São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/VISÃO DE FORA

Os árabes preferem Obama e Israel, Hillary

Analistas do Oriente Médio comentam divergências de expectativas na região

Pré-candidatos dão pouco destaque à agenda externa, mas campanha mobiliza governos e opiniões na área mais sensível do planeta

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em poucos lugares do mundo o resultado da eleição presidencial americana terá um impacto tão grande como no Oriente Médio. Mídia, população e governos da região acompanham com especial atenção a campanha nos Estados Unidos e esperam ansiosos para ver o que o próximo ocupante da Casa Branca fará com o legado deixado por dois mandatos do republicano George W. Bush.
Com exceção do Iraque, assunto sobre o qual todos os pré-candidatos se posicionaram, democratas e republicanos não apresentaram projetos claros sobre os problemas da região mais sensível do planeta -conflito entre israelenses e palestinos, impasse político no Líbano, ingerência síria na região, programa nuclear iraniano.
Apesar da cautela dos presidenciáveis americanos em discutir sobre política externa, numa campanha mais voltada para questões domésticas, o Oriente Médio vive em clima de grande expectativa, segundo especialistas locais consultados pela reportagem da Folha.
Por sua experiência de criança na Indonésia, país muçulmano, sua oposição à Guerra do Iraque e sua defesa do multilateralismo, o pré-candidato democrata Barack Obama conquistou a simpatia da opinião pública nos países árabes. "Fala-se muito das eleições americanas por aqui. O assunto está todo dia na capa dos jornais e Obama tem a clara preferência dos árabes", disse Lina Hamdan, do instituto Carnegie, em Beirute, no Líbano.
A mídia árabe encara Hillary Clinton, concorrente de Obama nas prévias democratas, como totalmente aliada a Israel. "Ela nunca fez o menor esforço para se aproximar dos árabes ou conhecê-los melhor", diz a analista libanesa.
Prevalece entre os muçulmanos do Oriente Médio o sentimento de que todos os candidatos republicanos pensam em continuar a agressiva política de Bush na região -rejeição do diálogo com a Síria, isolamento do Hamas em Gaza e do Hizbollah no Líbano, projeto de um ataque contra o Irã.
Em Israel, governo e população estão confiantes de que as relações privilegiadas com os EUA continuarão qualquer que seja o resultado da eleição, segundo Shmuel Rosner, do jornal "Haaretz". Rosner minimiza a recente controvérsia surgida em Israel, quando jornais acusaram Obama de ser pró-palestino. "Os israelenses não acham Obama tão terrível, eles apenas querem outros candidatos", afirmou Rosner, citando Hillary e o republicano John McCain, na ordem de preferência de Israel.
A confiança israelense se reflete na desilusão dos palestinos. "Para eles, todos os políticos americanos obedecem a uma estratégia de Estado, que é de apoio irrestrito a Israel", comenta Gibril Mohamed, da ONG Panorama, em Ramallah.
A falta de esperança também aflige o Iraque. "Os iraquianos não se importam com as eleições e não acreditam em mudança da política americana para o Iraque", expõe Mohammed Rubaie, um editorialista de Bagdá. "Quem acompanha as eleições são os políticos. Eles acham que, se os democratas vencerem, haverá mudanças, mas ninguém sabe quais", ironiza o analista.
De acordo com o libanês François Zabbal, a falta de projeções diplomáticas na campanha afeta os governos da região, árabes principalmente, que adotaram uma posição de cautela -não se posicionam sobre a eleição e evitam grandes manobras geopolíticas. "O Oriente Médio tende a ficar mais calmo nos próximos meses. Ninguém quer problemas com o futuro presidente dos EUA", diz Zabbal.

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