São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Iêmen rejeita intervenção estrangeira em seu solo

Acusado de fraqueza perante radicais, país descarta aceitar tropas externas

Governo diz que ofensiva à Al Qaeda resultou em oito prisões e que idealizador de ataque frustrado nos EUA no Natal está encurralado


Associated Press
Agente de unidade antiterror iemenita treina perto de Sanaa

DA REDAÇÃO

Criticado pela fraqueza diante dos grupos extremistas refugiados em seu território, o Iêmen rejeitou ontem qualquer intervenção estrangeira e disse ser até agora bem-sucedida a ofensiva que lançou contra a Al Qaeda na semana passada.
O governo iemenita está sob pressão depois que foi revelado que o autor de uma tentativa de atentado a um voo comercial americano rumo a Detroit no Natal recebeu no Iêmen as instruções para agir.
"Tenho certeza de que a experiência [dos EUA] no Iraque, Afeganistão e Paquistão será útil para entenderem que intervenções diretas só complicam as coisas", disse o chanceler iemenita, Abu Bakr al Qirbi. Ele se referia às dificuldades dos militares americanos de derrotarem inimigos nos três países citados.
O chanceler afirmou que o prometido aumento da ajuda militar fornecida há anos por Washington para combater radicais é bem-vindo e útil e pediu a intensificação dos treinamentos ministrados por militares americanos a forças iemenitas. Mas ele insistiu em que a parceria não deve ir além disso.
Na semana passada, Al Qirbi negou que haja um acordo entre Sanaa e Washington para permitir que aviões americanos não tripulados ataquem alvos no Iêmen, um país pobre e montanhoso suspeito de ter se tornado nos últimos anos santuário de grupos extremistas islâmicos de toda a região.

Posição delicada
As declarações do ministro ilustram a delicada posição em que o governo do Iêmen se encontra após o atentado frustrado do último Natal.
Por um lado, o presidente Abdullah Saleh, no poder desde 1978, busca se mostrar um fiel aliado dos EUA na luta contra o terror, principalmente depois que a Casa Branca qualificou o Iêmen de ameaça para a segurança global. Pesa ainda contra o presidente o seu histórico de conivência com lideranças tribais hoje suspeitas de compor a rede de apoio local à Al Qaeda.
Mais pobre entre os países árabes, o Iêmen é duplamente dependente da ajuda ocidental: o apoio econômico ajuda a compensar a queda nas arrecadações petroleiras resultantes do esgotamento das reservas do país, e o militar é crucial no combate aos rebeldes xiitas ao norte e aos sunitas ao sul, que se arrasta há anos.
Como parte de uma estratégia que visa mostrar controle sobre a situação, o Iêmen lançou nos últimos dias ofensiva contra alvos nos arredores da capital e em três Províncias dominadas por rebeldes suspeitos de dar abrigo a militantes radicais oriundos de Paquistão, Afeganistão e Arábia Saudita.
Segundo Sanaa, a operação, sem prazo para terminar, já resultou na captura de oito membros da Al Qaeda, três dos quais foram presos e feridos ontem após resistirem aos militares.
O governo também diz ter atingido ontem o esconderijo do suposto mandante da tentativa de ataque contra o avião americano. Segundo militares, Mohammed Ahmed al Hanaq conseguiu fugir, mas está encurralado ao norte da capital.
O governo americano elogiou a operação e aos poucos normaliza as atividades de sua embaixada em Sanaa, que havia sido fechada durante dois dias por temores de ataques -a Al Qaeda cometeu 60 ataques no país desde 1992, entre eles o que matou 17 militares do destróier USS Cole (no ano 2000).
Mas, ao atender a pressões das potências, o governo iemenita corre o risco de ser visto pela população local, predominantemente religiosa e crítica aos EUA, como alinhado a interesses estrangeiros. O antiamericanismo pode favorecer o recrutamento dos extremistas.
Analistas e governos concordam em que o combate à pobreza deve ser prioritário nos esforços globais para impedir que o Iêmen seja um país incubador do terrorismo.

Com agências internacionais



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