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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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Luta urbana já apresenta sua face cruel

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Bloquear e esperar que caia de podre, ou entrar com tudo? Os primeiros exemplos de guerra urbana que os americanos enfrentaram em Bagdá mostram que o dilema existe e não tem uma solução fácil. Para fazer omelete, quindim ou fios de ovos, é preciso quebrar suas cascas.
Meramente fechar o círculo em torno da cidade deixa o inimigo dentro dela, pronto a vender caro sua pele em cruéis combates urbanos.
O treinamento e equipamento superiores dos soldados e fuzileiros navais dos EUA certamente os faria ter menos baixas que os iraquianos -embora a proporção de quatro baixas para mil, dois mil ou três mil, como teria acontecido no sábado, soe como um exagero de soldados excitados pelo combate.
Não há tropas para um "cerco" completo. Basta lembrar que quando os russos tomaram Berlim em 1945, uma cidade também com vários milhões de habitantes, tinham centenas de milhares de soldados atacando. Os EUA têm uma força de apenas algumas dezenas de milhares de homens.
Penetrar o interior da cidade rapidamente, como uma faca num queijo, buscaria usar esse efeito de choque para derrotar o inimigo. Mas também exigiria mais forças do que as disponíveis hoje, e causaria mais danos à cidade e mortes à sua população.
Bolsões de resistência poderiam existir em vários pontos da cidade e do país, mesmo sem o chamado "comando e controle" por parte de Saddam Hussein sobre suas Forças Armadas.
Os bolsões teriam que ser "varridos", "limpos", "sanitizados" (o jargão militar adora esse tipo de linguagem higiênica) pelas tropas de segunda linha, como os reforços a caminho do Iraque, como a 4ª Divisão de Infantaria Mecanizada.
Assim como a primeira incursão de longa distância dos helicópteros Apache dias atrás encontrou um "ninho de vespas" que derrubou um deles, uma avanço de uma coluna blindada encontrou forte resistência e um tanque foi abandonado.
O tanque americano M1 Abrams abandonado que foi mostrado pelos iraquianos aos jornalistas estrangeiros revela a mesma lição que os russos reaprenderam na Tchetchênia.
Desde a Segunda Guerra Mundial que se sabe que blindados avançando em áreas construídas ficam vulneráveis a armas de curto alcance como os lança-granadas RPG-7, que existem aos milhares em exércitos como o iraquiano.
Uma versão apresentada pelo Comando Central dos EUA afirma que o tanque teria sido abandonado por problemas mecânicos.
É possível que seja verdade, e que os danos no tanque tenham sido feitos depois. Mas mesmo que seja esse o caso, também é um sinal ruim para os americanos.
Depois de um avanço de centenas de quilômetros, o número de problemas mecânicos dos blindados costuma ser alto. Se isso aconteceu em um tanque durante um ataque, é sinal que as tropas americanas continuam tendo problemas nas áreas vitais de suprimento e manutenção.


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