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"Não há segredos" sobre bases, dizem EUA
Assessor da Casa Branca reafirma no Brasil que instalações na Colômbia servirão apenas para combate ao narcotráfico
Jim Jones diz que uso de aviões com alta autonomia de voo se deve à distância entre os EUA e a Colômbia, e não para voar pela região
Marcos Bridicci/Reuters
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O presidente colombiano, Álvaro Uribe,
após reunião ontem com a argentina
Cristina Kirchner, em Buenos Aires |
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Na véspera da chegada do
presidente colombiano, Álvaro
Uribe, ao Brasil, o assessor de
Segurança Nacional da Casa
Branca, general Jim Jones, fez
ontem mais uma tentativa de
esvaziar a polêmica em torno
da ampliação do acordo militar
entre os EUA e a Colômbia.
"Não há mágica, não há segredos sob a mesa", afirmou, ao
fim de uma reunião com o
chanceler Celso Amorim no
Itamaraty.
Questionado por Amorim sobre o alcance e a autonomia dos
aviões americanos que serão
destinados a bases militares na
Colômbia, Jones insistiu que o
objetivo é combater o narcotráfico e justificou que os aviões
que podem voar longas distâncias são necessários por causa
da distância entre os EUA e a
América do Sul.
Depois, dirigindo-se a jornalistas, acrescentou: "Como vocês sabem, vocês estão bastante
distantes dos EUA, e as aeronaves que voam até aqui precisam
ter longo alcance", afirmou, dizendo que as bases na Colômbia, que podem chegar a sete,
irão usar aviões de carga, para
transportar pessoas e equipamentos, além de aeronaves de
vigilância marítima.
Segundo documento apresentado pela Força Aérea dos
EUA num seminário militar em
abril, os aviões americanos previstos para a base colombiana
de Palanquero, no centro do
país, têm um raio de ação muito
superior ao necessário para o
combate ao narcotráfico.
Jim Jones fez uma descrição
técnica dos equipamentos para
Amorim e, depois, complementou para a imprensa: "Isso [a
ampliação do acordo militar
com a Colômbia], novamente,
entra no princípio da cooperação com a região para tentarmos fazer algo de bom no combate às drogas no Pacífico. Nós
respeitamos a soberania de todos os países e estamos tentando nos engajar em um novo caminho, de forma aberta e transparente".
O general admitiu para o ministro que soube da ampliação
do acordo com a Colômbia
quando as discussões já estavam em andamento e afirmou
que os EUA estão dispostos a
prestar esclarecimentos aos
países interessados, com envio
de equipes técnicas.
Também repetiu a avaliação
já feita na véspera de que o
anúncio do acordo com a Colômbia foi mal conduzido, assim como o da reativação da
Quarta Frota Naval dos EUA
para atuar no Atlântico Sul, o
que levou a percepções, em sua
opinião, equivocadas.
"Se houve erros, foram erros
de omissão, não de ação", disse.
Jones também lamentou a
Amorim que não tenha havido
um aviso prévio para os países
da região, o que poderia ter evitado o clima de mal-estar em
relação às bases colombianas.
Por fim, Amorim também sugeriu a Jones que seja dado "algum tipo de garantia" de que as
bases serão utilizadas apenas
para o combate ao narcotráfico,
como sustentam as duas partes. Não especificou como.
O Brasil cobra mais "transparência", para "distender" as relações, e trata a questão com
desconfiança, porque o novo
acordo entre os dois países está
ligado ao fato de o Equador ter
se recusado a renovar a permissão de uso da base de Manta pelos EUA.
Hoje, o tema volta a ser discutido em Brasília, desta vez
com Uribe. A previsão é a de
que o colombiano fique cerca
de duas horas em Brasília,
quando se encontrará com o
presidente Lula e com Amorim.
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