São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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"Marxismo latino" assombra "Tea Party"

Movimento conservador vê América Latina como exemplo negativo de intervencionismo e teme que Obama repita modelo nos EUA

Entre os disseminadores da mensagem está brasileira, que equipara Lula a Chávez; analista diz que visão é fruto de "mania de conspiração"

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A NASHVILLE (EUA)

Para muitos partidários do movimento conservador "Tea Party" nos EUA, há um fantasma que assusta quase tanto quanto o governo Barack Obama. É a América Latina, que veem como exemplo de região dominada pelo intervencionismo, no melhor cenário, e por ditadores marxistas, no pior.
O movimento, uma rede frouxa de ativistas de direita, agitou o país na última semana com a reunião de vários grupos em uma convenção nacional em Nashville.
No encontro, participantes disseram à Folha que "se identificam" com a América Latina, pois "também nos EUA há hoje uma ameaça de socialismo". O termo é alusão a algumas propostas do presidente democrata, como aumento de impostos a famílias ricas e criação de uma agência governamental para oferecer seguros de saúde. Entre os que que espalham a mensagem está Ana Puig, codiretora da organização Patriotas da Mesa da Cozinha. A ativista, que nasceu no Brasil e se mudou para os EUA em 1986, discursa dizendo que "o que está ocorrendo aqui é exatamente o que ocorreu na América Latina -a implementação do marxismo do século 21".
Ela era esperada para a palestra "Paralelos entre o governo atual e ditadores marxistas da América Latina" na Convenção Nacional do "Tea Party", mas desmarcou de última hora. Em eventos similares, porém, Puig afirmou que "líderes latinos [com exceção apenas de chilenos e colombianos] foram eleitos com as mesmas táticas" que os obamistas usam hoje, como "infiltração do sistema educacional, ideologia da luta de classes, lavagem cerebral por meio da mídia e promessas para os pobres".
Uma vez eleitos, diz a brasileira, tais líderes promovem mudanças socialistas e tentam se perpetuar no poder. Ela apresenta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos "marxistas", ao lado de Hugo Chávez (Venezuela) e dos irmãos Castro (Cuba), entre outros. "Se não nos unirmos, vamos criar nossa própria "república de bananas" nos EUA."
"É a típica direita com mania de conspiração", disse à Folha o analista Peter Hakim, presidente do "think tank" Diálogo Interamericano. "O que é comum nessas mensagens é que: 1) há um grande senso de urgência; 2) o que está realmente sendo defendido nunca fica claro; 3) ou você está conosco, ou contra nós (assim Brasil e Cuba ficam iguais); 4) nenhum crime é grande demais para o inimigo; e 5) o inimigo é claro", afirma. Mas nem todos os argumentos são conspiratórios. É o caso da fala de Bruce Donnelly, criador da organização SurgeUSA, simpatizante do "Tea Party". "Vivi no Brasil durante os governos de José Sarney e Fernando Collor, com todos aqueles planos econômicos. Vi que, mesmo bem intencionado, um governo pode criar o caos com o intervencionismo."

Leia entrevista com Joe Bageant, conservador anti-"Tea Party"
www.folha.com.br/100372


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