São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2006

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Calderón é declarado vencedor no México

Decisão da Justiça põe fim a dois meses de batalha judicial; desafio para o novo presidente será reconciliação do país

Juízes eleitorais concluem por unanimidade que não houve fraude na votação de 2 de julho; López Obrador não reconhece a decisão


Henry Romero/Reuters
Felipe Calderón, ex-Ministro da Energia de Fox, e sua esposa, a ex-deputada Margarita Zavala, comemoram decisão judicial


RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O conservador Felipe Calderón foi proclamado ontem o novo presidente do México pelo Tribunal Federal Eleitoral, depois de dois meses da batalha judicial sobre o resultado da eleição de 2 de julho.
Os sete juízes do tribunal decidiram por unanimidade que não houve fraude na eleição. Calderón foi eleito por apenas 233 mil votos de vantagem sobre o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, com 14.916.927 votos (Obrador obteve 14.683.096).
Na noite de ontem, o candidato derrotado afirmou que rejeita a a decisão da Justiça. "Desconheço quem pretende se ostentar como presidente. Constituiremos um governo legítimo para refundar a república", disse Obrador.
O resultado mostra o México dividido. Calderón venceu nas classes alta e média e no norte mais desenvolvido do país, enquanto Obrador ganhou na classe baixa e no miserável sul mexicano. "Chegou a hora da unidade e dos acordos. Quero incorporar as propostas mais valiosas da oposição", disse ontem o conservador.
Os juízes criticaram Fox por quebrar a neutralidade presidencial e fazer declarações pró-Calderón durante a campanha, mas disseram que sua intervenção não era razão para se anular o resultado.
A campanha do vencedor, candidato do presidente Vicente Fox, concentrou-se na defesa da manutenção da estabilidade econômica e na promessa de mais reformas econômicas.
Além de aproveitar a enorme popularidade de Fox, de 60%, Calderón investiu pesado na campanha negativa contra López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México.
Comparou-o a Chávez e disse que sua vitória seria um "perigo para o México", com o retorno da inflação e o descontrole da dívida externa.
Calderón também recebeu ajuda explícita da maior associação empresarial mexicana, que pagou anúncios na tevê, e da poderosa Televisa, a maior rede de televisão mexicana.
Na novela "A feia mais bela", versão local do sucesso colombiano "Betty, a Feia", personagens defenderam o voto em Calderón.
Calderón enfrentará diversos desafios, além de ter que contornar a forte polarização do país. Com exceção de 2006, onde o crescimento do PIB deve superar a taxa de 4,5%, o crescimento nos seis anos do governo Fox foi medíocre.
Mais de 45 dos 105 milhões de mexicanos são pobres. Mais de 400.000 imigram todos os anos para os Estados Unidos atrás de melhores salários e condições de vida.

Perfil do vencedor
Advogado e economista, Calderón era desconhecido da maioria dos mexicanos até o final de 2005, quando venceu a disputa interna no Partido da Ação Nacional (PAN).
Aos 44 anos, com mestrado em Administração Pública por Harvard, sua experiência administrativa no governo se resume a oito meses como ministro da Energia e nove meses como diretor de um banco estatal.
De família de classe média, casado, com três filhos, sua maior experiência vem dos bastidores da política mexicana. Seu pai foi um dos fundadores do PAN, e ele presidiu o partido nos anos 90, antes do partido conseguir dar fim a 71 anos de hegemonia do Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Muito conservador, ele recebeu o apoio do ex-premiê espanhol José María Aznar na campanha, grande interlocutor do presidente americano George W. Bush, que deve ter comemorado a escolha de um aliado no vizinho do sul.
Católico de ir à missa todas as semanas, Felipe de Jesus Calderón Hinojosa se manifestou contrário à união civil de homossexuais, ao aborto e até contra a pílula anticoncepcional conhecida como "do dia seguinte", distribuída pelos hospitais públicos mexicanos.


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