São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011

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ANÁLISE LEGADO

Jobs estabeleceu nova era para os negócios

Presente em todas as etapas, da criação à venda de produtos, empresário se tornou a imagem da própria Apple


JOBS CRIOU UMA NOVA ERA, EM QUE O EMPRESÁRIO NÃO É MAIS UM GESTOR DISTANTE, MAS A IMAGEM DA EMPRESA


NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

A imagem que deve ir para a história é aquela, repetida por ele ao longo de três décadas, em que Steve Jobs surge num palco, diante de uma grande tela de vídeo, apresentando um novo produto aos seus clientes.
Estabeleceu uma nova era comercial, em que o empresário não é mais o administrador distante, mas a marca viva da empresa. É o modelo, inclusive nos detalhes do ritual de palco, de Mark Zuckerberg, do Facebook, e de Jeff Bezos, da Amazon. E dos chineses Robin Li, do Baidu, e Jack Ma, do Alibaba, que começam agora a avançar pelo mundo.
Mas ele foi também mais um comerciante, entre tantos. No ano passado, não custa registrar, idolatria semelhante cercou Zuckerberg. E antes foram outros os visionários, em ondas. Pouco se lembra hoje, mas Bill Gates, da Microsoft, e até Jack Welch, da GE, viveram culto semelhante, nos anos 90 e 80.
O que diferenciava Jobs era também sua capacidade de oferecer algo que o próprio consumidor nem imaginava desejar, como fez com o Macintosh, o iPhone e o iPad. Era criar o mercado, não só curvar-se às análises e projeções do marketing.
Era a própria incorporação dos valores do capitalismo, do que tem de sedutor em sua versão americana: o destemor com a possibilidade de desastre, o risco que permite a inovação. Jobs levava ao extremo a sombra de que em uma noite, sozinho num palco, poderia sair com um prejuízo que arriscaria toda a empresa -ou um lucro que a tornaria um monopólio.
Foi assim, não poucas vezes, com produtos hoje esquecidos como Apple 1 e 2 ou o Lisa. E que causaram, tanto quanto a disputa com o ex-sócio John Sculley, a sua saída e ausência da Apple por mais de uma década.
Ainda ontem, um dia depois da apresentação pouco feliz de um novo e não tão excitante produto por seu substituto no palco, Tim Cook, as ações de concorrentes em smartphones como Samsung e Ericsson subiram, enquanto sua Apple caía.
E já começaram a aparecer os primeiros anúncios de que o tropeço do novo iPhone abria o caminho para o Google de Larry Page avançar sobre o mercado. Também a Amazon de Bezos, que dias antes havia revelado o Kindle Fire para concorrer com o iPad -e que estaria perto de passar o concorrente em encomendas de lançamento.
Jobs já estava distante, pouco lembrado na fria performance de Cook e no próprio relato dos jornalistas, já não tão empolgados com seus produtos. No ritmo em que se observou a mudança de humor das últimas semanas, qualquer um dos nomes citados -Bezos, os chineses, Page, Zuckerberg- poderá tomar a boca de cena em dias.


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