|
Texto Anterior | Índice
Argentina derruba indulto de líder do golpe militar
Jorge Videla, que governou o país de 76 a 81, poderá ser julgado por seqüestros
Decisão, que ainda será
apreciada por três cortes, sai
um dia depois da anulação
dos perdões concedidos sob
Menem a dois ex-ministros
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Um dia depois de declarar inconstitucionais os indultos
concedidos pelo ex-presidente
Carlos Menem a dois ex-ministros de Estado da última ditadura militar, a Justiça argentina fez o mesmo com o benefício
de que gozava o ex-ditador Jorge Rafael Videla, 81, que liderou
o golpe militar e comandou a
Argentina de 1976 a 1981.
Trata-se de decisão em primeira instância, que ainda será
apreciada por outras três cortes
até que se torne definitiva. Outros indultos já foram anulados
no país, mas nenhum até agora
foi apreciado por mais de duas
instâncias. O processo mais importante de anulação é o dos
crimes relacionados à Esma
(Escola de Mecânica da Armada), a maior prisão ilegal da ditadura.
Videla, assim como os ex-ministros José Alfredo Martínez
de Hoz, 81, e Albano Harguindeguy, 79, poderá agora ser
condenado e punido pelo seqüestro de dois empresários
em 1976.
Federico Gutheim e seu filho
Miguel Ernesto ficaram cinco
meses em poder do governo,
durante a gestão de Videla. O
objetivo era pressioná-los a
aceitar um contrato de exportação para sua empresa, uma
produtora de algodão, beneficiando o Ministério da Economia (então comandado por
Martínez de Hoz) em um negócio em Hong Kong. Os empresários processaram o Estado
argentino, e foram indenizados
em US$ 16 mil em 1990.
"Um olho só"
Videla cumpre prisão domiciliar preventiva determinada
em processo em que é apontado como o maior responsável
no país pela "Operação Condor" -coordenação entre os
serviços de inteligência das ditaduras sul-americanas nos
anos 70 e 80 para perseguir supostos opositores.
Martínez de Hoz também foi
processado por sua atuação como ministro na contratação da
dívida externa argentina, que
quadruplicou em sua gestão.
Seu filho, José Alfredo Martínez de Hoz, disse que o pai não
pediu para ser indultado. Segundo ele, "hoje a Justiça argentina não é independente" e
"enxerga com um olho só", sugerindo que o governo Néstor
Kirchner influenciou a decisão.
A revisão da constitucionalidade dos indultos foi pedida
formalmente pelo governo. Em
24 de março, em ato de repúdio
pelo aniversário de 30 anos do
golpe militar, Kirchner anunciou que faria o pedido.
Em 1989 e 1990, Menem concedeu o indulto a 289 pessoas
-65 delas eram acusadas de
subversão contra a ditadura; as
demais integravam o regime.
Os indultos foram uma ampliação do perdão dado no governo do presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), com as chamadas "leis do perdão". Aprovadas em 1986 e 1987, as duas
normas livraram de processos
cerca de 2.000 pessoas, entre
civis e militares, e definiram
que militares e policiais abaixo
do cargo de coronel só cumpriam ordens ao violar direitos
humanos na ditadura.
Texto Anterior: Cuba: 18 kg mais magro, Fidel diz que "momento crítico" passou Índice
|