São Paulo, domingo, 6 de dezembro de 1998

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CASAMENTO ON LINE
Mulheres procuram maridos norte-americanos; mais de mil russas casam nos EUA anualmente
Noivas russas viram negócio na Internet

MARCELO STAROBINAS
especial para a Folha

A russa Olga Apachova, 23, sonha acordada com seu príncipe encantado: ele tem de ser bonito, gentil, deve gostar de crianças e... ser norte-americano.
Milhares de mulheres da Rússia e das antigas repúblicas soviéticas estão usando a Internet para realizar sonho semelhante ao de Olga: encontrar um marido ocidental, de preferência dos EUA, e ir viver no exterior.
Pelo menos uma centena de agências operam nesse "mercado" do casamento russo-americano, recém-instalado na rede mundial de computadores.
Segundo o diário espanhol "El País", a cada mês, o consulado dos EUA em Moscou concede pelo menos cem vistos especiais a mulheres comprometidas com cidadãos norte-americanos. Ou seja, mais de mil russas têm atravessado anualmente o oceano para se casar nos EUA.
O número crescente de requerimentos de "vistos de noiva" no país levou os agentes de imigração dos EUA a redobrar a vigilância.
Dois anos depois de casados, os casais russo-americanos são submetidos a interrogatório. Separadamente, marido e mulher devem contar detalhes íntimos -desde o lado da cama em que dormem até a cor do pijama ou o tipo de roupas de baixo usadas pelo cônjuge.
² Jovens e viúvas
Nos web sites das agências, enfileiram-se fotos e mais fotos de mulheres que disputam corações estrangeiros. Lá estão jovens de 18 anos da Lituânia, de Moscou ou da Sibéria, divorciadas de meia-idade com filhos ou senhoras de idade mais avançada, solteiras ou viúvas.
Os homens que navegam pelos sites das agências observam as imagens e os breves perfis das candidatas. Passam então a se corresponder, por carta ou e-mail, com aquelas de sua preferência.
Os donos das agências de matrimônio atribuem a uma soma de fatores o exagerado número de candidatas a mulher de americano.
"A Rússia sempre esteve fechada para o resto do mundo. As mulheres russas imaginam que os outros países são lugares melhores para se viver", opina Oleg Naiandin, representante da agência Elegy International nos EUA.
"Além disso, a situação econômica está difícil, o que as empurra a tomar a dura decisão de deixar seu país de origem."
A russa Galina Finkelman, 27, que casou com um californiano este ano, afirma que as condições econômicas pesaram em sua decisão de trocar de país.
"Minha vida é muito melhor aqui", disse, por telefone, de sua casa em Costa Masa, na Califórnia. "Antes de vir, pensei que, nos EUA, poderia ter melhores condições econômicas para criar meus filhos", afirma.
Galina diz também que se sente muito mais segura na cidade onde vive atualmente.
² Siberianas
A maior parte das russas catalogadas na Internet mora próximo às duas principais cidades do país: Moscou e São Petersburgo. É nessa região que estão dois terços dos cerca de 1 milhão de internautas russos.
Algumas agências, porém, buscam promoção no componente exótico de mulheres de localidades mais remotas. É o caso, por exemplo, da The Siberian Women of Novosibirsk, Russia (As mulheres siberianas de Novosibirsk, Rússia). A Sibéria é uma região na parte asiática do país.
O web site da agência afirma ter catalogado em vídeo, até a semana passada, 1.724 siberianas. Os clientes de todo o mundo podem comprar as fitas, ao preço de US$ 89, e escolher aquelas com quem desejam se corresponder.
A home page está traduzida em vários idiomas, inclusive português, onde o texto afirma que as mulheres da Sibéria "não estão estragadas pela cultura ocidental". "Em Novosibirsk, você não encontrará um McDonald"s ou uma loja Gap, nem poderá usar cartão de crédito", diz texto no web site.
Países do Leste Europeu -como República Tcheca, Romênia e Polônia- também têm sites de mulheres que estão à procura de maridos ocidentais.



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