São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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Sob boicote, Ahmadinejad inicia 2º mandato

Cerimônia de posse do presidente do Irã, reeleito em contestado pleito de junho, não teve a presença de dois ex-presidentes

Mandatário evitou abordar polêmicas internas, porém reafirmou posição externa; ao menos 10 foram detidos em manifestações no local


DA REDAÇÃO

Em uma cerimônia no Parlamento boicotada pelos principais líderes opositores e em meio a novos protestos nas ruas da capital, Teerã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad foi empossado ontem para seu segundo mandato à frente da Presidência do Irã.
A posse do presidente, que fora eleito pela primeira vez em 2005, ocorre quase dois meses após o controverso pleito que o reelegeu, em 12 de junho. Acusações de fraude deflagraram a maior onda de protestos contra o regime teocrático desde a revolução de 1979, deixando pelo menos 20 mortos.
Em seu discurso, Ahmadinejad procurou evitar polêmicas com as duas frentes internas de atrito -além da oposição, o presidente é alvo de críticas de conservadores pela recente escolha de um vice-presidente que acenara a Israel, depois revogada-, mas reafirmou a posição do país no plano externo.
Ahmadinejad defendeu que o Irã "exerça papel central no gerenciamento do mundo" e disse que "não serão tolerados interferência, insultos e desrespeito". A relação de Teerã com o Ocidente é marcada pela polêmica em torno de seu programa nuclear, suspeito de visar a bomba atômica. O Irã nega.
O presidente referiu-se também ao fato de EUA, Reino Unido, França, Alemanha e Itália não terem reconhecido sua reeleição e nem o cumprimentado pela posse. "Alguns países não respeitam os direitos de outras nações. [Mas] ninguém no Irã está esperando pelos cumprimentos de quaisquer países."
No Quênia, primeira escala de seu giro pela África, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que "a pessoa empossada hoje [ontem] será considerada presidente. Mas apreciamos e admiramos a resistência e os esforços dos reformistas em busca da mudanças de que o Irã necessita".
Desde que assumiu, o presidente americano, Barack Obama, fez vários acenos ao regime islâmico -inclusive uma mensagem no Ano-Novo local- no sentido de abrir diálogo sobre o programa nuclear do país. O prazo informalmente estabelecido para que a abertura diplomática de Washington seja respondida por Teerã é setembro.

Boicote
Não compareceram à cerimônia os ex-presidentes Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-97) e Mohammad Khatami (1997-2005) -mais importantes apoiadores do principal candidato reformista derrotado, Mir Hossein Mousavi- nem a maioria dos 70 parlamentares reformistas.
No pleito de junho, Mousavi obteve 33% dos votos, contra os 63% de Ahmadinejad, que detém o apoio do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
Segundo testemunhas, centenas de pessoas tentaram realizar manifestações no entorno do Parlamento gritando "morte ao ditador", mas foram reprimidas pelos cerca de 5.000 membros de forças de segurança deslocados para o local.
Ao menos dez manifestantes foram detidos, ainda segundo testemunhas. Vários dos opositores estavam vestidos de preto, sinal de luto, e verde, símbolo da campanha de Mousavi.
Durante os protestos que se seguiram à reeleição de Ahmadinejad, centenas de pessoas foram detidas. No último sábado, teve início um julgamento conjunto de cerca de cem delas -inclusive o clérigo Mohammad Abtahi, que foi o vice-presidente de Khatami- sob acusação de incitar os protestos.

Com agências internacionais



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