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Brasil espera guinada na política externa e cobra apoio à região
Lula pediu o fim do bloqueio econômico a Cuba; em mensagem enviada a Obama, presidente mencionou Martin Luther King
Petista diz que eleição de presidente negro é "feito extraordinário" e afirma que preferia Obama "porque talvez ele seja corintiano"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A expectativa do Brasil é que,
depois de uma vitória espetacular, Barack Obama não apenas estanque a crise econômica
como promova uma guinada na
política externa norte-americana, para fortalecer a ONU,
reabrir o diálogo com Cuba, aumentar a ajuda humanitária na
África, concluir as negociações
comerciais da Rodada Doha e
retomar a pauta sobre mudança climática.
Além dessa mudança radical
em relação ao governo de George W. Bush, Planalto e Itamaraty cobraram maior atenção
dos EUA para a América Latina, como declarou o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele irá a Washington no próximo dia 15 para a reunião do
G-20 ampliada -dos 7 países
ricos, mais Rússia e emergentes, como o Brasil. "Espero que
haja um aperfeiçoamento das
relações entre Brasil e EUA e
acho que também [deve haver]
uma política mais voltada para
o desenvolvimento na América
Latina", disse Lula ontem.
Ele acrescentou: "É preciso
que os EUA continuem uma
política mais ativa em relação à
América Latina, uma vez que
durante toda a década de 60 e
70 você tinha a Guerra Fria,
quando os EUA mantinham
uma visão de luta contra guerrilhas na região. Agora mudou,
a democracia consolidou-se".
Lula também pediu o fim do
bloqueio a Cuba, porque "não
há nenhuma explicação política" para mantê-lo, e defendeu
que os EUA de Obama usem o
seu "peso muito importante"
para encontrar "uma saída" para o conflito do Oriente Médio.
Mais do que focar em temas
específicos, porém, o Brasil
reagiu ao resultado da eleição
com um tom otimista, recheado de adjetivos, e com a defesa
de uma mudança de rumo.
Para Lula, foi "um feito extraordinário" que os EUA tenham eleito um negro. Bem-humorado, brincou que preferia Obama desde sempre, "porque talvez ele seja corintiano".
"Quem duvidava de que um
negro poderia ser eleito presidente dos EUA agora sabe que
pode. Isso acontece num regime democrático, que é onde a
sociedade se manifesta".
Tanto Lula quanto o chanceler Celso Amorim, que ontem
voltava do Irã, enviaram mensagens parabenizando Obama,
como é de praxe.
Na mensagem de Lula, ele repete um slogan que integrou as
duas campanhas, a dele próprio
no Brasil e agora a de Obama
nos EUA, contrapondo medo e
esperança: "V. Excia. soube
transmitir visão de futuro, capacidade de liderança e certeza
de que a esperança é mais forte
do que o medo".
Ao citar os "desafios complexos para a ordem internacional
intensificados pela gravidade
da crise financeira", Lula afirmou: "Estou certo de que os
EUA responderão a esses desafios inspirados pela "intensa urgência do agora" demandada
por Martin Luther King".
No seu texto, Amorim diz
que "o povo norte-americano
revelou mais uma vez ao mundo a força renovadora da pluralidade e da diversidade" e
acrescenta: "A sua eleição provou, ademais, que não há barreiras nem preconceitos que
não possam ser vencidos".
Até o tradicional discurso de
que os democratas são mais
protecionistas do que os republicanos e podem afetar os interesses comerciais brasileiros
foi desativado.
"A vitória do Obama é importantíssima para uma nova ordem mundial. O protecionismo
democrata? Não existe mais.
Foi soterrado pela crise econômica", disse à Folha o embaixador Everton Vieira Vargas,
subsecretário de Assuntos Políticos e principal responsável
no Itamaraty pelo acompanhamento das eleições nos EUA.
O governo agora começa a
focar a atenção na equipe de
governo de Obama, principalmente para a área externa. Até
ontem, só havia uma especulação: a de que o atual embaixador norte-americano em Brasília, Clifford Sobel, pode ser
substituído por Thomas Shannon. Shannon é secretário assistente de Estado para o Hemisfério na era Bush, fala português e espanhol e tem tido
um contato freqüente e fácil
com o governo brasileiro.
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