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Líder palestino diz que não tentará se reeleger
Mahmoud Abbas, que comanda Autoridade Nacional Palestina desde 2005, diz que não disputará pleito presidencial de janeiro
Político atribui decisão à frustração com a paralisia do processo de paz e com o recuo da pressão americana para Israel congelar colônias
Bernat Armangue/Asssociated Press
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Abbas anuncia renúncia à candidatura em Ramallah, Cisjordânia; sucessão ainda é uma incógnita
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Num discurso em que não
poupou críticas a Israel, Estados Unidos e ao grupo rival Hamas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP),
Mahmoud Abbas, afirmou ontem que não pretende disputar
a reeleição na votação convocada para janeiro de 2010.
Citando sua frustração com a
paralisia do processo de paz e
com o recuo da pressão americana para que Israel congele a
construção de assentamentos
nos territórios palestinos, Abbas disse que não tem intenção
de voltar atrás, apesar das
exaustivas tentativas de dissuadi-lo. Mas sua decisão de sair de
cena esbarra na complexa realidade política palestina e na ausência de um sucessor claro.
Para começar, a menos de
três meses da data marcada, a
eleição presidencial parece longe de se tornar realidade, devido às diferenças entre as duas
principais facções palestinas
-o secular Fatah, de Abbas,
que controla a Cisjordânia, e o
islâmico Hamas, que governa a
faixa de Gaza.
Abbas, 74, que substituiu o líder histórico palestino Iasser
Arafat (1929-2004) como presidente da ANP, convocou a
eleição unilateralmente, depois
de nova tentativa fracassada de
selar acordo com o Hamas.
O grupo islâmico radical rejeitou a convocação, afirmando
que sem uma reconciliação boicotará as eleições.
Se a votação não ocorrer, Abbas teoricamente continua no
cargo -seu mandato original já
está expirado desde janeiro.
Diante desse quadro, a opinião de muitos analistas, tanto
israelenses como palestinos, é
de que o anúncio de Abbas tem
boa dose de pressão sobre seus
interlocutores. O presidente,
entretanto, garantiu que não.
"Isso não é uma barganha
nem uma manobra", afirmou
Abbas. Ele acusou Israel de
"destruir" o processo de paz
com a cumplicidade dos EUA.
O presidente da ANP vive um
momento de intenso desgaste,
depois das críticas que sofreu
por ter cedido aos apelos americanos para adiar a votação nas
Nações Unidas de um relatório
sobre a ofensiva israelense em
Gaza no começo do ano.
O relatório Goldstone, que
acusa Israel de crimes de guerra, acabou sendo aprovado na
ONU, mas a pressão doméstica
sobre Abbas manteve-se latente. Ela aumentou depois que a
secretária de Estado dos EUA,
Hillary Clinton, mostrou tolerância com a recusa israelense
em congelar os assentamentos,
durante visita a Israel no último fim de semana.
"Ficamos surpresos com as
recentes declarações dos americanos, que parecem apoiar a
posição de Israel", queixou-se o
presidente da ANP.
Assessores disseram que estão insistindo para que continue ele candidato à reeleição.
Reações
O governo americano pareceu entender que a decisão de
Abbas é irreversível. "Estou
pronta a trabalhar com o presidente Abbas em qualquer que
seja a sua nova capacidade",
disse ontem Hillary.
O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, disse ter esperanças de que a decisão não
prejudique uma eventual retomada das negociações de paz,
congeladas desde a ofensiva israelense na faixa de Gaza, em
dezembro e janeiro.
O Hamas viu no pronunciamento de Abbas a comprovação de que o processo de paz está morto. "Nosso conselho é
que ele encare o povo palestino
e diga francamente que o caminho da negociação fracassou",
disse Sami Abu Zuhri, porta-voz do grupo islâmico.
Israel reagiu com cautela,
manifestando esperança de
que Abbas aceite retomar a negociação sem precondições.
Abbas é um dos últimos líderes históricos da ANP, e sua saída, se confirmada, deixará um
vácuo que poucos arriscam
prever como será preenchido.
"Não há sucessores óbvios", diz
o cientista político Said Zeidani, da Universidade Beir Zeit,
nos arredores de Ramallah,
Cisjordânia. "A briga pela sucessão será feroz", prevê.
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