São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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Acuado depois de nove meses, Obama prepara contragolpe

Em queda nas pesquisas, presidente vai a Congresso defender polêmico plano para saúde e relançar plataforma de mudanças

Democrata iniciou mandato com remissões a Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt; hoje, é comparado a Jimmy Carter e Lyndon Johnson

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Nas semanas logo após a posse, em janeiro, com a popularidade acima dos 70 pontos, o presidente Barack Obama era comparado ora ao republicano Abraham Lincoln, ora ao democrata Franklin Roosevelt. Seu mandato pós-racial e bipartidário unificaria o país, como fez o primeiro. Suas medidas de intervenção no mercado tirariam a economia da recessão, tal qual o segundo.
Hoje, nove meses depois, com o índice ameaçando baixar dos 50 pontos, a economia estabilizada, mas em baixa, a reforma de saúde empacada no Congresso e a chamada "guerra justa", do Afeganistão, perdendo apoio popular, o nome de Obama evoca o de outros dois presidentes: Lyndon Johnson, que assumiu após o assassinato de John Kennedy, em 1963, e Jimmy Carter, o antepenúltimo democrata na Casa Branca.
Segundo essa corrente, o conflito afegão seria o que o do Vietnã foi para Johnson, uma guerra herdada, contra um inimigo invencível. Já a analogia com Carter vem do fato de o sulista ter sido eleito com a plataforma da mudança, que conquistou um país traumatizado pelos escândalos do governo Richard Nixon (1969-1974). Uma vez na Casa Branca, no entanto, revelou-se na prática que seu projeto ia pouco além disso -de encarnar uma grande mudança em relação aos antecessores.
"E qual é a ideia central da Presidência de Obama?", pergunta-se o articulista Richard Cohen. "É o próprio Obama." Outro conservador, Charles Krauthammer, vai mais longe: "Para um homem que até recentemente nutria um culto, a normalidade é uma grande aflição e, para seus acólitos, uma grande decepção. Obama virou um político como os outros".
Os tiros da direita eram esperados -e o Partido Republicano, que parecia ir rumo à irrelevância, reencontrou o vigor na queda obamista. O problema é que os independentes, historicamente o fiel da balança, começam a abandonar o barco.
Segundo levantamento do Gallup, 48% dos que não se definem nem como democratas nem como republicanos ainda apoiam Obama, ante pico de quase 70% em maio.
Desde os anos 60, só outro presidente caiu tanto em tão pouco tempo: o republicano Gerald Ford (1974-1977), após perdoar o antecessor Nixon.
É sobretudo para tentar estancar esse escoamento que Obama se dirige ao Congresso na quarta-feira. O procedimento é raro: a última vez em que um presidente foi uma segunda vez no mesmo ano ao Legislativo, além do tradicional discurso de janeiro, foi em 2003, primeiro ano da Guerra do Iraque.
Na sessão, que terá transmissão ao vivo em horário nobre, o presidente pedirá que os políticos cheguem logo a um acordo e votem rapidamente a reforma do sistema de saúde. Segundo seus assessores, Obama não apresentará um projeto, evitando repetir erro de Bill Clinton, que canalizou para si todas as posições contrárias à reforma. Mas deixará claro os pontos que acha inegociáveis.
Aqui, o objetivo é não assustar os democratas conservadores, sobretudo os que concorrem à reeleição em 2010, quando parte do Congresso será renovada. Ele não pode também alienar sua base progressista, que já pede que não "traia" o plano inicial, considerado socializante demais, pois prevê seguro universal e obrigatório.
Nos dias seguintes, deve anunciar a nova fase de sua estratégia para o Afeganistão. O governo está dividido quanto a uma escalada. Teme-se que o aumento do número de soldados caracterize a presença americana como "ocupação". O vice-presidente Joe Biden é contra o aumento de tropas, hoje em torno de 68 mil.
O secretário da Defesa, Robert Gates, está em cima do muro. Outros pedem a retirada completa. Aqui, Obama tem apoio dos republicanos mais linha-dura, para quem retroceder passaria a mensagem errada aos terroristas e ao mundo.
"Estamos entrando numa nova temporada", disse David Axelrod, assessor sênior de Obama. "É hora de harmonizar todas as tendências. Temos confiança de que conseguiremos, mas obviamente é uma fase diferente. Vamos enfocá-la de forma diferente. O presidente estará muito ativo."


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