São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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"Não há segredos" sobre bases, dizem EUA

Assessor da Casa Branca reafirma no Brasil que instalações na Colômbia servirão apenas para combate ao narcotráfico

Jim Jones diz que uso de aviões com alta autonomia de voo se deve à distância entre os EUA e a Colômbia, e não para voar pela região


Marcos Bridicci/Reuters
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, após reunião ontem com a argentina Cristina Kirchner, em Buenos Aires


LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Na véspera da chegada do presidente colombiano, Álvaro Uribe, ao Brasil, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general Jim Jones, fez ontem mais uma tentativa de esvaziar a polêmica em torno da ampliação do acordo militar entre os EUA e a Colômbia. "Não há mágica, não há segredos sob a mesa", afirmou, ao fim de uma reunião com o chanceler Celso Amorim no Itamaraty.
Questionado por Amorim sobre o alcance e a autonomia dos aviões americanos que serão destinados a bases militares na Colômbia, Jones insistiu que o objetivo é combater o narcotráfico e justificou que os aviões que podem voar longas distâncias são necessários por causa da distância entre os EUA e a América do Sul.
Depois, dirigindo-se a jornalistas, acrescentou: "Como vocês sabem, vocês estão bastante distantes dos EUA, e as aeronaves que voam até aqui precisam ter longo alcance", afirmou, dizendo que as bases na Colômbia, que podem chegar a sete, irão usar aviões de carga, para transportar pessoas e equipamentos, além de aeronaves de vigilância marítima.
Segundo documento apresentado pela Força Aérea dos EUA num seminário militar em abril, os aviões americanos previstos para a base colombiana de Palanquero, no centro do país, têm um raio de ação muito superior ao necessário para o combate ao narcotráfico.
Jim Jones fez uma descrição técnica dos equipamentos para Amorim e, depois, complementou para a imprensa: "Isso [a ampliação do acordo militar com a Colômbia], novamente, entra no princípio da cooperação com a região para tentarmos fazer algo de bom no combate às drogas no Pacífico. Nós respeitamos a soberania de todos os países e estamos tentando nos engajar em um novo caminho, de forma aberta e transparente".
O general admitiu para o ministro que soube da ampliação do acordo com a Colômbia quando as discussões já estavam em andamento e afirmou que os EUA estão dispostos a prestar esclarecimentos aos países interessados, com envio de equipes técnicas.
Também repetiu a avaliação já feita na véspera de que o anúncio do acordo com a Colômbia foi mal conduzido, assim como o da reativação da Quarta Frota Naval dos EUA para atuar no Atlântico Sul, o que levou a percepções, em sua opinião, equivocadas.
"Se houve erros, foram erros de omissão, não de ação", disse.
Jones também lamentou a Amorim que não tenha havido um aviso prévio para os países da região, o que poderia ter evitado o clima de mal-estar em relação às bases colombianas. Por fim, Amorim também sugeriu a Jones que seja dado "algum tipo de garantia" de que as bases serão utilizadas apenas para o combate ao narcotráfico, como sustentam as duas partes. Não especificou como.
O Brasil cobra mais "transparência", para "distender" as relações, e trata a questão com desconfiança, porque o novo acordo entre os dois países está ligado ao fato de o Equador ter se recusado a renovar a permissão de uso da base de Manta pelos EUA.
Hoje, o tema volta a ser discutido em Brasília, desta vez com Uribe. A previsão é a de que o colombiano fique cerca de duas horas em Brasília, quando se encontrará com o presidente Lula e com Amorim.


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