São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Enviado da ONU pede libertação de presos de Mianmar

EUA ameaçam regime com punições, mas a China diz que vetaria porque a crise birmanesa é "um problema interno"

Relatório põe em dúvida as informações oficiais de que apenas dez manifestantes teriam sido mortos durante repressão de protesto

DA REDAÇÃO

Reunido com os integrantes do Conselho de Segurança, o enviado das Nações Unidas a Mianmar, Ibrahim Gambari, advertiu aquele país asiático sobre as repercussões internacionais da repressão à dissidência pró-democracia e reiterou a necessidade de libertar todos os prisioneiros políticos.
Os Estados Unidos ameaçaram novamente a votação de sanções contra a ditadura militar, mas a China afirma que vetaria o texto porque os protestos em Mianmar são "um assunto interno" que não ameaça a segurança internacional.

Número de mortos
Gambari esteve na ex-Birmânia até terça-feira, e o informe que apresentou não se atêm aos eufemismos diplomáticos. Citou "informações contínuas e revoltantes sobre abusos das forças de segurança, particularmente no período noturno, como a invasão de domicílios, agressões físicas, prisões arbitrárias e desaparecimentos".
Também pôs em dúvida as informações oficiais de que apenas dez manifestantes teriam sido mortos durante os protestos desencadeados em 19 de agosto. A oposição afirma que 200 morreram e que o número de presos é de 6.000.
A televisão estatal do país disse ontem que 2.095 foram presos, mas quase todos já haviam sido libertados, sobretudo 728 dos monges budistas que lideravam as manifestações de rua. O governo diz que apenas 109 monges continuam presos.
O embaixador americano na ONU, Zalmay Khalilzad, insistiu na necessidade de sanções, caso o regime militar "não responda construtivamente à demanda da comunidade internacional" pela democracia.
Mas o embaixador chinês, Wang Guangya, disse que sanções elevariam a tensão e criariam um clima de "desconfiança e confronto".
A Rússia, que em janeiro se associara à delegação chinesa para impedir que o Conselho de Segurança punisse a ditadura birmanesa, deu ontem a impressão de somar forças com as delegações ocidentais.
Reiterou a "séria preocupação" com a situação e disse que, ao contrário de 1988 (protestos que fizeram 3.000 mortos), "o mundo está atento" ao que se passa naquele país, cuja população "não abandonaremos".

Diálogo de surdos
A líder da oposição em Mianmar, Aung San Suu Kyi, que está em prisão domiciliar -foi a sua condição durante 12 dos 18 últimos anos- rejeitou ontem as condições impostas pelo ditador Than Shwe para a abertura de um diálogo.
A Liga Nacional pela Democracia, que Kyi lidera, qualificou de "rendição" e de "proposta surreal" a exigência para que ela, antes de se avistar com Shwe, reconsidere seus "apelos à rebelião".
A Casa Branca se posicionou ao lado de Kyi. "O diálogo deve ser incondicional", disse o porta-voz Tony Flato.
Em Genebra, o secretário-geral da União Internacional de Telecomunicações, Hamadoun Toure, disse que, ao desconectar a internet de seu território, o regime birmanês "está violando o direito que seus cidadãos têm de se comunicar".
Horas depois, a France Presse informava que, depois de uma interrupção de uma semana, os dois provedores de acesso de Mianmar já voltavam a operar. O blecaute no acesso à rede fora atribuído por burocrata local a um problema com um cabo submarino.


Com agências internacionais


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