São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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Zelaya é impedido de voltar a Honduras

Choques entre simpatizantes do presidente deposto e forças de segurança deixaram ao menos um morto e três feridos graves

Após o Exército colocar veículos na única pista do aeroporto, frustrando o pouso, voo de mandatário é desviado para a Nicarágua

Eduardo Verdugo/Associated Press
Milhares de apoiadores de Manuel Zelaya se concentram na entrada do aeroporto da capital hondurenha; confrontos acabaram provocando a morte de uma pessoa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, foi impedido ontem pelo governo interino de aterrissar no aeroporto internacional de Tegucigalpa, onde um confronto entre vários milhares de manifestantes e forças de segurança deixaram ao menos um morto e alguns feridos.
Foi a primeira morte desde que Zelaya foi deposto, há oito dias. Entre os feridos, pelo menos três manifestantes sofreram lesões graves. O dia mais tenso desde o início da crise política levou o governo interino a antecipar o toque de recolher das 22h para as 19h.
A bordo de um avião de matrícula venezuelana, Zelaya embarcou de Washington rumo a Honduras acompanhado do presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel D'Escoto, apesar de advertências do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, e da Igreja Católica de que seu regresso poderia gerar violência.
O governo interino de Honduras não autorizou a aterrissagem de Zelaya, apesar de o Ministério Público ter pedido à Interpol que emitisse um mandado de prisão internacional.
O mandatário deposto é acusado de "traição à pátria", entre outros crimes, por ter tentado convocar uma Assembleia Constituinte, iniciativa considerada ilegal pela Justiça e pelo Congresso.
O Exército colocou veículos na única pista de pouso do aeroporto, impedindo a aterrissagem. O avião então foi desviado e pousou em Manágua, na Nicarágua, antes de seguir para El Salvador, onde Zelaya era esperado pelos presidentes Rafael Correa (Equador), Cristina Kirchner (Argentina) e Fernando Lugo (Paraguai).
A expectativa era que Zelaya se reunisse com eles em San Salvador ainda ontem à noite.
Em entrevista por telefone à TV Telesur no momento em que sobrevoava Tegucigalpa, Zelaya admitiu que não conseguiria aterrissar e prometeu buscar outros meios para retornar a Honduras.
Zelaya disse ainda que, "se tivesse um paraquedas, saltaria" e que ia "sem armas e a dialogar pacificamente". Também pediu ao Exército hondurenho que "retivesse o massacre".
Em entrevista coletiva horas antes do confronto, o presidente interino, Roberto Micheletti, voltou a afirmar que a volta do ex-aliado à Presidência é "inegociável", mas se disse disposto a receber uma missão da OEA.
Esse cenário é improvável num curto prazo. Em viagem a Tegucigalpa na sexta-feira, Insulza se recusou a conversar com representantes do governo interino e voltou a classificar a deposição de Zelaya de "golpe de Estado militar".
Na madrugada de ontem, a Assembleia Geral da OEA suspendeu Honduras da organização por causa da deposição de Zelaya, detido por forças militares e expulso do país na madrugada do último dia 28.

Protesto
Desde as primeiras horas da manhã, os manifestantes começaram a se reunir nos arredores da Universidade Pedagógica. Dali, iniciaram uma marcha em direção ao aeroporto internacional de Tegucigalpa. Por volta do meio-dia, já chegavam a vários milhares, na maior concentração desde que Zelaya foi deposto e expulso do país.
No início da tarde, a poucas quadras do aeroporto, a marcha foi retida durante cerca de uma hora por uma barreira policial. Após negociações entre os organizadores e as forças de segurança, a marcha foi autorizada a passar, ocupando todas as vias de acesso à pista.
Por volta das 16h, perto do horário previsto para a aterrissagem de Zelaya, manifestantes entraram em confronto com centenas de policiais e militares que faziam a segurança do aeroporto. Houve disparos e uso de gás lacrimogêneo.
Um dos manifestantes morreu no local com um tiro na cabeça. Na confusão, um restaurante de comida rápida foi incendiado.
Por volta das 18h, com a confirmação de que Zelaya não aterrissaria, os milhares de manifestantes deixaram a região do aeroporto, gritando "assassinos, assassinos" aos militares que, portando escudos e armamento pesado, faziam a guarda do aeroporto.


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