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"Pressão no Irã é insuportável", afirma o advogado de Sakineh
Defensor de "adúltera" condenada a morrer apedrejada agradece a Lula pela oferta de asilo
Da Turquia, onde busca asilo, iraniano diz que sua mulher, presa desde o dia 24, é uma "refém" das autoridades do país
Arquivo pessoal
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O advogado, foragido do Irã
GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO
Notório defensor dos direitos humanos no Irã, o advogado Mohammad Mostafaei,
36, fugiu do país na semana
passada depois de ser interrogado e de ter a mulher e o
sogro presos.
Na Turquia, Mostafaei foi
levado à cadeia pelas autoridades. Da prisão em Istambul ele falou à Folha, por telefone. "Tenho muito amor
pelo Irã e pelo meu trabalho.
Infelizmente, a pressão que
sofro é insuportável", disse.
Mostafaei tem sido especialmente incômodo ao regime dos aiatolás pela defesa
de Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento pelo "crime" de adultério e atual pivô de campanha global por sua soltura.
Folha - Quando você concluiu
que precisava fugir do Irã?
Mohammad Mostafaei - Há
mais de dois anos, sofro uma
pressão muito grande. Meus
casos tinham importância internacional, sendo o mais recente o de Sakineh. A gota
d'água foi pegarem como reféns minha mulher e seu pai.
Tenho muito amor pelo Irã
e pelo meu trabalho. Posso
dizer que já ajudei a salvar a
vida de mais de 50 pessoas.
Eu quero atuar no Irã, mas,
infelizmente, a pressão que
sofro é insuportável.
Qual é a situação de sua mulher [que segue presa] e filha?
Minha mulher está em
uma solitária há 12 dias, na
cela 209 da prisão de Evin.
Minha mulher não cometeu
nenhum crime e está numa
situação muito difícil. Minha
filha, agora, não tem a atenção nem do pai nem da mãe.
E sua fuga do Irã, como foi?
Como você chegou à Turquia?
Depois que eu decidi abandonar o Irã, soube que havia
um alerta às fronteiras e aeroportos para me prenderem.
Fui à fronteira de carro e andei duas horas até chegar à
Turquia. Paguei para ir de cavalo a uma cidadezinha e, de
carro, fui a Van. Lá informei
as autoridades.
E você foi preso?
Estou sob custódia por
questão de segurança. Eles
disseram: "Vamos ter de tomar conta de você". Mas é como se estivesse preso. Esse
telefone que eu estou usando
entrou de forma clandestina.
Houve ofertas de asilo?
Muitos países europeus já
mandaram representantes. A
chance maior é de ir à Noruega. Mas devo ficar mais quatro ou cinco dias aqui.
Qual é a situação de Sakineh?
Primeiro eu gostaria de
agradecer ao presidente do
Brasil pela intenção de proteger a minha cliente ao anunciar que aceitaria o seu asilo.
Essa atitude humanitária deveria ser repetida por todos
os países e todos os chefes de
Estado do mundo.
Quando o presidente fez o
convite, repercutiu no mundo inteiro. E deu forças para
Sakineh e sua família. Permitiu que ela aguentasse melhor essa provação.
Ela cometeu algum crime?
Ela não cometeu crime nenhum. O caso não tem nada a
ver com as acusações feitas a
ela. Os filhos cuidam do bem-estar dela. Se tivesse havido
crime [participar da morte do
marido], os filhos seriam os
primeiros a se manifestar.
Para provar adultério, precisam existir testemunhas de
quatro ocasiões [relações sexuais] ou quatro testemunhas de uma mesma ocasião.
E não há testemunha. Esta é
a maior prova de que o processo não está correto.
O que acontecerá com ela?
Por enquanto, é incerto,
mas, por sua exposição, não
acredito que será executada,
muito menos apedrejada.
Tradução de FLAVIO AZM RASSEKH
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