São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

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ANÁLISE

Decisão é grito de desespero diante de cenário adverso

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

A desistência de Mahmoud Abbas em concorrer a uma eleição que ele mesmo convocou há 15 dias apenas é um grito de desespero com duas motivações possíveis.
Abbas pode estar blefando, numa tentativa de forçar o governo de Barack Obama a fazer o que ele até agora não fez: pressionar seriamente Israel a fazer concessões.
A Casa Branca passou meses exigindo o congelamento imediato e incondicional dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, antes de recuar nas últimas semanas, passando a pedir uma "restrição" nas novas construções israelenses.
Para Abbas, as colônias representam a mais sólida e eficiente ferramenta usada pelo governo israelense para invalidar de vez a ideia de um Estado palestino -o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, já rejeitou abertamente a solução de dois Estados.
Críticos dizem que Obama não deveria ter cobrado algo que ele sabia impossível. O governo Netanyahu é um apanhado de siglas direitistas, nacionalistas e religiosas, que colocaria sua própria existência em risco se tentasse frear o que boa parte dos israelenses chamam de "crescimento natural" das colônias na Cisjordânia.
A desistência de Abbas é reversível, desde que Israel acene com alguma abertura ao diálogo. Por saber que isso dificilmente ocorrerá, o atual presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que herdou de Iasser Arafat a missão de formar um Estado-nação soberano, pode então ter formalizado ontem uma morte política anunciada há tempos.
Abbas não tem a seu favor nenhum ganho político relevante em seus quase cinco anos à frente da ANP. Em 2006, ele perdeu as eleições legislativas para o rival islâmico Hamas. No ano seguinte ele ficou sem o controle da faixa de Gaza, tomada pelo Hamas em meio a disputas sobre o controle das instituições palestinas.
Quanto menos concessões Abbas obtiver de Israel, mais forte fica o incendiário Hamas.
No mês passado, Abbas aprovou e depois recuou do apoio ao relatório Goldstone sobre a última guerra de Gaza, enfurecendo os palestinos.
Ao ameaçar jogar a toalha, Abbas coloca sobre os inimigos -com alguma razão- a culpa pelo próprio fracasso.


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