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Com disputa acirrada, decisão democrata pode ir para o tapetão
LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO
Hillary Clinton e Barack
Obama parecem tão empatados -o "Financial Times" e a
CNN afirmam que, em votos
até agora, eles realmente estão- que, se nenhum fator novo der claro impulso à candidatura de um ou de outro nas próximas semanas, um temor latente pode se concretizar: o de
que a disputa democrata acabe
no tapetão. Uma decisão tomada pelas instâncias mais altas
do partido, e não nas urnas.
Analistas já advertiam para a
possibilidade de a escolha do
candidato do partido na eleição
presidencial de 4 de novembro
ser decidida só na convenção
partidária, na última semana
de agosto, em Denver. Após a
Superterça, anteontem, essas
previsões só pioraram.
Seria o óbvio -afinal, convenções partidárias são para
escolher candidato-, mas não
é. Nos EUA, normalmente, a
disputa é decidida já ao longo
das votações prévias, que neste
ano vão até junho. Em 2000 e
2004, Al Gore e John Kerry,
respectivamente, chegaram à
convenção já consagrados. A
vantagem era tão larga, ainda
que não houvesse maioria, que
seus adversários foram desistindo pelo caminho.
Agora a situação é totalmente diferente. Na convenção haverá, segundo cálculo feito em
janeiro, 3.253 delegados -os
representantes aptos a votar a
que cada pré-candidato tem direito de acordo com sua performance nos Estados.
A vantagem de Hillary está
hoje, pelas estimativas, na casa
das dezenas. É quase nada, dado o universo, e nem sequer há
consenso sobre isso -a campanha de Obama já diz que o senador a teria superado após a Superterça (a distribuição de delegados não terminou ainda).
Com isso, ganham importância crescente os superdelegados. Estes nada mais são do que
figuras importantes no partido
-atuais e antigos ocupantes de
cargos eletivos, além de diretores da agremiação- que podem
votar em quem bem entenderem no dia da convenção, sem
necessidade de seguir a vontade das urnas. Tratam-se de 796
votos, que contam tanto quanto os dos delegados decididos
em primárias. Para conquistar
a candidatura, Hillary ou Obama terão de ter 2.025 votos.
Rede de proteção
O sistema é resultado de uma
série de reformas promovidas
nos últimos anos dentro do
partido, e o número de superdelegados varia para abrigar todos os que conquistam postos
de destaque.
"Os superdelegados foram
criados para proteger os favoritos e garantir que um azarão
não acabe levando tudo", escreve o colunista-chefe do site de
análise "Politico.com", Roger
Simon, em seu blog. Do mesmo
jeito que, diz, a complicada divisão distrital de representatividade serve para dar chance
aos pequenos.
A senadora por Nova York
vem até então se gabando de ter
apoio maior entre essa turma,
mas, com o avanço de Obama
nas urnas, a opinião desses figurões pode também balançar.
Se isso acontecer, a decisão
sobre o nome do candidato pode ficar inteiramente nas mãos
da cúpula do partido.
É que Hillary luta para que os
resultados na Flórida e em Michigan, que perderam o direito
a representação na convenção
por anteciparem suas prévias
sem autorização, sejam válidos.
A ex-primeira-dama venceu
no primeiro, onde é popular, e
no segundo -mas ali Obama
não concorreu. São, respectivamente, 210 e 156 delegados. No
eventual tapetão democrata,
eles fariam toda a diferença.
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