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Líder deposto quer assinar acordo primeiro e mudá-lo depois
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
O presidente deposto de
Honduras, Manuel Zelaya, exige assinar o Acordo de San José
antes de negociar eventuais
modificações a pontos da proposta formulada pela Costa Rica. Entre os pontos que ele e
seus assessores estudam incluir na mesa estão uma extensão de seu mandato para compensar os mais de cem dias de
afastamento do cargo, a revisão
do processo de convocação de
uma Constituinte e o não retorno de Roberto Micheletti à presidência do Congresso.
Ontem, Zelaya divulgou nota
em que exige a assinatura "imediata por ambas as partes do
Acordo de San José", que prevê
seu retorno condicionado à
Presidência -o texto prevê que
ele abandone a ideia de promover uma Assembleia Constituinte. O documento teria de
ser ratificado pelo Legislativo e
pelo Executivo, além dos chanceleres de países-membros da
OEA (Organização dos Estados
Americanos) que chegam amanhã a Tegucigalpa.
Zelaya também quer que a
assinatura seja na Embaixada
do Brasil, onde ele está abrigado há 16 dias. Segundo a nota, o
prédio diplomático proporciona "transparência e imparcialidade" e assegura "a integridade
física, os direitos constitucionais e a vida" de Zelaya.
Em entrevista ontem de manhã no jardim da embaixada,
Zelaya disse que 95% do acordo
já estava acertado. "Agora, com
1% que não está resolvido, que é
a restituição da democracia, só
com isso, só isso viria abaixo todo o castelo de cartas."
Questionado pela Folha sobre por que havia aumentado
sua porcentagem de 90% para
95% entre domingo e ontem,
Zelaya desconversou: se limitou a dizer que os 5% restantes
representam "a vontade do ditador [Micheletti]".
O presidente deposto vem
tendo uma rotina mais relaxada nos últimos dias. Já não tem
tanto temor de sair da área interna da embaixada -no sábado, chegou a participar por cerca de uma hora de uma roda de
música, também no jardim.
Segundo um alto assessor de
Zelaya, que falou sob a condição do anonimato, existe a possibilidade de que, após a eventual assinatura do acordo, se
inicie a discussão para prolongar o mandato para compensar
os mais de três meses fora da
Presidência.
A proposta original, de 22 de
julho, afirma que Zelaya terá de
deixar o cargo na data prevista,
27 de janeiro do próximo ano.
O assessor também afirmou
que Zelaya quer analisar se Micheletti tem direito a retornar
à presidência do Congresso, já
que renunciou ao cargo para
assumir o Executivo. O acordo,
no entanto, prevê que todos
voltem aos seus cargos.
Existe também a possibilidade de que se volte a discutir a
convocação de uma Constituinte, pivô da crise atual, mas
todo o processo se daria depois
que Zelaya deixe a Presidência.
O assessor também diz que
há a discussão para que a Frente Nacional de Resistência, responsável pelas manifestações
pró-Zelaya e composta por 45
organizações de esquerda,
principalmente sindicatos, se
transforme num partido. Zelaya e Micheletti são da mesma
sigla, o Partido Liberal, cuja
maioria apoiou o golpe.
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