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Medida de Correa não pesará na Petrobras
Aumento da taxação de lucro excedente na exploração de petróleo equatoriano deve afetar pouco estatal brasileira
Segundo o chanceler Celso Amorim, o presidente do Equador está disposto a negociar com as empresas "flexibilização" do decreto
Presidência do Equador - 4.out.07/Efe
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O presidente Correa assina o decreto, na noite de quinta-feira |
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A decisão do governo do
Equador de taxar em 99% o lucro excedente que as empresas
petrolíferas obtêm com a produção de petróleo no país não
surpreendeu nem deve ter o
mesmo impacto da nacionalização que ocorreu na Bolívia,
afirmam especialistas e a cúpula da Petrobras, uma das empresas estrangeiras que operam no Equador e que foram afetadas.
Isso porque a estatal brasileira só produz 32 mil barris diários de petróleo no Equador
(contra 1,8 milhão no Brasil) e
as eventuais perdas se restringem à empresa, e não ao país,
como seria o caso de uma eventual desabastecimento de gás
vindo da Bolívia.
O presidente da Petrobras,
José Sérgio Gabrielli, afirmou
que não foi comunicado oficialmente da decisão do Equador e
que não iria comentá-la.
Mas a Petrobras estima que
não terá prejuízo com as novas
regras, segundo apurou a Folha. Deve ficar no zero a zero, já
que a taxação de 99% só se aplica ao chamado lucro excedente
-ou seja, acima de um valor de
referência para o preço do petróleo fixado em contrato. Tal
cifra já assegura uma remuneração mínima dos investimento e dos custos de produção.
Posição discreta
As companhias estrangeiras
afetadas pela medida de Correa
adotaram uma posição discreta, e só a hispano-argentina
Repsol-YPF manifestou-se oficialmente, declarando que a
decisão afetará de modo "insignificante" suas contas. A companhia extrai 65 mil barris diários de petróleo no Equador.
O chanceler do Brasil, Celso
Amorim, que está em Quito e
disse ter falado com Rafael Correa, afirmou que o presidente
do Equador está disposto a negociar com as companhias estrangeiras, Petrobras inclusive,
os termos da redução de sua
participação nos lucros extras.
Amorim disse que o equatoriano lhe mostrou "flexibilidade" e disposição para chegar a
um acordo. "A Petrobrás está
interessada em ter essa discussão", declarou Celso Amorim.
Mas a medida equatoriana
tem efeito simbólico importante e faz crescer o chamado "risco América Latina", segundo
Adriano Pires, da consultoria
CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura). "O peso do
Equador para a Petrobras é
muito pequeno. No mercado,
deve passar despercebido. Mas
é mais um sinal do crescente
nacional-populismo de governos da América Latina", disse.
Prejuízo
No primeiro semestre de
2007, a Petrobras Energia teve
um resultado operacional negativo em R$ 125 milhões na
área de refino e distribuição de
combustíveis. A companhia é
uma subsidiária da estatal brasileira com sede na Argentina e
negócios na Venezuela, Peru,
Equador e Bolívia.
Na Venezuela, a perda foi de
R$ 25 milhões no primeiro semestre, resultado da mudança
dos contratos com petroleiras
estrangeiras, cujo modelo passou para o de compartilhamento de produção com participação de 60% da PDVSA, a estatal
venezuelana do petróleo. Antes, o modelo era o de prestação
de serviço.
No Equador, a Petrobras já
havia tido prejuízo de R$ 33 milhões em decorrência do aumento da tributação sobre a
produção de petróleo, antes da
posse de Correa, e do atraso na
entrada em operação de um
campo que depende de licenciamento ambiental, o bloco 31.
Renegociação
Além de aumentar a taxação
do excedente, o governo equatoriano propõe mudança de
contrato em direção oposta à
realizada pela Venezuela. Pelo
novo contrato -que será negociado- as petrolíferas estrangeiras deixariam de compartilhar a produção para se tornar
prestadoras de serviços, recebendo um percentual sobre o
valor do petróleo extraído.
O governo de Correa saiu fortalecido internamente das eleições para uma Assembléia
Constituinte, no último domingo. Ontem, com 74% das
urnas apuradas, a coligação do
presidente, Acordo País, tinha
70,91% dos votos, o que pode
lhe garantir 80 das 130 cadeiras
da Assembléia, encarregada de
redigir a Carta com que Correa
pretende "refundar" o país.
Com agências internacionais
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