São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2011

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11/9/2001
O DIA QUE MARCOU UMA DÉCADA


China sai vencedora, mas futuro é incerto

Em dez anos, país triplicou peso no PIB global, sugando a dívida emitida pelos EUA para financiar duas guerras

Coesão, desigualdade e resistência de vizinhos são obstáculos à força do país, que tem 9,3% da economia mundial

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Entre 2001 e este ano, enquanto os EUA travavam a "guerra ao terror", a China passou de sexta a segunda maior economia do mundo. Seu peso na produção global quase triplicou, de 3,7% para 9,3%; o dos EUA caiu de 31% para 23%.
Enquanto os americanos ocupavam Iraque e Afeganistão, a China sugava a dívida emitida por Washington. Produtos chineses ajudaram a manter baixa a inflação nos EUA, que cresciam até 2008 sustentados em uma bolha de crédito.
Depois que a China entrou na Organização Mundial do Comércio, em 2001, seu superavit comercial com os EUA aumentou 230%, embora parte dele deva-se a vendas de empresas americanas em território chinês.
Salvo uma catástrofe, em algum momento até 2030 o PIB da China ultrapassará o dos EUA, mas sua renda per capita ainda equivalerá a um quarto da americana.
Os dados acima reforçam a conclusão de que a China emergiu como vencedora da década pós-11 de Setembro. Ao mesmo tempo, embasam prognósticos divergentes sobre o significado disso no resto deste século.
"O abraço econômico de EUA e China impede medidas radicais. A China se beneficiou da ordem criada pelos ocidentais e preza o status quo. Em curto e médio prazo, não tentará derrubar o sistema", diz Oliver Stuenkel, professor da FGV-SP.
Nas projeções de longo prazo, a maioria dos analistas é mais cautelosa do que Arvind Subramanian, do Instituto Peterson de Economia Internacional: na "Foreign Affairs", previu que em duas décadas o mundo não será multipolar, mas "quase unipolar, dominado pela China".
Na mesma revista, o sinólogo Andrew Nathan (Universidade Columbia), lista obstáculos à ascensão chinesa. A potência asiática devota "enormes recursos" a evitar a independência de Taiwan e a manter a coesão interna, incluindo nas províncias de Xinjiang e do Tibete, que formam quase metade do território e são habitadas por minorias étnico-religiosas.
No entorno, estão países instáveis como Mianmar e Coreia do Norte. Outros -Índia, Japão, Vietnã- são beneficiados pelo crescimento econômico chinês mas não estão dispostos a conceder a Pequim a primazia militar ou política regional. "A China enfrenta obstáculos que os EUA nunca enfrentaram na própria região", afirma Stuenkel.

MILITARES
A China vem aumentando os gastos militares, mas eles são ainda 7,3% de um total mundial em que os EUA entram com 43%. Ficou mais dura sobre as disputas marítimas e acaba de lançar seu primeiro porta-aviões.
Os EUA, porém, têm 11 navios do tipo e constroem dois. Mantêm o domínio militar na Ásia, com 100 mil soldados só no Japão e Coreia do Sul.
"Quanto mais a China ascender, mais seus vizinhos tenderão a contrabalançar aproximando-se dos EUA", escreve Nathan. A prudência dá o tom de um relatório recente do Banco de Desenvolvimento Asiático sobre a possibilidade de que a região represente, em 2050, mais da metade da economia mundial.
Nos "múltiplos riscos" a serem gerenciados por China e outros emergentes asiáticos, o banco inclui as crescentes desigualdades internas e a transição de um modelo de crescimento movido a capital e mão de obra abundantes para outro baseado no aumento da produtividade, via avanços tecnológicos.
Para a corrente majoritária nos EUA, o país deterá o avanço chinês se impedir o próprio declínio.


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