São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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Americanos ameaçam cortar US$ 25 milhões de Honduras

A despeito das críticas, EUA refutam impor "sanções econômicas sufocantes"

Após supressão de US$ 16 mi em cooperação militar, Washington acena com trava no custeio de programa contra pobreza


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

Em meio a críticas de que deveriam ser mais duros contra o governo interino de Honduras, os EUA planejam cortar mais US$ 25 milhões em assistência caso Manuel Zelaya não seja restituído à Presidência. Mas afirmam que não adotarão "sanções econômicas sufocantes" contra o país.
Em carta ao governo interino de Roberto Micheletti, o governo americano advertiu que cortará a participação de Honduras do programa Corporação Desafio do Milênio (MCC, na sigla em inglês), agência estatal que, desde 2004, financia programas de redução da miséria em alguns dos países mais pobres do mundo.
Em Honduras, o eventual corte significará a perda de 10% dos US$ 250 milhões previstos para serem gastos até 2010 -o restante já foi desembolsado ou está contratado.
O principal projeto envolvendo a MCC envolve obras de reparação e ampliação da estrada CA-5 norte. Considerada a mais importante do país, une Tegucigalpa ao Porto Cortés, o segundo mais movimentado da América Central.
Desde o início da crise, no final de junho, o governo americano vem congelando programas de assistência. A ajuda mais onerosa interrompida até agora é a de cooperação militar, de US$ 16,5 milhões.
Washington também se recusa a conceder vistos diplomáticos a membros do governo interino, embora não tenha proibido viagens dessas pessoas com visto de turismo.
Por outro lado, o governo Barack Obama tem resistido a adotar medidas mais duras contra Honduras, o terceiro país mais pobre das Américas, cuja economia é extremamente dependente dos EUA.
"Honduras, com tudo que os golpistas dizem, não depende de Caracas. Honduras depende de Washington. Basta os EUA fazerem assim com as mãos [fecha o punho], e esse golpe dura cinco segundos", disse Zelaya à CNN anteontem.
Os americanos compram 40,6% das exportações hondurenhas. Além disso, 25% do PIB do país vem das remessas de imigrantes no exterior, dos quais 90% têm origem nos EUA. O montante, US$ 2,3 bilhões no ano passado, é maior do que toda a assistência internacional e o investimento externo no mesmo período.
O governo Obama, no entanto, não parece disposto a tomar medidas que afetem exportações ou remessas de imigrantes, segundo uma carta do Departamento de Estado enviada anteontem ao senador republicano Richard Lugar -que travara a confirmação de Arturo Valenzuela para o posto de número um do Departamento de Estado para a América Latina.
"Temos rechaçado pleitos por sanções econômicas sufocantes e temos deixado claro que todos os países devem buscar facilitar a solução sem incentivo à violência e com respeito ao princípio da não intervenção", diz a carta, revelada ontem pela agência Reuters.
Fontes diplomáticas ouvidas pela reportagem afirmam que o governo Obama tampouco decidiu se deixará de reconhecer as eleições presidenciais de novembro mesmo sem o retorno de Zelaya à Presidência.

Confronto
Manifestantes pró-Zelaya e policiais entraram em confronto ontem na região da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (Unah), a mais importante do país. Imagens de TV mostraram um estudante e um repórter fotográfico sendo agredidos com cassetetes, mas não houve registro de feridos com maior gravidade.
Desde ontem, os seguidores do presidente deposto planejam concentrar as manifestações diárias em Tegucigalpa e em San Pedro Sula, as principais cidades de Honduras.


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