São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Após 3 semanas, Israel e Hizbollah pesam perdas e ganhos

DO ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE TEL AVIV

Israel afirma ter destruído praticamente toda a estrutura do Hizbollah, que continua disparando centenas de foguetes contra cidades israelenses. O grupo terrorista garante que sua capacidade de resistir continua quase intacta e que só usou 10% de seu arsenal, mas o Exército israelense avança em território libanês e faz centenas de ataques diariamente. Após mais de três semanas de conflito, a avaliação dos ganhos e perdas varia de um lado para o outro do front. E ganha contornos ainda mais indefinidos quando a frieza dos números dá lugar à interpretação política.
No Líbano, a palavra vitória aparece em praticamente todos os comentários sobre a atuação do Hizbollah nessas três semanas. Mas cidades inteiras foram devastadas, pelo menos 600 pessoas morreram, um quarto da população teve de se deslocar e os prejuízos, calculados por baixo, passam de US$ 2 bilhões. Vitória?
"A avaliação não pode ser puramente militar. As forças são incomparáveis. Do ponto de vista do Hizbollah, vitória é não perder. E resistir três semanas a ataques do Exército mais poderoso da região sem dúvida é uma grande triunfo político para os xiitas, que vai reverberar além das fronteiras do Líbano", diz o analista Helmi Moussa, do jornal "A-Safir", considerado próximo ao grupo xiita.
Moussa prossegue seu raciocínio com uma comparação: "Considerando o poderio militar de um e de outro, pode-se dizer que 90% de vitória para Israel será uma derrota. E 90% de derrota para o Hizbollah será uma vitória."
O jornalista leva em conta em sua análise o mesmo critério de relatividade que o líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah, gosta de usar em seus discursos. "Não importa a profundidade da incursão terrestre do Exército inimigo, ele não alcançará o seu objetivo, que é evitar os disparos de foguetes contra o norte da Palestina ocupada", disse Nasrallah em um de seus pronunciamentos.
"Na batalha terrestre nós estamos em vantagem. Na guerra terrestre o critério é o atrito com o inimigo, não o tamanho do território conquistado", disse Nasrallah. "Nossos métodos não são os de um Exército regular. Definitivamente retomaremos o território."
Em Israel, políticos e analistas reconhecem ser impossível impedir que o Hizbollah dispare foguetes contra o país. A vitória é esperada em termos políticos e estratégicos, e não práticos. O país ainda entende que recebeu apoio da comunidade internacional, e até de países árabes, como Egito e Arábia Saudita, para combater o Hizbollah, mesmo com as imagens de civis mortos no Líbano.
Os aspectos mais importantes para os israelenses são: retirar as bases do grupo de perto de sua fronteira; retomar a ofensiva - após seis anos que considera de passividade diante dos preparativos do Hizbollah no sul do Líbano -; e a dissuasão, ou seja, evitar que outros países abriguem grupos terroristas por medo de uma ofensiva israelense. No Oriente Médio, o forte ataca o mais fraco. Se não o fizer, é considerado um alvo potencial.
"Eles nunca mais poderão ameaçar este país com mísseis", disse o premiê Ehud Olmert. "Podemos dizer com certeza que a face do Oriente Médio já mudou."
As mortes de militares em conflito com uma guerrilha são consideradas "inevitáveis". Na quinta-feira, dia em que Israel sofreu o seu maior número de baixas - 8 civis e 4 soldados -, o comandante-geral das forças terrestres, Beny Gantz, disse em Tel Aviv: "Mesmo no dia mais difícil, é importante lembrar que tivemos sucessos operacionais. As forças operaram bem e mataram dezenas de homens do Hizbollah em combate direto e indireto. Não temos o controle de todo o terreno, mas temos acesso a todos os lugares que quisermos alcançar." (MN e MG)


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