ONGs. "Abstinência não é tão simples assim. Faz sentido se abster para depois casar com um homem infectado com o HIV?"
A opinião de Hannington deve ser vista, no entanto, mais como um reparo no que é no geral uma opinião favorável da estratégia do governo. Na sua ofensiva anti-Aids, que já dura duas décadas, o governo foi bem-sucedido em cooptar as ONGs locais. "Há praticamente um consenso nacional em torno do tema", diz Hannington.
Segundo os estudos da ONG, 99% da população hoje sabe o que é a Aids, mas apenas 42% se protege da doença.
Francis Nahamya, presidente de outra ONG ugandense, o Centro de Informações da Aids, aprova a mensagem propagada pelo governo. "O que nós dizemos aos jovens é: você ainda é novo, você pode esperar." Sua ONG destina-se a oferecer informação e aconselhamento, com oito escritórios no país e 170 funcionários. Um dos doadores é o governo dos EUA.
O preservativo é, segundo Nahamya, defendido como uma válvula de escape. "Camisinha é uma opção para os que não podem se abster ou serem fiéis. Nesse caso, pelo menos use a camisinha", afirma. (FZ)


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