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Presença da Al Qaeda é recente e modesta na região
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A rede terrorista Al Qaeda tem
uma participação modesta no
conflito no Cáucaso, mas a causa
tchetchena é bem anterior a ela,
não tendo, em princípio, uma
verdadeira ligação com o terrorismo internacional, de acordo com
analistas ouvidos pela Folha.
Desde o 11 de Setembro, o presidente Vladimir Putin vem associando os guerrilheiros tchetchenos a terroristas internacionais, o
que lhe proporcionou mais margem de manobra para tentar aniquilar o levante manu militari.
"Não há um número elevado de
membros da Al Qaeda na Tchetchênia, talvez apenas algumas dezenas. Existe, entretanto, uma ligação difusa entre a causa tchetchena e a rede terrorista, uma espécie de comunhão de objetivos:
derrotar Moscou e fundar um Estado muçulmano independente",
apontou Mark Kramer, da Universidade Harvard (EUA).
Contudo, como salientou o especialista em questões russas, trata-se de algo que não existia durante o primeiro conflito recente
na república secessionista. "A situação era diferente no princípio
da resistência tchetchena, entre
1994 e 1996. À época, os grupos
que lutavam contra a Rússia tinham pouca ligação com o extremismo islâmico", disse Kramer.
De acordo com Andrew Bennett, da Universidade de Georgetown, a mistura de objetivos políticos com o radicalismo religioso
se deu gradualmente. "Trata-se
de mais um efeito nefasto da ação
russa na Tchetchênia. Moscou radicalizou primeiro ao enviar milhares de soldados para pôr fim à
insurgência", explicou Bennett.
O componente religioso começou a ganhar força na região durante o intervalo entre as duas
guerra recentes, entre agosto de
1996 e agosto de 1999. E, segundo
Kramer, os líderes políticos tchetchenos também são responsáveis
por esse fenômeno.
"Eles não conseguiram criar
condições para que a Tchetchênia
se tornasse um local habitável
nesses três anos, não souberam
aproveitar essa oportunidade. Por
outro lado, a falta de vontade russa de ajudar financeiramente na
reconstrução das cidades tchetchenas e de dar apoio aos legítimos líderes locais complicou bastante a situação", avaliou Kramer.
Com isso, houve uma combinação que abriu caminho para a radicalização do conflito, e alguns
grupos optaram pelo extremismo
islâmico. Em seguida, pessoas ligadas à Al Qaeda passaram a operar no Cáucaso. "Logicamente, a
rede percebeu a oportunidade
que se apresentava e aproveitou-a", afirmou Kramer.
O presidente eleito pelos tchetchenos em 1997, Aslan Maskhadov, que não é reconhecido por
Moscou, nega ter envolvimento
com o terrorismo internacional
ou com a Al Qaeda, mas, segundo
Kramer, ele já teve contato com
grupos ligados à rede. "Por menor
que seja, a ligação dos insurretos
com terroristas é preocupante,
visto que tende a macular o que
era uma luta legítima dos tchetchenos contra a ocupação russa."
Por conta de tudo isso, Putin
descarta a possibilidade de negociar com os rebeldes, embora a
população russa já comece a cansar-se do conflito e a dar-se conta
de que uma solução negociada é
necessária. Afinal, tendo ou não
um elo com uma rede internacional, os guerrilheiros fazem uso do
terrorismo para chamar a atenção
mundial para sua causa.
A Rússia, porém, recusa-se a negociar, tratando todos os tchetchenos como terroristas e colocando pessoas sem legitimidade
no poder na república separatista,
para consolidar seu controle sobre ela. Assim, o Ocidente deve
pressionar Putin a encontrar parceiros para negociar, pois Maskhadov não é visto por Moscou
como um interlocutor palatável.
Além disso, o pretexto de que a
independência ou uma maior autonomia da Tchetchênia poderia
provocar um efeito dominó na região é refutado pela maioria dos
especialistas. "A Tchetchênia é
um caso único. Os habitantes do
vizinho Daguestão não têm interesse em tornar-se independentes, preferem que os russos os
protejam de militantes islâmicos
tchetchenos ou de outras regiões", analisou Kramer.
"Outras repúblicas russas já
conseguiram resolver o problema
da autonomia de modo pacífico.
O Tatarstão, também de maioria
muçulmana, é um ótimo exemplo, pois prosperou dentro da federação desde o colapso da União
Soviética, em 1991", indicou James Critchlow, autor de "Nationalism in Uzbekistan" (nacionalismo no Uzbequistão).
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