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Acuado depois de nove meses, Obama prepara contragolpe
Em queda nas pesquisas, presidente vai a Congresso defender polêmico plano para saúde e relançar plataforma de mudanças
Democrata iniciou mandato com remissões a Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt; hoje, é comparado a Jimmy Carter e Lyndon Johnson
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Nas semanas logo após a posse, em janeiro, com a popularidade acima dos 70 pontos, o
presidente Barack Obama era
comparado ora ao republicano
Abraham Lincoln, ora ao democrata Franklin Roosevelt.
Seu mandato pós-racial e bipartidário unificaria o país, como fez o primeiro. Suas medidas de intervenção no mercado
tirariam a economia da recessão, tal qual o segundo.
Hoje, nove meses depois,
com o índice ameaçando baixar
dos 50 pontos, a economia estabilizada, mas em baixa, a reforma de saúde empacada no
Congresso e a chamada "guerra
justa", do Afeganistão, perdendo apoio popular, o nome de
Obama evoca o de outros dois
presidentes: Lyndon Johnson,
que assumiu após o assassinato
de John Kennedy, em 1963, e
Jimmy Carter, o antepenúltimo democrata na Casa Branca.
Segundo essa corrente, o
conflito afegão seria o que o do
Vietnã foi para Johnson, uma
guerra herdada, contra um inimigo invencível. Já a analogia
com Carter vem do fato de o sulista ter sido eleito com a plataforma da mudança, que conquistou um país traumatizado
pelos escândalos do governo
Richard Nixon (1969-1974).
Uma vez na Casa Branca, no
entanto, revelou-se na prática
que seu projeto ia pouco além
disso -de encarnar uma grande mudança em relação aos antecessores.
"E qual é a ideia central da
Presidência de Obama?", pergunta-se o articulista Richard
Cohen. "É o próprio Obama."
Outro conservador, Charles
Krauthammer, vai mais longe:
"Para um homem que até recentemente nutria um culto, a
normalidade é uma grande aflição e, para seus acólitos, uma
grande decepção. Obama virou
um político como os outros".
Os tiros da direita eram esperados -e o Partido Republicano, que parecia ir rumo à irrelevância, reencontrou o vigor na
queda obamista. O problema é
que os independentes, historicamente o fiel da balança, começam a abandonar o barco.
Segundo levantamento do
Gallup, 48% dos que não se definem nem como democratas
nem como republicanos ainda
apoiam Obama, ante pico de
quase 70% em maio.
Desde os anos 60, só outro
presidente caiu tanto em tão
pouco tempo: o republicano
Gerald Ford (1974-1977), após
perdoar o antecessor Nixon.
É sobretudo para tentar estancar esse escoamento que
Obama se dirige ao Congresso
na quarta-feira. O procedimento é raro: a última vez em que
um presidente foi uma segunda
vez no mesmo ano ao Legislativo, além do tradicional discurso de janeiro, foi em 2003, primeiro ano da Guerra do Iraque.
Na sessão, que terá transmissão ao vivo em horário nobre, o
presidente pedirá que os políticos cheguem logo a um acordo
e votem rapidamente a reforma
do sistema de saúde. Segundo
seus assessores, Obama não
apresentará um projeto, evitando repetir erro de Bill Clinton, que canalizou para si todas
as posições contrárias à reforma. Mas deixará claro os pontos que acha inegociáveis.
Aqui, o objetivo é não assustar os democratas conservadores, sobretudo os que concorrem à reeleição em 2010, quando parte do Congresso será renovada. Ele não pode também
alienar sua base progressista,
que já pede que não "traia" o
plano inicial, considerado socializante demais, pois prevê
seguro universal e obrigatório.
Nos dias seguintes, deve
anunciar a nova fase de sua estratégia para o Afeganistão. O
governo está dividido quanto a
uma escalada. Teme-se que o
aumento do número de soldados caracterize a presença
americana como "ocupação". O
vice-presidente Joe Biden é
contra o aumento de tropas,
hoje em torno de 68 mil.
O secretário da Defesa, Robert Gates, está em cima do
muro. Outros pedem a retirada
completa. Aqui, Obama tem
apoio dos republicanos mais linha-dura, para quem retroceder passaria a mensagem errada aos terroristas e ao mundo.
"Estamos entrando numa
nova temporada", disse David
Axelrod, assessor sênior de
Obama. "É hora de harmonizar
todas as tendências. Temos
confiança de que conseguiremos, mas obviamente é uma fase diferente. Vamos enfocá-la
de forma diferente. O presidente estará muito ativo."
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