São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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Social-democrata vence na Guatemala

Após ficar atrás nas pesquisas, Álvaro Colom é eleito presidente com votos do interior indígena e promete governo com "rosto maia"

Ganhador, que bateu militar com discurso antipobreza e contra militarização da segurança, disse que usará Exército contra traficantes

Esteban Felix/Associated Press
O presidente eleito, Álvaro Colom, cumprimenta eleitores; político ajudou a negociar acordo de 1996 que terminou guerra civil

DA REDAÇÃO

Ao contrário do que prognosticava a maior parte das pesquisas de opinião, o social-democrata Álvaro Colom, 56, foi eleito presidente da Guatemala, vencendo no segundo turno o general da reserva Otto Pérez Molina, do direitista PP (Partido Patriótico).
Colom, em sua terceira disputa presidencial, teve 52,84% dos votos contra 47,16% de Pérez Molina nas eleições de anteontem. Após uma campanha violenta -50 pessoas, entre candidatos, assessores e familiares, foram mortas-, não houve incidentes, mas a abstenção foi alta: 48%.
"Isso é um "não" à trágica história da Guatemala, país cansada de linha-dura", disse o presidente eleito pela centro-esquerdista UNE (União Nacional pela Esperança), em referência à vitória contra seu oponente militar, que pregou "mão firme" e soldados na rua contra a criminalidade.
A escalada de violência nas ruas foi o grande tema da eleição no país -que teve governos militares até 1986 e encerrou a guerra civil só dez anos depois. A maneira de enfrentar a delinqüência comum e dos cartéis de drogas opôs os candidatos.
A Guatemala tem os piores índices de homicídios da América Latina, depois dos da Colômbia. O tráfico de cocaína, rota para o mercado americano, controla setores da capital e do interior, em especial na porosa fronteira com o México.
Colom foi eleito prometendo repressão ao crime com forças civis e a criação de empregos para diminuir a pobreza -56% da população vive com menos de US$ 2 por dia.
Ontem, porém, em entrevista à agência Reuters, Colom disse que usará o Exército contra os cartéis de drogas: "Há cartéis que têm seus próprios exércitos [na fronteira]. Não podemos ir lá com a polícia sozinha, temos que ir com o Exército, como uma operação de guerra, se de fato quisermos tomar o território de volta".

"Rosto maia"
O presidente eleito se identifica com os governos de esquerda da região e define-se como moderado: sempre elogia Luiz Inácio Lula da Silva e a chilena Michelle Bachelet e ontem voltou a dizer que quer uma "relação normal" com a Venezuela.
"Tenho o propósito de converter a Guatemala em um país social-democrata, mas com rosto maia, com cheiro de tamal de milho", disse o presidente eleito ao país onde 43% da população é indígena.
Colom, ex-empresário do ramo têxtil, é sacerdote maia (um dos três únicos não-indígenas a ter o título) e deve parte de sua vitória a essa conexão: perdeu na capital, mas reverteu a vantagem com os votos do interior majoritariamente indígena.
O novo presidente toma posse em janeiro para um mandato até 2012. Não terá maioria no Parlamento: só 52 das 158 cadeiras. Um dos primeiros desafios no Legislativo será decidir o que fazer com a pena de morte, em limbo legal desde 2000. Há 21 pessoas no corredor da morte, e Colom, na campanha, foi dúbio sobre o tema, mas defendeu as execuções.
Ele assume com a economia aquecida -crescimento de 5% -e em adaptação ao acordo de livre comércio com os EUA.
O presidente eleito diz querer melhorar as relações com a Casa Branca, mas tem pela frente o drama das deportações -20 mil guatemaltecos tiveram de deixar os EUA em 2006.


Com agências internacionais e"Financial Times"


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