São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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Com disputa acirrada, decisão democrata pode ir para o tapetão

LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

Hillary Clinton e Barack Obama parecem tão empatados -o "Financial Times" e a CNN afirmam que, em votos até agora, eles realmente estão- que, se nenhum fator novo der claro impulso à candidatura de um ou de outro nas próximas semanas, um temor latente pode se concretizar: o de que a disputa democrata acabe no tapetão. Uma decisão tomada pelas instâncias mais altas do partido, e não nas urnas.
Analistas já advertiam para a possibilidade de a escolha do candidato do partido na eleição presidencial de 4 de novembro ser decidida só na convenção partidária, na última semana de agosto, em Denver. Após a Superterça, anteontem, essas previsões só pioraram.
Seria o óbvio -afinal, convenções partidárias são para escolher candidato-, mas não é. Nos EUA, normalmente, a disputa é decidida já ao longo das votações prévias, que neste ano vão até junho. Em 2000 e 2004, Al Gore e John Kerry, respectivamente, chegaram à convenção já consagrados. A vantagem era tão larga, ainda que não houvesse maioria, que seus adversários foram desistindo pelo caminho.
Agora a situação é totalmente diferente. Na convenção haverá, segundo cálculo feito em janeiro, 3.253 delegados -os representantes aptos a votar a que cada pré-candidato tem direito de acordo com sua performance nos Estados.
A vantagem de Hillary está hoje, pelas estimativas, na casa das dezenas. É quase nada, dado o universo, e nem sequer há consenso sobre isso -a campanha de Obama já diz que o senador a teria superado após a Superterça (a distribuição de delegados não terminou ainda).
Com isso, ganham importância crescente os superdelegados. Estes nada mais são do que figuras importantes no partido -atuais e antigos ocupantes de cargos eletivos, além de diretores da agremiação- que podem votar em quem bem entenderem no dia da convenção, sem necessidade de seguir a vontade das urnas. Tratam-se de 796 votos, que contam tanto quanto os dos delegados decididos em primárias. Para conquistar a candidatura, Hillary ou Obama terão de ter 2.025 votos.

Rede de proteção
O sistema é resultado de uma série de reformas promovidas nos últimos anos dentro do partido, e o número de superdelegados varia para abrigar todos os que conquistam postos de destaque.
"Os superdelegados foram criados para proteger os favoritos e garantir que um azarão não acabe levando tudo", escreve o colunista-chefe do site de análise "Politico.com", Roger Simon, em seu blog. Do mesmo jeito que, diz, a complicada divisão distrital de representatividade serve para dar chance aos pequenos.
A senadora por Nova York vem até então se gabando de ter apoio maior entre essa turma, mas, com o avanço de Obama nas urnas, a opinião desses figurões pode também balançar.
Se isso acontecer, a decisão sobre o nome do candidato pode ficar inteiramente nas mãos da cúpula do partido.
É que Hillary luta para que os resultados na Flórida e em Michigan, que perderam o direito a representação na convenção por anteciparem suas prévias sem autorização, sejam válidos.
A ex-primeira-dama venceu no primeiro, onde é popular, e no segundo -mas ali Obama não concorreu. São, respectivamente, 210 e 156 delegados. No eventual tapetão democrata, eles fariam toda a diferença.

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