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Chávez diz aceitar diálogo com EUA, mas "entre iguais"
Declaração é resposta a subsecretário de Estado norte-americano, que na véspera elogiou a democracia venezuelana
Presidente afirma, porém, duvidar da sinceridade dos americanos e acrescenta que conversações devem incluir retirada do Iraque
DA REDAÇÃO
O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, disse ontem estar disposto a "dialogar" com os
EUA desde que o diálogo ocorra "de igual para igual".
A afirmação foi em resposta à
declaração feita na véspera pelo subsecretário de Estado
americano para a América Latina, Thomas Shannon, que elogiou a democracia na Venezuela e disse que os EUA estão
abertos ao diálogo com o presidente reeleito.
Após ter sua vitória confirmada pelo Conselho Nacional
Eleitoral (CNE), por 62,89%
dos votos, Chávez reconheceu
que houve esforços de altos
funcionários americanos no
sentido de abrir novas vias para
o diálogo. Mas expressou dúvidas sobre a "sinceridade" dessas intenções.
"Oxalá essas vozes [nos EUA]
sejam autênticas", afirmou
Chávez em entrevista coletiva.
"Se eles querem falar com um
governo de igual para igual,
com respeito por nossas posições, estamos dispostos a dialogar, mas duvido que esse governo dos EUA seja sincero, tenho
razões para duvidar."
Chávez se perguntou ainda
como seria possível ter boas relações com um governo que "financiou atividades conspiratórias" e "espionagem" na Venezuela. Os EUA apoiaram a tentativa de golpe de Estado de
abril de 2002, que o tirou do poder por 48 horas.
Ecoando o tom adotado na
véspera por Shannon, o embaixador dos EUA em Caracas,
William Brownfield, reiterou
ontem que Washington espera
uma relação menos conflituosa
com Chávez.
"O presidente foi reeleito por
decisão do povo venezuelano",
disse Brownfield à rádio Unión:
"Reconhecemos isso e estamos
ansiosos para explorar e ver se
podemos avançar em assuntos
bilaterais". "Desde a segunda-feira teve início um processo de
comunicação entre ambos os
governos", acrescentou.
Para o embaixador, Venezuela e EUA compartilham interesses em uma série de temas,
como comércio e energia. "A
Venezuela é um parceiro dos
EUA, por razões geográficas e
históricas", afirmou. A Venezuela é o quarto maior fornecedor de petróleo dos EUA, que
compra 50% do produto exportado por Caracas.
Existe, no entanto, uma falta
de sintonia entre as relações
comerciais e políticas dos dois
países. Os EUA proibiram a
venda de aviões e armas com
componentes americanos para
a Venezuela e tentaram aprovar na OEA (Organização dos
Estados Americanos) uma
cláusula de "monitoramento"
das democracias, com o objetivo de isolar Chávez.
O venezuelano se aproximou
de países que os EUA consideram párias, como Irã e Coréia
do Norte, se opôs à Alca (Área
de Livre Comércio das Américas) e deu sobrevida ao regime
de Cuba ao vender petróleo a
preços subsidiados à ilha.
Ontem, Chávez disse ainda
que um diálogo entre Washington e Caracas deve incluir temas como a extradição do anticastrista Luis Posada Carriles,
acusado na Venezuela por um
atentado contra um vôo de Caracas para Havana que deixou
73 mortos em 1976. Outro tema
seria a retirada das tropas americanas do Iraque.
Durante a coletiva, Chávez
leu uma nota do ditador cubano, Fidel Castro. "Serei breve
para que a emoção não me
traia. Tua vitória foi contundente e sem paralelo na história da nossa América", dizia a
nota.
Chávez anunciou ainda que
substituirá seu atual embaixador em Buenos Aires, que teria
gerado "mal-estar" com o governo argentino, e um crédito
de US$ 80 milhões para a cooperativa argentina Sancor, que
está à beira da falência.
Com agências internacionais
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