São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

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Início de diálogo não detém protestos

Regime se reúne com opositores, entre eles a Irmandade Muçulmana, para superar crise que paralisa o Egito

Encontro termina com promessa de concessões pelo vice egípcio, mas manifestantes exigem saída de Mubarak

Hannibal Hanschke/Efe
Manifestantes lotam a praça Tahrir, no Cairo

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Seis grupos de oposição ao ditador Hosni Mubarak, incluindo a oficialmente banida Irmandade Muçulmana, se reuniram ontem pela primeira vez com o governo egípcio para tentar pôr fim à crise política que paralisa o país há 14 dias.
Mas as negociações com o regime, além de fragilizadas por divergências nas fileiras oposicionistas, foram rejeitadas pelos milhares de manifestantes que continuam acampados na Praça Tahrir, no centro do Cairo.
O sentimento dominante no local que se tornou símbolo da resistência ao regime é a de que os protestos só terminarão com a saída de Mubarak, no poder desde um golpe cometido em 1981.
A missão de negociar com a oposição ficou a cargo do general Omar Suleiman, chefe de Inteligência promovido ao recém ressuscitado cargo de vice-presidente e que desfruta do apoio dos EUA.
O encontro foi o primeiro na história no qual o governo conversou com a Irmandade Muçulmana, grupo que mescla atividades políticas, religiosas e de assistência social.
A organização é proibida de formar um partido, mas seus membros podem participar de eleições sob candidatura independente.
Também participaram, entre outros, líderes juvenis, político seculares e o proeminente acadêmico Ahmed Zewail, ganhador do Nobel de Química em 1999.
O ex-diretor da agência nuclear da ONU Mohamed ElBaradei -Nobel da Paz de 2005- se recusou a participar das conversas alegando que elas são ""confusas".
Um representante de ElBaradei se reuniu separadamente com Suleiman.

PROMESSAS
Os interlocutores ouviram do governo promessas apresentadas como grandes concessões, mas que na prática se resumem à reprodução de acenos vagos feitos pelo regime desde o início da crise.
Suleiman ofereceu libertar presos políticos, maior liberdade de imprensa e o fim do estado de exceção pelo qual Mubarak sempre governou.
O governo anunciou após o encontro que as partes concordaram em criar um comitê para estudar reformas, entre as quais a da Constituição, para permitir maior liberdade política e de imprensa.
A TV estatal disse que as propostas de mudanças, tidas como amplamente favoráveis ao Partido Nacional Democrático chefiado por Mubarak, serão apresentadas até o mês de março.
A avaliação predominante é a de que o governo fez concessões insuficientes.
No entanto, o fato de haver um consenso sobre a continuação do diálogo sinaliza que Mubarak tem grandes chances de ficar no cargo até as eleições de setembro.
O ditador prometera na semana passada não concorrer a mais um mandato -pleitos no Egito são tidos como manipulados pelo governo.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse ontem à TV Fox News que o Egito não voltará a ser o que era antes do começo dos protestos.

NORMALIDADE
Em mais um sinal de que Mubarak está ganhando por esgotamento a queda de braço com os adversários, o Cairo voltou ontem a ter ares de normalidade. Comércios reabriram, e as avenidas voltaram a ficar engarrafadas.
Havia filas na porta dos bancos. "Estava há dias sem dinheiro. Só quero pagar minhas contas, não ligo para política", disse à Folha o vendedor Amr Ibrahim, 29.
Nas ruas do centro do Cairo, ainda repletas de carcaças de carros queimados e vigiadas por tanques, homens engravatados retomando o trabalho dividiam o espaço com pessoas carregando bandeiras do Egito que se direcionavam à praça Tahrir.
A tensão diminui, e jornalistas estrangeiros puderam voltar a trabalhar sem atos de intimidação por parte de simpatizantes do regime de Mubarak.


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