São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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Com arsenal vasto, desafio israelense é evitar civis

Com tanques adaptados e helicópteros, país combate morteiros e foguetes "caseiros" guardados em zonas urbanas superpopulosas

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A resposta de Israel aos ataques terroristas do Hamas com foguetes envolve forças navais, aéreas e terrestres e está diretamente vinculada ao tipo da ameaça. O Hamas usa uma grande quantidade de foguetes de fabricação local, "caseira", além de granadas de morteiro, e uma quantidade menor de foguetes de maior alcance.
Só em 2008 foram disparados 1.750 foguetes e 1.528 granadas de morteiro contra civis israelenses, o dobro de 2007. E agora começaram os primeiros disparos com armas de alcance de em torno de 40 km -o que coloca um milhão de pessoas em risco em Israel.
O problema para os israelenses é semelhante, embora em escala maior, ao que a polícia brasileira enfrenta ao lidar com traficantes armados em uma favela. Os traficantes podem usar táticas de terror, atirando contra alvos em torno de suas "bases". Eles dispõem de fuzis capazes de matar a centenas de metros e às vezes têm até metralhadoras com alcance maior.
O desafio para a polícia é atingi-los sem causar "danos colaterais" aos moradores da favela. O mesmo vale para a superpopulosa faixa de Gaza.
A tecnologia ajuda até certo ponto. Radares localizam os disparos e permitem o chamado fogo de "contrabateria" com canhões, como o autopropulsado M-109, ou, em costas, com canhões navais. Helicópteros ou aviões visualizam os pontos de lançamento de foguetes à distância, de dia ou de noite, e passam as coordenadas a caça-bombardeiros, como o F-16.
Por ser um território relativamente pequeno, até recentemente ocupado pelos israelenses, a faixa de Gaza também facilita a obtenção de inteligência sobre os alvos -algo que era bem mais difícil na guerra do Líbano em 2006 contra o Hizbolah. Isso permite atacar diretamente a liderança do Hamas e seus arsenais, muitos deles subterrâneos. Filmes divulgados pelas forças armadas de Israel mostram as chamadas explosões "secundárias" desses arsenais depois de atingidos.
O maior problema israelense é a mobilidade dos foguetes do Hamas. Os modelos "caseiros" da série Qassam podem ser fabricados em oficinas simples e disparados de qualquer quintal.
Os modelos propriamente militares são disparados de caminhões, como o comum BM-21 Grad de fabricação russa, popularmente conhecido desde a Segunda Guerra como "katyusha". O BM-21 tem alcance de cerca de 20 km, mas já há relatos de uma versão com o dobro de alcance, o lança-foguetes chinês WS-1E.
Para tentar eliminar a ameaça dos foguetes é preciso portanto avançar com tropas terrestres. Cortar a faixa ao meio permitiu lidar com a ameaça prioritária ao norte da região. A tática já tradicional de combate urbano envolve sucessivamente ir "recortando" o terreno em áreas menores, e fazendo sua "limpeza" uma de cada vez.
A ênfase em combate urbano gerada pela guerra no Líbano fez os israelenses reforçarem a blindagem dos seus tanques e veículos de transporte de tropas, além de aperfeiçoarem a capacidade de combater sem se expor fora. Um exemplo é o blindado Achzarit ("mulher cruel"), que foi adaptado de tanques russos T-54 e T-55 capturados em guerras prévias.
Mas para "limpar" uma área urbana de um inimigo entocado é preciso deixar o veículo e combater a pé. É quando os israelenses ficam mais vulneráveis, e quando o Hamas pode, em tese, infligir mais baixas.


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