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Israel querer sobreviver é proporcional
ANDRÉ GLUCKSMANN
Diante de um conflito,
as opiniões se dividem entre os incondicionais, as
pessoas que decidiram de
uma vez por todas quem
está certo e quem está errado, e os circunspectos,
as pessoas que julgam cada
ação como oportuna ou
inoportuna de acordo com
as circunstâncias.
O confronto em Gaza
deixa antever uma ponta
de esperança, apesar das
imagens de choque. O fanatismo dos incondicionais parece ser minoritário. A discussão entre os israelenses (era este o momento de agir? até que
ponto?) se desenrola como é comum em uma democracia. O que surpreende é que um debate semelhante parece começar entre os palestinos e aqueles
que os apoiam, a ponto de
Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, ter ousado imputar ao Hamas, com a ruptura da trégua, a responsabilidade inicial pelo sofrimento dos civis de Gaza.
As reações da opinião
pública mundial -a mídia,
os diplomatas, as autoridades- é que infelizmente
parecem defasadas. É importante enfatizar a palavra que mais se ouve entre
os adeptos de uma incondicionalidade de terceiro
tipo, os que condenam a
reação de Israel como
"desproporcional". A condenação a priori do excesso judaico regula o fluxo
das reflexões.
Consulte o dicionário:
"desproporcional é aquilo
que está fora de proporção" -seja porque não
existe uma proporção, seja
porque esta se vê rompida.
É a segunda acepção que é
utilizada para fustigar os
israelenses. Subentende-se que existe um estado
normal do conflito entre o
Hamas e Israel e que a belicosidade israelense o desequilibra, como se o conflito não fosse, como todos
os conflitos sérios, desproporcional desde a origem.
Qual seria a proporção
justa? O Exército israelense não deveria usar sua supremacia técnica e se limitar a empregar as mesmas
armas do Hamas - a guerra com foguetes imprecisos, ou a guerra dos atentados suicidas, da escolha
deliberada da população
civil como alvo? Ou Israel
deveria simplesmente esperar com toda paciência
até que o Hamas, graças à
assistência do Irã e da Síria, pudesse "equilibrar"
seu poder de fogo?
A menos que se deva levar em conta não apenas
os meios militares, mas os
objetivos almejados. Porque o Hamas, ao contrário
da Autoridade Palestina,
se obstina em não reconhecer o direito do Estado
judaico a existir e sonha
com a aniquilação de seus
cidadãos, será que Israel
deveria imitá-lo em seu radicalismo e promover uma
limpeza étnica?
Não é possível trabalhar
pela paz no Oriente Médio
se não escaparmos às tentações da incondicionalidade, que perturbam tanto
os fanáticos extremistas
quanto as almas angelicais
que concebem uma "proporção" ilusória.
No Oriente Médio, a luta
não gira em torno de fazer
respeitar a regra do jogo,
mas sim de estabelecê-la.
É possível discutir a oportunidade de iniciativas militares ou políticas sem
com isso supor que o problema estará resolvido
com antecedência pela
mão invisível da boa consciência mundial. Querer
sobreviver não é desproporcional.
ANDRÉ GLUCKSMANN é filósofo. Este
artigo foi publicano no "Monde"
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