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México prende os líderes da rebelião em Oaxaca
Prisão de dirigentes na capital se soma a mais de 200 detenções nos últimos dez dias
Ativistas dizem que mais de 400 estariam detidos; grupos paramilitares também estariam atuando na repressão a movimento
Eduardo Verdugo - 4.dez.2006/Associated Press
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Flavio Sosa, um dos dirigentes dos protestos, que foi detido |
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A OAXACA, MÉXICO
Flavio Sosa, um dos líderes
da rebelião popular que há seis
meses paralisa a cidade de Oaxaca, no sul do México, foi detido na noite de segunda-feira na
Cidade do México, junto com o
irmão dele, Horacio, e mais
dois ativistas da Assembléia
Popular dos Povos de Oaxaca
(APPO). Eles estão em uma prisão de segurança máxima.
Desde o dia 25 de novembro,
foram detidos mais de 200 integrantes da APPO, que reúne
todas as organizações sociais
do conflito. Segundo a APPO,
400 militantes estão presos.
Grupos paramilitares também
estariam "desaparecendo" integrantes da APPO. O Comitê
contra a Tortura da ONU recomendou ao governo mexicano
que investigue as denúncias.
A maior onda de repressão
naquela que é considerada a
mais bela cidade colonial do
México começou em 25 de novembro, quando confrontos
entre a Polícia Federal e manifestantes terminaram com o
incêndio de quase 20 prédios
públicos. Os líderes da APPO
são acusados de vandalismo e
posse ilegal de armas.
O governador do Estado de
Oaxaca, Ulises Ruiz, declarou
que "não haverá anistia para os
vândalos". A procuradora-geral
do Estado de Oaxaca, Lizbeth
Caña Cadeza, chamou a APPO
de "guerrilha urbana" e assinou
as ordens de detenção.
A rebelião começou com uma
greve dos 70 mil professores do
Estado, o segundo mais pobre
do México, em maio. Desde
1983, o sindicato dos professores organiza uma greve nessa
época por reajuste salarial.
Só que, desta vez, o governador Ruiz não só não atendeu à
demanda dos professores como
ordenou uma violenta repressão. Professores acampados na
praça principal da capital foram desalojados à força.
Mas eles voltaram pouco depois. Cerca de 10 mil professores ocuparam o centro histórico a partir de junho. A eles, se
juntaram todos aqueles que tinham alguma pendência ou
reivindicação grave a fazer ao
governador, do movimento indígena a sindicalistas, de grupos guerrilheiros a desempregados. Assim surgiu a APPO.
A prioridade se tornou derrubar o governador, um caudilho do Partido Revolucionário
Institucional (PRI), sigla que
governou o México por 71 anos
(1929-2000). Manifestantes
ocuparam os principais prédios
do governo estadual. Emissoras de rádio foram tomadas e o
vandalismo se generalizou.
As lideranças da APPO revelam um movimento multifacetado. Junto com indígenas, feministas, stalinistas e professores, há operadores políticos ligados ao PRI. O detido Flavio
Sosa, apesar de ser um dos líderes mais visíveis do movimento, é criticado por colegas.
Sosa, 53, participou de organizações de esquerda e de trabalhadores rurais nos anos 70 e
80. Mas, nos últimos anos, ele
foi operador político do ex-governador de Oaxaca, José Murat, inimigo do atual Ulises
Ruiz, e participou da campanha
à Presidência do conservador
Vicente Fox, do PAN (Partido
da Ação Nacional).
"Gente como Sosa desvirtuou um protesto dos professores em busca de um ajuste de
contas entre chefes do PRI", diz
Patricia Mercado, líder do partido Alternativa (esquerda),
derrotada nas eleições presidenciais de julho passado.
A repressão em Oaxaca coincide com a transição no governo federal, após a posse, na sexta-feira, do conservador Felipe
Calderón, do PAN.
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