São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

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México prende os líderes da rebelião em Oaxaca

Prisão de dirigentes na capital se soma a mais de 200 detenções nos últimos dez dias

Ativistas dizem que mais de 400 estariam detidos; grupos paramilitares também estariam atuando na repressão a movimento

Eduardo Verdugo - 4.dez.2006/Associated Press
Flavio Sosa, um dos dirigentes dos protestos, que foi detido


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A OAXACA, MÉXICO

Flavio Sosa, um dos líderes da rebelião popular que há seis meses paralisa a cidade de Oaxaca, no sul do México, foi detido na noite de segunda-feira na Cidade do México, junto com o irmão dele, Horacio, e mais dois ativistas da Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO). Eles estão em uma prisão de segurança máxima.
Desde o dia 25 de novembro, foram detidos mais de 200 integrantes da APPO, que reúne todas as organizações sociais do conflito. Segundo a APPO, 400 militantes estão presos. Grupos paramilitares também estariam "desaparecendo" integrantes da APPO. O Comitê contra a Tortura da ONU recomendou ao governo mexicano que investigue as denúncias.
A maior onda de repressão naquela que é considerada a mais bela cidade colonial do México começou em 25 de novembro, quando confrontos entre a Polícia Federal e manifestantes terminaram com o incêndio de quase 20 prédios públicos. Os líderes da APPO são acusados de vandalismo e posse ilegal de armas.
O governador do Estado de Oaxaca, Ulises Ruiz, declarou que "não haverá anistia para os vândalos". A procuradora-geral do Estado de Oaxaca, Lizbeth Caña Cadeza, chamou a APPO de "guerrilha urbana" e assinou as ordens de detenção.
A rebelião começou com uma greve dos 70 mil professores do Estado, o segundo mais pobre do México, em maio. Desde 1983, o sindicato dos professores organiza uma greve nessa época por reajuste salarial.
Só que, desta vez, o governador Ruiz não só não atendeu à demanda dos professores como ordenou uma violenta repressão. Professores acampados na praça principal da capital foram desalojados à força.
Mas eles voltaram pouco depois. Cerca de 10 mil professores ocuparam o centro histórico a partir de junho. A eles, se juntaram todos aqueles que tinham alguma pendência ou reivindicação grave a fazer ao governador, do movimento indígena a sindicalistas, de grupos guerrilheiros a desempregados. Assim surgiu a APPO.
A prioridade se tornou derrubar o governador, um caudilho do Partido Revolucionário Institucional (PRI), sigla que governou o México por 71 anos (1929-2000). Manifestantes ocuparam os principais prédios do governo estadual. Emissoras de rádio foram tomadas e o vandalismo se generalizou.
As lideranças da APPO revelam um movimento multifacetado. Junto com indígenas, feministas, stalinistas e professores, há operadores políticos ligados ao PRI. O detido Flavio Sosa, apesar de ser um dos líderes mais visíveis do movimento, é criticado por colegas.
Sosa, 53, participou de organizações de esquerda e de trabalhadores rurais nos anos 70 e 80. Mas, nos últimos anos, ele foi operador político do ex-governador de Oaxaca, José Murat, inimigo do atual Ulises Ruiz, e participou da campanha à Presidência do conservador Vicente Fox, do PAN (Partido da Ação Nacional).
"Gente como Sosa desvirtuou um protesto dos professores em busca de um ajuste de contas entre chefes do PRI", diz Patricia Mercado, líder do partido Alternativa (esquerda), derrotada nas eleições presidenciais de julho passado.
A repressão em Oaxaca coincide com a transição no governo federal, após a posse, na sexta-feira, do conservador Felipe Calderón, do PAN.


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