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Foco
Centro cirúrgico brasileiro dá assistência a refugiados pelo terremoto no Haiti
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
O ortopedista Ricardo Affonso Ferreira, de Campinas,
é adepto da aventura. Quatro
dias depois do terremoto no
Haiti, estava em Santo Domingo com três toneladas de
materiais hospitalares à espera do enfermeiro Hernane
Santos, de Manaus, e de uma
oportunidade para tratar vítimas da catástrofe.
Uma semana depois, conseguiu começar a operar com
uma equipe de nove médicos
brasileiros. Já estava em
"seu" hospital, o Brenda
Strafford, pequeno estabelecimento canadense especializado em oftalmologia.
Fica em Les Cayes, cidadezinha à beira-mar, a 200 km e
seis horas de viagem de Porto
Príncipe. O tremor ali foi fraco, só caíram dois prédios. A
catástrofe veio depois, como
um tsunami de gente: mais de
80 mil refugiados da capital.
"Já estava cheio de quebrados. Amputamos muita gente", conta, por telefone.
"Começamos com pequenos procedimentos -limpar
feridas, amputações que fossem mais necessárias. Devagar começamos com as fraturas, algumas fixações externas. Agora já fazemos 12 a 18
procedimentos por dia."
Essa é a rotina de Ferreira
em Campinas, não em suas
aventuras pela Amazônia.
Fundador da ONG Expedicionários da Saúde, ele atua
mais como general do que como ortopedista nas três expedições que organiza por ano
para operar índios.
Na última, em novembro,
1.345 saterés-maués do rio
Andirá (AM) foram atendidos
-136 passaram por operações na barraca-centro cirúrgico dos Expedicionários.
Em geral, corrigem-se cataratas e hérnias. Cirurgias
mais simples, compatíveis
com um hospital de campanha. Em cinco anos, a ONG
realizou 2.111 delas.
A demanda no Haiti é outra, mas não assusta Ferreira.
Assustadora, conta, foi a "peregrinação" até Les Cayes.
Em Porto Príncipe, sem garantia de segurança, recusou
a oferta de um terreno ao lado
do hospital para montar a
barraca de cirurgias. Mas ouviu da falta de médicos e dos
refugiados de Les Cayes.
Quando chegou à cidadezinha, passou pelo hospital geral e constatou que não tinha
como ajudar. Perambulou até
encontrar o Brenda Strafford
e ser recebido de braços abertos pelo diretor.
Só na quinta sua equipe ficou completa, com a chegada
do coronel reformado da Aeronáutica Luís Francisco Macedo, outro voluntário da
ONG. Encarregado da logística no Haiti, baixou em Les
Cayes acompanhado de três
caminhões com suprimentos.
Agora o grupo dispõe de
dois centros cirúrgicos no
hospital canadense, com cinco autoclaves (equipamento
para esterilização) e um aparelho de raios X. Ferreira volta ao Brasil nos próximos
dias. Organizará outra turma,
que vai render os pioneiros.
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