São Paulo, segunda-feira, 07 de março de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Primeira fase da retirada tem início após encontro entre presidentes; Hizbollah convoca manifestação pró-Damasco

Síria começa a deslocar tropas no Líbano

DA REDAÇÃO

Tropas sírias vão começar hoje a recuar para o leste do Líbano, anunciou ontem o ministro da Defesa do Líbano, Abdul Rahim Murad. Forças sírias deverão retirar-se do Monte Líbano e de áreas do norte libanês e reagrupar-se no vale de Bekaa (leste do Líbano) após encontro entre os presidentes libanês e sírio previsto para ocorrer hoje em Damasco.
Também ontem, o líder do Hizbollah, grupo xiita pró-síria que controla o sul do Líbano, anunciou que fará uma grande manifestação em Beirute nesta semana para protestar contra "interferências internacionais" no Líbano. É uma forma de fazer frente aos vários protestos anti-sírios que vêm ocorrendo em Beirute.
A realocação dos cerca de 15 mil soldados sírios no vale de Bekaa é a primeira das duas fases da retirada que o ditador sírio, Bashar al Assad, descreveu num discurso ao Parlamento no sábado. O ditador sírio, contudo, não deixou claro se as forças sírias deixariam completamente o Líbano ou se permaneceriam dentro do país perto da fronteira. Os detalhes da retirada devem ser acertados hoje pelo Conselho Supremo Sírio-Libanês, que congrega as lideranças máximas dos dois países.
O conselheiro da Casa Branca Dan Bartlett criticou o discurso de Assad, afirmando que ele postulava "generalidades" e "meias medidas" em vez de atender às exigências da comunidade internacional. Falando à CNN, Bartlett disse que os serviços secretos e agentes de inteligência sírios "que de fato espalham o terror entre a população libanesa" também precisam sair. Assad, em seu discurso, não fez referência à retirada dos serviços de inteligência.
Em entrevista à revista "Time" publicada ontem, Assad afirmou que não é Saddam Hussein e que pretende cooperar para solucionar a tensão na região. O ditador sírio também voltou a negar envolvimento no assassinato do premiê libanês Rafik Hariri (1992-98 e 2000-04) no dia 14 de fevereiro. O atentado deflagrou os protestos pela retirada síria.
Líderes da oposição libanesa -que vêm conduzindo a campanha para a retirada das forças sírias- se dizem céticos em relação à possibilidade de uma retirada total. "O discurso do presidente Assad foi um anúncio político. Os libaneses agora esperam a implementação deste anúncio", disse o deputado Fares Soeid.
Soeid rejeitou o argumento de que uma eventual retirada síria poderia provocar problemas de segurança no Líbano. "Estamos dizendo há 30 anos que o Exército sírio precisa deixar o Líbano, que seremos capazes de cuidar de nossos assuntos internos", disse.
O líder oposicionista também disse que o "levante pela independência" iniciado em fevereiro depois do assassinato de Hariri continuará até que todas as exigências da oposição sejam atendidas -incluindo a prisão dos assassinos do ex-premiê. Muitos libaneses responsabilizam a síria e o governo libanês pró-sírio pelo assassinato. Os protestos da oposição já provocaram a queda do governo libanês, que segue atuando em caráter interino até a escolha de um novo gabinete.
A Síria, contudo, ainda tem aliados de peso no Líbano. O líder do Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah, convocou para amanhã uma manifestação em Beirute para "rejeitar a intervenção estrangeira que conspira contra a a liberdade, a soberania e a independência" e denunciar a resolução 1559 da ONU, que exige que as forças sírias deixem o Líbano e que o Hizbollah deponha suas armas.

Itamaraty
O Itamaraty divulgou nota em que classifica como "um passo importante" o remanejamento de tropas anunciado por Damasco para a implementação da Resolução 1559 da ONU. O Brasil se absteve na votação desta resolução.


Com agências internacionais


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