São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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Países fora do euro assistem à crise em relativa calmaria

Alguns dos sócios do bloco que não adotaram a moeda comum convivem com deficit e dívidas públicas menores

Suécia, por exemplo, tem superavit fiscal; a dívida do país corresponde a menos de 40% de seu PIB

Michael Probst/Reuters
Em Frankfurt, diante de escultura do euro, cartaz diz: "Vocês brincam, nós pagamos"

JULIANA ROCHA
DE SÃO PAULO

A saída da Grécia da zona do euro neste momento a levaria ao calote total de sua dívida e poderia significar o fim da moeda comum. Mas os países em crise podem se perguntar se foi a melhor decisão aderir ao grupo dos 17.
Enquanto os principais alvos da desconfiança do mercado usam o euro, outros sócios da União Europeia que mantiveram suas moedas nacionais nadam em um mar de tranquilidade.
É o caso da Suécia. Com sua coroa sueca, tem superavit fiscal enquanto a maioria dos sócios tem as contas públicas no vermelho. A dívida do país é inferior a 40% do seu PIB (soma das riquezas).
A Dinamarca, que manteve a coroa dinamarquesa, tem um dos menores deficit públicos da região, de 2,6%, e dívida de 47,5% do PIB -nível considerado saudável.
Já o Reino Unido, que também manteve a libra esterlina como moeda, não tem a mesma tranquilidade econômica. Mas com o terceiro maior deficit público do bloco, de 10,3%, não é visto como próxima vítima da crise.
O Reino Unido, como os demais países de fora da zona do euro, conta com seu próprio banco central e tem total poder sobre sua moeda.
Os países da zona do euro estão subordinados às políticas do BCE (Banco Central Europeu), que segue a cartilha imposta pelos europeus mais ricos, principalmente a Alemanha. Um trunfo nesta crise é o poder de comprar títulos da dívida pública e ajudar a segurar o retorno exigido pelos investidores sem precisar consultar os sócios.
O banco britânico tem poderes para forçar a desvalorização da moeda se for necessário. E também de manter os juros baixos para impedir que a dívida aumente e aliviar as tensões sobre a economia -o que efetivamente tem sido feito ao manter a taxa no menor nível histórico, de 0,5%.
Embora o primeiro-ministro grego, George Papandreou, tenha levantado a discussão sobre deixar a zona do euro ao ameaçar um plebiscito na semana passada, agora é tarde para a Grécia e outros países em crise pensarem em deixar a moeda comum.

SAÍDA
"Se a Grécia deixar o euro, vai se tornar uma segunda Argentina [que deu calote há dez anos]", diz um dos mais respeitados especialistas em Grécia na Europa, o professor da London School of Economics Kevin Featherstone.
Ele explica que o país seria obrigado a dar o calote total em sua dívida e em parte das contas públicas por falta de dinheiro. E passaria por cerca de uma década de crise, sem acesso a financiamento no mercado financeiro.
"É melhor dar o calote na zona do euro do que fora dela", concorda o economista-chefe da consultoria americana IHS Global Insight, Nariman Behravesh.
É pelo risco de quebrar definitivamente que 70% da população grega é a favor de se manter na zona do euro.
O professor da LSE avalia, ainda, que a entrada na zona do euro foi positiva para a Grécia. Trouxe estabilidade econômica, redução da inflação e das taxas de juros.
Featherstone foi um defensor da entrada do Reino Unido na zona do euro no passado por acreditar que facilitaria o comércio com os demais países do bloco. Mas hoje ele admite que a economia britânica tem vantagens sobre os sócios que não controlam mais sua política monetária.


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