São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

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Chávez diz aceitar diálogo com EUA, mas "entre iguais"

Declaração é resposta a subsecretário de Estado norte-americano, que na véspera elogiou a democracia venezuelana

Presidente afirma, porém, duvidar da sinceridade dos americanos e acrescenta que conversações devem incluir retirada do Iraque

DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem estar disposto a "dialogar" com os EUA desde que o diálogo ocorra "de igual para igual".
A afirmação foi em resposta à declaração feita na véspera pelo subsecretário de Estado americano para a América Latina, Thomas Shannon, que elogiou a democracia na Venezuela e disse que os EUA estão abertos ao diálogo com o presidente reeleito.
Após ter sua vitória confirmada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), por 62,89% dos votos, Chávez reconheceu que houve esforços de altos funcionários americanos no sentido de abrir novas vias para o diálogo. Mas expressou dúvidas sobre a "sinceridade" dessas intenções.
"Oxalá essas vozes [nos EUA] sejam autênticas", afirmou Chávez em entrevista coletiva. "Se eles querem falar com um governo de igual para igual, com respeito por nossas posições, estamos dispostos a dialogar, mas duvido que esse governo dos EUA seja sincero, tenho razões para duvidar."
Chávez se perguntou ainda como seria possível ter boas relações com um governo que "financiou atividades conspiratórias" e "espionagem" na Venezuela. Os EUA apoiaram a tentativa de golpe de Estado de abril de 2002, que o tirou do poder por 48 horas.
Ecoando o tom adotado na véspera por Shannon, o embaixador dos EUA em Caracas, William Brownfield, reiterou ontem que Washington espera uma relação menos conflituosa com Chávez.
"O presidente foi reeleito por decisão do povo venezuelano", disse Brownfield à rádio Unión: "Reconhecemos isso e estamos ansiosos para explorar e ver se podemos avançar em assuntos bilaterais". "Desde a segunda-feira teve início um processo de comunicação entre ambos os governos", acrescentou.
Para o embaixador, Venezuela e EUA compartilham interesses em uma série de temas, como comércio e energia. "A Venezuela é um parceiro dos EUA, por razões geográficas e históricas", afirmou. A Venezuela é o quarto maior fornecedor de petróleo dos EUA, que compra 50% do produto exportado por Caracas.
Existe, no entanto, uma falta de sintonia entre as relações comerciais e políticas dos dois países. Os EUA proibiram a venda de aviões e armas com componentes americanos para a Venezuela e tentaram aprovar na OEA (Organização dos Estados Americanos) uma cláusula de "monitoramento" das democracias, com o objetivo de isolar Chávez.
O venezuelano se aproximou de países que os EUA consideram párias, como Irã e Coréia do Norte, se opôs à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e deu sobrevida ao regime de Cuba ao vender petróleo a preços subsidiados à ilha.
Ontem, Chávez disse ainda que um diálogo entre Washington e Caracas deve incluir temas como a extradição do anticastrista Luis Posada Carriles, acusado na Venezuela por um atentado contra um vôo de Caracas para Havana que deixou 73 mortos em 1976. Outro tema seria a retirada das tropas americanas do Iraque.
Durante a coletiva, Chávez leu uma nota do ditador cubano, Fidel Castro. "Serei breve para que a emoção não me traia. Tua vitória foi contundente e sem paralelo na história da nossa América", dizia a nota.
Chávez anunciou ainda que substituirá seu atual embaixador em Buenos Aires, que teria gerado "mal-estar" com o governo argentino, e um crédito de US$ 80 milhões para a cooperativa argentina Sancor, que está à beira da falência.


Com agências internacionais

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