São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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México amarga recorde de assassinatos

Mortes ligadas ao crime organizado superam 10.035 neste ano; país luta para não se tornar a "nova Colômbia"

Em "guerra" contra o tráfico, Felipe Calderón vê a violência explodir e reage ao menor sinal de intervenção dos EUA

GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO

O México deve fechar 2010 com um número recorde de assassinatos ligados ao crime organizado. Ontem, o tétrico "Executômetro", do jornal local "Reforma", superou os 10.035, em uma demonstração da escalada da violência no país sob Felipe Calderón, que assumiu em 2006.
Internamente, esses números causam preocupação não só pelos motivos óbvios mas também pelo temor de que o país substitua a Colômbia no epicentro do combate às drogas no continente, em especial aos olhos dos EUA.
Recentemente, isso ficou claro nas cobranças sobre Washington pelo plebiscito sobre a liberação da maconha na Califórnia -que acabou com a vitória do "não"-, e em setembro, na crítica à secretária Hillary Clinton, que comparou o vizinho à "Colômbia de 20 anos atrás".
Os dois "se parecem cada vez mais" pois a "ameaça da bem organizada rede de narcotráfico está, em alguns casos, se transformando ou se assemelhando ao que consideraríamos como insurgência", disse. "De repente, carros-bomba aparecem onde não existiam."
O estopim da comparação foram, aparentemente, os inéditos ataques de carros-bomba no México. O primeiro ocorreu em julho, na fronteiriça Ciudad Juárez, disputada pelos cartéis de Juárez e Sinaloa. Criminosos usaram um policial ferido como isca e detonaram explosivos pelo celular, quando o socorro chegou. Quatro morreram.
Na Colômbia, os ataques com veículos-bomba, principalmente na capital Bogotá, marcaram o embate contra os grupos narcotraficantes e/ou paramilitares do país, nos anos 1980 e 1990.
"A única surpresa nesse conceito foi que ela o expressou em voz alta", diz, em artigo, Laura Carlsen, diretora do Centro de Política Internacional, na Cidade do México.
"A Iniciativa Mérida foi inicialmente chamada de Plano México. A comparação com a Colômbia é tida como obrigatória. [...] Mas, no México, pensar na presença militar dos EUA rivaliza com o sentimento nacionalista."
Os casos em Juárez ocorreram a despeito da presença ostensiva do Exército e de mais de 7.500 policiais nas ruas. Mas, se Juárez fechou 2009 com taxa de 74 homicídios a cada 100 mil habitantes, a nacional foi de 14, um indício de que a violência é concentrada.
"Não há descontrole em todo o México, embora o haja nas cidades onde o crime é mais forte. O Exército pode ir a toda parte", diz Andrew Selee, do Instituto do México do Woodrow Wilson Center, em Washington. Na Colômbia, o Estado perdeu o controle de parte do território.
"Na Colômbia, o narcotráfico era um elemento do movimento político armado. No México, [cartéis] não querem substituir o governo, querem que ele permita as transações e, se possível, as facilite. Mesmo quando falamos de prefeitos subornados, por exemplo, eles não se importam com a ideologia", diz Selee.
O pesquisador Markus Schultze-Kraft, diretor do escritório do International Crisis Group (ICG) em Bogotá, destaca as diferenças. "Narcos colombianos, como Pablo Escobar, tentavam entrar na institucionalidade. Ele foi suplente de deputado", diz.


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