São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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Crise do gás provoca desabastecimento no Leste Europeu

Exportação russa para o continente cai drasticamente em meio à disputa entre Kiev e Moscou; Eslováquia declara emergência

União Europeia diz que corte é "inaceitável" e estuda plano de contingência, mas evita tomar partido; para analista, bloco está dividido

DA REDAÇÃO

O envio de gás russo para a Europa foi reduzido drasticamente, em uma escalada da disputa entre as estatais energéticas da Rússia e Ucrânia que ameaça o abastecimento europeu em pleno inverno. A Áustria, entreposto de exportações para Alemanha e a Europa Central, registrou queda de 90% no recebimento de gás, crucial para a indústria e para o aquecimento de edifícios.
Sem alternativa ao gás russo, a Eslováquia declarou ontem estado de emergência. O governo da Bulgária, onde a temperatura chegou ontem a 15C negativos, fez uma reunião emergencial após a paralisação do gasoduto que abastece o país, a Turquia, a Grécia e a Macedônia. O estoque búlgaro é suficiente para apenas dois dias.
O efeito dos cortes foi menos dramático nos países mais poderosos, que têm maiores estoques e fornecedores alternativos. A Alemanha, maior mercado do gás russo, registrou "reduções significativas" no fluxo, mas recebe gás também por dutos vindos de Belarus. No Reino Unido, o preço do gás subiu mais de 10%.
Especialistas da UE devem se reunir na próxima sexta-feira para discutir um plano de contingência para levar gás aos países mais afetados. A norueguesa StatoilHydro, segunda maior fornecedora do continente, alertou que o aumento de oferta é "limitado".
Rússia e Ucrânia, por onde passa 80% do gás russo exportado para a UE, trocam acusações sobre o desabastecimento.
Moscou acusa Kiev de roubar gás destinado à Europa desde o corte do fornecimento ao país, em 1º de janeiro, em meio ao impasse sobre o preço a ser pago pelo produto, a taxa de transporte e dívidas contestadas pela Ucrânia. Kiev admite ter usado parte do gás para "necessidades operacionais" do transporte, mas afirma que a crise foi provocada pela redução no envio, admitida pela estatal russa Gazprom.

Reação europeia
O corte, "sem aviso prévio e contrariando garantias dadas" por Moscou e Kiev, é "inaceitável", afirma nota da Comissão Europeia e da República Tcheca, atualmente na presidência do bloco. O texto evita, porém, apoiar qualquer um dos lados, exortando os países a resolverem bilateralmente a "disputa comercial".
Para o analista James Nixey, do instituto de pesquisas internacionais Chatham House, a relutância europeia em assumir uma posição na disputa reflete divergência internas. "A UE não é um ator unificado. Os países têm uma relação distinta com Rússia e veem de modo diferente a dependência energética", disse à Folha.
Nixey ressaltou que não houve uma "reação europeia", unificada, à crise de abastecimento de 2006, também provocada por disputas entre Kiev e Moscou. Ao contrário: enquanto alguns países atacavam a dependência energética, outros reforçavam os laços com Moscou.
O cenário geopolítico é semelhante ao de 2006, com tensões entre Kiev, pró-Ocidente, e Moscou. Mas, desta vez, o Kremlin está mais interessado em euros do que em barganha política, segundo o analista.
"A Rússia precisa do faturamento tanto quando a Europa precisa do gás. O mercado de ações despencou [em 2007], o país está desesperado", disse. Moscou e Kiev precisam de um acordo.0 (CLARA FAGUNDES)


Com "Financial Times" e agências internacionais


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