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OBAMA PRESIDENTE
Vitória de Barack Obama interrompe a hegemonia conservadora nos EUA
Crise econômica impulsiona guinada que elegeu democrata progressista e pragmático
Presidente eleito promete ao mundo
uma "nova aurora de liderança americana"
Chris McGrath/France Presse
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Barack Obama saúda a multidão que foi comemorar sua vitória no Grant Park, em Chicago; ele disse que sua eleição é uma prova de que a democracia nos Estados Unidos continua viva
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO
O eixo dos EUA mudou.
A pior crise econômica em
décadas, aliada a uma nova coalizão de eleitores inflada pela
maior mudança demográfica
na história recente, elegeu anteontem o democrata Barack
Obama o 44º presidente do
país, o primeiro negro a alcançar o cargo. Com isso, abalou
uma era de hegemonia conservadora consolidada a partir da
eleição do republicano Ronald
Reagan, em 1980.
Progressista pragmático, o
presidente eleito de 47 anos
tem o registro de votação mais
à esquerda do Senado, mas foi
forjado na política tradicional
de Chicago. Sua eleição quebra
a regra não escrita de que um
democrata só é eleito presidente se tiver sido governador e for
sulista. Primeiro presidente do
norte liberal desde John F.
Kennedy, apresenta-se como
conciliador e promete um governo de centro, um meio termo entre o que fez no Congresso e o que pregou na campanha.
Em seu discurso de vitória,
Obama retomou o tema da colaboração entre os partidos ao
citar a fala de 2004 que o lançou no cenário político nacional. "Vamos resistir à tentação
de voltar aos mesmos partidarismo, pequenez e imaturidade
que envenenaram nossa política por tanto tempo", disse o
presidente eleito anteontem.
"Os presidentes fazem campanha em preto e branco, mas
geralmente governam em cinza", resume Richard Haass,
presidente do influente Council on Foreign Relations. "Obama deve juntar moderados e liberais (progressistas) numa
coalizão renovada de governo
de mudança", define Mark
Penn, estrategista político da
fracassada campanha de Hillary Clinton.
Ele herda de George W. Bush
um país à beira de recessão profunda, um mercado financeiro
mundial que espera por uma
reforma e duas guerras em andamento, do Iraque e do Afeganistão, que drenam recursos e
abalaram a imagem do país no
mundo. Terá de lidar com a ascensão econômica da China e o
renascimento da Rússia como
potência internacional.
Seu desafio é comparado por
historiadores com o que esperava o democrata Franklin Delano Roosevelt em 1932, ao ser
eleito no meio da Grande Depressão com uma plataforma
de rigidez orçamentária que ele
transformaria depois no New
Deal (novo acordo). Anteontem, ao comentar a expectativa
internacional sobre seu mandato, Obama falou de uma New
Dawn (nova aurora).
"Para os que estão assistindo
hoje à noite de além de nossas
costas (...), nossas histórias são
diferentes, mas nosso destino é
compartilhado, e uma nova aurora de liderança americana está ao alcance", discursou ele.
Se começa com a simpatia de
grande parte do mundo, domesticamente ele terá a seu favor um Congresso em que seu
partido comandará a Câmara e
o Senado. Terá ainda uma expressiva votação no Colégio
Eleitoral e o amparo da maioria
absoluta do voto popular, um
feito atingido por um democrata pela última vez em 1976, com
Jimmy Carter.
"Estamos entrando numa
nova era, em que as mudanças
transcendem a política", disse
Simon Rosenberg, da ONG jovem New Democratic Network. "Há a emergência de uma
nova agenda de governo que é
em essência do século 21, e
Obama venceu com essa coalizão do século 21", disse.
Para o senador democrata
Charles Schummer, "é uma
eleição de movimento tectônico, que acontece uma vez a cada
geração e redefinem a relação
das pessoas com o governo".
O motor dessa vitória foi a
economia, que bateu a raça, que
ameaçava ser o fator oculto
desta eleição, e os valores morais, que levaram George W.
Bush adiante em 2004. A crise
foi o tema principal para 62%
dos eleitores, segundo boca-de-urna. Dos ouvidos, 92% disseram que o país está na direção
errada, e 93%, que a situação
econômica é ruim, ambos recordes históricos.
"A economia foi o tal telefonema às 3h da manhã de Barack Obama", resumiu Mark
Penn, referindo-se ao comercial que aludia ao fato de Obama estar supostamente despreparado para atender, como presidente, a um chamado de
emergência no meio da madrugada.
Ainda assim, não pode ser
apequenado o fato de um filho
de um queniano com uma americana do Meio-Oeste ter sido
eleito presidente dos EUA, o
primeiro país de maioria branca da história a escolher um negro como líder. Há 44 anos, o
44º presidente norte-americano poderia ser morto só por votar em determinadas regiões do
país que agora comanda.
"Se tem alguém aí que ainda
duvida que a América é o lugar
em que todas as coisas são possíveis, que ainda pensa se o sonho de nossos fundadores sobreviveu ao nosso tempo, se
ainda questiona o poder de
nossa democracia, essa noite é
sua resposta", disse Obama, no
discurso de vitória. Na platéia,
uma pessoa segurava um cartaz
com a frase "A ajuda está a caminho", que remetia ao que
mostravam as equipes de salvamento às vítimas do furacão
Katrina, outro fiasco de Bush.
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