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Crise do gás provoca desabastecimento no Leste Europeu
Exportação russa para o continente cai drasticamente em meio à disputa entre Kiev e Moscou; Eslováquia declara emergência
União Europeia diz que corte é "inaceitável" e estuda plano de contingência, mas evita tomar partido; para analista, bloco está dividido
DA REDAÇÃO
O envio de gás russo para a
Europa foi reduzido drasticamente, em uma escalada da disputa entre as estatais energéticas da Rússia e Ucrânia que
ameaça o abastecimento europeu em pleno inverno. A Áustria, entreposto de exportações
para Alemanha e a Europa
Central, registrou queda de
90% no recebimento de gás,
crucial para a indústria e para o
aquecimento de edifícios.
Sem alternativa ao gás russo,
a Eslováquia declarou ontem
estado de emergência. O governo da Bulgária, onde a temperatura chegou ontem a 15C negativos, fez uma reunião emergencial após a paralisação do
gasoduto que abastece o país, a
Turquia, a Grécia e a Macedônia. O estoque búlgaro é suficiente para apenas dois dias.
O efeito dos cortes foi menos
dramático nos países mais poderosos, que têm maiores estoques e fornecedores alternativos. A Alemanha, maior mercado do gás russo, registrou "reduções significativas" no fluxo,
mas recebe gás também por dutos vindos de Belarus. No Reino
Unido, o preço do gás subiu
mais de 10%.
Especialistas da UE devem se
reunir na próxima sexta-feira
para discutir um plano de contingência para levar gás aos países mais afetados. A norueguesa StatoilHydro, segunda maior
fornecedora do continente,
alertou que o aumento de oferta é "limitado".
Rússia e Ucrânia, por onde
passa 80% do gás russo exportado para a UE, trocam acusações sobre o desabastecimento.
Moscou acusa Kiev de roubar
gás destinado à Europa desde o
corte do fornecimento ao país,
em 1º de janeiro, em meio ao
impasse sobre o preço a ser pago pelo produto, a taxa de
transporte e dívidas contestadas pela Ucrânia. Kiev admite
ter usado parte do gás para "necessidades operacionais" do
transporte, mas afirma que a
crise foi provocada pela redução no envio, admitida pela estatal russa Gazprom.
Reação europeia
O corte, "sem aviso prévio e
contrariando garantias dadas"
por Moscou e Kiev, é "inaceitável", afirma nota da Comissão
Europeia e da República Tcheca, atualmente na presidência
do bloco. O texto evita, porém,
apoiar qualquer um dos lados,
exortando os países a resolverem bilateralmente a "disputa
comercial".
Para o analista James Nixey,
do instituto de pesquisas internacionais Chatham House, a
relutância europeia em assumir uma posição na disputa reflete divergência internas. "A
UE não é um ator unificado. Os
países têm uma relação distinta
com Rússia e veem de modo diferente a dependência energética", disse à Folha.
Nixey ressaltou que não houve uma "reação europeia", unificada, à crise de abastecimento de 2006, também provocada
por disputas entre Kiev e Moscou. Ao contrário: enquanto alguns países atacavam a dependência energética, outros reforçavam os laços com Moscou.
O cenário geopolítico é semelhante ao de 2006, com tensões entre Kiev, pró-Ocidente,
e Moscou. Mas, desta vez, o
Kremlin está mais interessado
em euros do que em barganha
política, segundo o analista.
"A Rússia precisa do faturamento tanto quando a Europa
precisa do gás. O mercado de
ações despencou [em 2007], o
país está desesperado", disse.
Moscou e Kiev precisam de um
acordo.0
(CLARA FAGUNDES)
Com "Financial Times" e agências internacionais
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