São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Centro cirúrgico brasileiro dá assistência a refugiados pelo terremoto no Haiti

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

O ortopedista Ricardo Affonso Ferreira, de Campinas, é adepto da aventura. Quatro dias depois do terremoto no Haiti, estava em Santo Domingo com três toneladas de materiais hospitalares à espera do enfermeiro Hernane Santos, de Manaus, e de uma oportunidade para tratar vítimas da catástrofe.
Uma semana depois, conseguiu começar a operar com uma equipe de nove médicos brasileiros. Já estava em "seu" hospital, o Brenda Strafford, pequeno estabelecimento canadense especializado em oftalmologia.
Fica em Les Cayes, cidadezinha à beira-mar, a 200 km e seis horas de viagem de Porto Príncipe. O tremor ali foi fraco, só caíram dois prédios. A catástrofe veio depois, como um tsunami de gente: mais de 80 mil refugiados da capital.
"Já estava cheio de quebrados. Amputamos muita gente", conta, por telefone.
"Começamos com pequenos procedimentos -limpar feridas, amputações que fossem mais necessárias. Devagar começamos com as fraturas, algumas fixações externas. Agora já fazemos 12 a 18 procedimentos por dia."
Essa é a rotina de Ferreira em Campinas, não em suas aventuras pela Amazônia. Fundador da ONG Expedicionários da Saúde, ele atua mais como general do que como ortopedista nas três expedições que organiza por ano para operar índios.
Na última, em novembro, 1.345 saterés-maués do rio Andirá (AM) foram atendidos -136 passaram por operações na barraca-centro cirúrgico dos Expedicionários.
Em geral, corrigem-se cataratas e hérnias. Cirurgias mais simples, compatíveis com um hospital de campanha. Em cinco anos, a ONG realizou 2.111 delas.
A demanda no Haiti é outra, mas não assusta Ferreira. Assustadora, conta, foi a "peregrinação" até Les Cayes.
Em Porto Príncipe, sem garantia de segurança, recusou a oferta de um terreno ao lado do hospital para montar a barraca de cirurgias. Mas ouviu da falta de médicos e dos refugiados de Les Cayes.
Quando chegou à cidadezinha, passou pelo hospital geral e constatou que não tinha como ajudar. Perambulou até encontrar o Brenda Strafford e ser recebido de braços abertos pelo diretor.
Só na quinta sua equipe ficou completa, com a chegada do coronel reformado da Aeronáutica Luís Francisco Macedo, outro voluntário da ONG. Encarregado da logística no Haiti, baixou em Les Cayes acompanhado de três caminhões com suprimentos.
Agora o grupo dispõe de dois centros cirúrgicos no hospital canadense, com cinco autoclaves (equipamento para esterilização) e um aparelho de raios X. Ferreira volta ao Brasil nos próximos dias. Organizará outra turma, que vai render os pioneiros.


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