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Confronto mata 12 mineiros na Bolívia
Disputa por jazida de estanho deixa ao menos 57 feridos; Morales aciona Exército e acusa a oposição de envolvimento
Enfrentamento acontece em momento de crescentes tensões políticas e sociais
no país; região é reduto eleitoral do presidente
DA REPORTAGEM LOCAL
Um violento confronto entre
mineiros empregados pelo Estado e mineiros independentes
em torno do acesso a uma mina
de estanho deixou ao menos 12
mortos e 57 feridos ontem em
Huanuni, no altiplano boliviano, a cerca de 280 km da capital, La Paz.
O governo reconheceu a
morte de 12 mineiros, e enquanto a Federação Sindical
dos Trabalhadores Mineiros da
Bolívia (FSTMB) informou o
nome de oito mortos, entre mineiros e um policial. Segundo
relatos da imprensa boliviana, a
situação só foi controlada à tarde, com a intervenção de tropas
do Exército.
A violência teve início de manhã, quando centenas de membros de uma cooperativa mineira independente invadiram
a mina estatal Huanuni exigindo maior acesso à sua jazida,
considera uma das maiores do
mundo. Os mineiros funcionários do Estado contra-atacaram. No embate, foram usadas
armas de fogo e dinamite, segundo a imprensa local.
Confrontos esporádicos continuaram durante a tarde de
ontem, e não se sabia se os mineiros independentes ainda
controlavam a mina.
O ministro da Presidência,
Juan Ramon Quintana, pediu
aos moradores de Huanuni para permanecer em suas casas
até o término do conflito.
O Exército foi convocado para ocupar a mina em disputa na
tentativa de encerrar os protestos, mas, até o fechamento desta edição, as tropas não haviam
chegado ao local, informou a
ABI, a agência de notícias oficial. O governo enviou membros do gabinete ao local, mas
deixou de fora o ministro da
Mineração, Walter Villarroel,
um ex-cooperativista.
Em entrevista concedida na
capital, Villarroel acusou o partido oposicionista Podemos
(Poder Democrático e Social)
de fomentar o conflito.
O confronto ocorre num momento de crescente tensão política e social na Bolívia e é o
mais violento desde o início do
governo Evo Morales, em janeiro deste ano.
Na semana passada, dois cocaleiros foram mortos pela Polícia Nacional durante uma
operação em Chapare, berço
político do atual presidente, no
que havia sido o incidente mais
violento do ano até então.
Morales enfrenta ainda um
difícil cenário político devido
ao impasse entre governo e
oposição na Assembléia Constituinte. Já no setor econômico, o governo vem tentando negociar com as empresas a implantação do decreto de nacionalização do gás, cujo cronograma está atrasado.
Histórico
O conflito em Huanuni teve
início no final do mês passado,
quando mineiros funcionários
do Estado bloquearam rodovias exigindo a abertura de
mais empregos, paralisando
por vários dias o fluxo de veículos nas principais rodovias da
região. Na época, Morales também acusou o Podemos de fomentar o conflito.
No anos 1980, a Bolívia fechou dezenas de minas e demitiu cerca de 35 mil trabalhadores do setor em meio a uma crise econômica provocada pela
inflação alta e pelos preços baixos dos minerais no mercado
internacional.
Com os preços subindo nos
anos 1990, os mineiros desempregados começaram a explorar por conta própria as minas
abandonadas, o que produziu
poderosas cooperativas que
agora disputam o controle dos
recursos minerais. Segundo estimativas do governo, existem
hoje na Bolívia cerca de 4.000
trabalhadores cooperativistas.
A região mineradora de Oruro é um dos principais redutos
políticos de Morales e ajudou o
socialista a se eleger ainda no
primeiro turno, em dezembro.
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