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Irã já afeta laços comerciais Brasil-EUA
Acordo nuclear com Teerã, em maio, cria rusgas e ameaça provocar retaliações por parte de governo e lobistas
Áreas mais visadas por Washington são a manutenção de tarifa ao etanol e benefícios para produtos brasileiros
DA REUTERS
A deterioração nas relações entre Brasil e EUA em
meio a divergências quanto à
questão iraniana começa a
ameaçar os laços comerciais
bilaterais.
Autoridades brasileiras
queixam-se privadamente de
que seu esforço, em maio,
para mediar um acordo nuclear foi descartado, com
pouco caso ao status do Brasil como potência emergente.
Enquanto isso, Washington se irrita com a interferência em tema que julga uma
das maiores ameaças de longo prazo à segurança global.
O que mais preocupa investidores agora é o risco real
de uma rusga de longo prazo
que pode afetar negativamente os negócios bilaterais.
"Me preocupa", disse o representante (deputado) democrata Eliot Engel, presidente do subcomitê de Relações Exteriores da Câmara
dos EUA. "Acho que a política de Lula [almeja] separar os
países. Ele quer que os EUA
tenham menos influência."
Uma importante fonte em
Brasília disse que hoje "estão
no freezer" os laços bilaterais
-já danificados por tensões
como a disputa sobre subsídios americanos ao algodão,
as diferenças de opinião
quanto ao desfecho do golpe
de Estado em Honduras e o
resultado decepcionante da
cúpula climática de Copenhague, em dezembro.
"DECEPÇÃO"
Diplomatas dos dois lados
mantêm contatos regulares,
e o fluxo de investimento
mútuo está em alta. Mas há
sinais de que a rusga começa
a afetar os negócios, a saber:
1) Lobistas em prol do uso
de etanol de milho, produzido nos EUA, usam a questão
iraniana para reivindicar a
manutenção das tarifas à importação do etanol brasileiro.
2) Está empacado o diálogo pelo acordo de comércio e
investimentos (TIFA). Uma
fonte diz que o atraso é a "primeira vítima fatal" da disputa em torno do Irã.
3) Alguns itens correm o
risco de serem removidos pelo Congresso de um programa de tarifas preferenciais
que, hoje, permite a exportação de US$ 3 bilhões em produtos brasileiros aos EUA.
Arturo Valenzuela, o mais
alto diplomata do governo
Obama para a América Latina, nega que o Irã afete os laços entre EUA e Brasil.
"Nossa decepção com esse
assunto em particular não
nos impedirá de trabalhar
juntos em numerosos e significativos temas de interesse
mútuo", disse por e-mail.
Já Steven Bipes, diretor-executivo da seção americana no Brazil-U.S. Business
Council, se disse "frustrado".
Do lado brasileiro, não há
sinais de retaliação, mas sim
indicações de um desvio de
atenções -dos EUA para a
China. Empresas americanas
já perderam fatias de mercado no Brasil nos últimos
anos, e, em 2009, a China suplantou os EUA como maior
parceiro comercial do Brasil.
Mark Smith, ex-diretor da
Câmara de Comércio americana, disse que os temores
sobre a queda da influência
americana no Brasil são exagerados. Diz que a China
compra sobretudo commodities, enquanto os EUA adquirem produtos com valor agregado do Brasil.
"Quanta influência você
pode obter comprando minério de ferro?", questionou.
"Importamos aviões e serviços. É aí que está o futuro."
REAÇÃO
O Itamaraty disse ontem,
por meio de sua assessoria de
imprensa, que, na visão do
governo brasileiro, "a posição adotada em relação ao
Irã não prejudica ou ameaça
o comércio com os EUA".
Colaborou a Sucursal de Brasília
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