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SUCESSÃO NOS EUA/VISÃO DE FORA
Os árabes preferem Obama e Israel, Hillary
Analistas do Oriente Médio comentam divergências de expectativas na região
Pré-candidatos dão pouco destaque à agenda externa, mas campanha mobiliza governos e opiniões na área mais sensível do planeta
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em poucos lugares do mundo o resultado da eleição presidencial americana terá um impacto tão grande como no
Oriente Médio. Mídia, população e governos da região acompanham com especial atenção a
campanha nos Estados Unidos
e esperam ansiosos para ver o
que o próximo ocupante da Casa Branca fará com o legado
deixado por dois mandatos do
republicano George W. Bush.
Com exceção do Iraque, assunto sobre o qual todos os pré-candidatos se posicionaram,
democratas e republicanos não
apresentaram projetos claros
sobre os problemas da região
mais sensível do planeta -conflito entre israelenses e palestinos, impasse político no Líbano, ingerência síria na região,
programa nuclear iraniano.
Apesar da cautela dos presidenciáveis americanos em discutir sobre política externa, numa campanha mais voltada para questões domésticas, o
Oriente Médio vive em clima
de grande expectativa, segundo
especialistas locais consultados
pela reportagem da Folha.
Por sua experiência de criança na Indonésia, país muçulmano, sua oposição à Guerra
do Iraque e sua defesa do multilateralismo, o pré-candidato
democrata Barack Obama conquistou a simpatia da opinião
pública nos países árabes. "Fala-se muito das eleições americanas por aqui. O assunto está
todo dia na capa dos jornais e
Obama tem a clara preferência
dos árabes", disse Lina Hamdan, do instituto Carnegie, em
Beirute, no Líbano.
A mídia árabe encara Hillary
Clinton, concorrente de Obama nas prévias democratas, como totalmente aliada a Israel.
"Ela nunca fez o menor esforço
para se aproximar dos árabes
ou conhecê-los melhor", diz a
analista libanesa.
Prevalece entre os muçulmanos do Oriente Médio o sentimento de que todos os candidatos republicanos pensam em
continuar a agressiva política
de Bush na região -rejeição do
diálogo com a Síria, isolamento
do Hamas em Gaza e do Hizbollah no Líbano, projeto de um
ataque contra o Irã.
Em Israel, governo e população estão confiantes de que as
relações privilegiadas com os
EUA continuarão qualquer que
seja o resultado da eleição, segundo Shmuel Rosner, do jornal "Haaretz". Rosner minimiza a recente controvérsia surgida em Israel, quando jornais
acusaram Obama de ser pró-palestino. "Os israelenses não
acham Obama tão terrível, eles
apenas querem outros candidatos", afirmou Rosner, citando Hillary e o republicano
John McCain, na ordem de
preferência de Israel.
A confiança israelense se reflete na desilusão dos palestinos. "Para eles, todos os políticos americanos obedecem a
uma estratégia de Estado, que é
de apoio irrestrito a Israel", comenta Gibril Mohamed, da
ONG Panorama, em Ramallah.
A falta de esperança também
aflige o Iraque. "Os iraquianos
não se importam com as eleições e não acreditam em mudança da política americana
para o Iraque", expõe Mohammed Rubaie, um editorialista
de Bagdá. "Quem acompanha
as eleições são os políticos. Eles
acham que, se os democratas
vencerem, haverá mudanças,
mas ninguém sabe quais", ironiza o analista.
De acordo com o libanês
François Zabbal, a falta de projeções diplomáticas na campanha afeta os governos da região, árabes principalmente,
que adotaram uma posição de
cautela -não se posicionam
sobre a eleição e evitam grandes manobras geopolíticas. "O
Oriente Médio tende a ficar
mais calmo nos próximos meses. Ninguém quer problemas
com o futuro presidente dos
EUA", diz Zabbal.
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