São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Obama limita uso de arsenal nuclear dos EUA

Armas atômicas não serão empregadas contra países que não tenham a bomba nem em reação a ataques químicos ou biológicos

Como condição imposta pelo Pentágono é o respeito ao Tratado de Não Proliferação, Irã e Coreia do Norte são mencionados como ameaças


Charles Dhaparak/Associated Press
Hillary Clinton discursa ao lado dos secretários de Energia, Steven Chu (à dir.), e da Defesa, Robert Gates, e do comandante do Estado-Maior-Conjunto, Michael Mullen

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

O governo de Barack Obama divulgou ontem a revisão da política nuclear americana, que reduz os cenários em que os EUA podem utilizar o seu arsenal atômico e reforça o regime global de não proliferação. Durante o anúncio, o Pentágono deixou clara a sua preocupação principal: o terrorismo.
Se, por um lado, o governo afirma que não usará armas nucleares contra países não nucleares -como resposta a ataques químicos ou biológicos-, a condição para isso é que as nações respeitem o Tratado de Não Proliferação e outros acordos internacionais.
Isso exclui da lista Irã e Coreia do Norte, citados no mesmo documento como nações que "desafiaram diretrizes do Conselho de Segurança das Nações Unidas", em um comportamento considerado "provocativo" pelos EUA.
"O grande arsenal nuclear que herdamos da Guerra Fria mal serve para tratarmos dos desafios impostos por terroristas suicidas e regimes inimigos em busca de armas nucleares", afirma o documento, de 72 páginas. "Por isso, é essencial que ajustemos as nossas políticas nucleares de acordo com as prioridades mais urgentes -prevenir o terrorismo e a proliferação nuclear."
O texto diz ainda que "a Al Qaeda e seus aliados extremistas estão buscando armas nucleares. Precisamos supor que eles usariam essas armas caso as conseguissem". "A ameaça de uma guerra global nuclear se tornou remota, mas os riscos de um ataque nuclear aumentaram", escreveu o governo.
Por isso, os EUA ainda investirão US$ 5 bilhões nos próximos anos para "modernizar" o atual arsenal nuclear, com o propósito de se defender de possíveis ataques nucleares.
"Enquanto as armas nucleares existirem, os EUA precisam manter um arsenal seguro e eficiente, para manter a estabilidade estratégica com relação a outras potências nucleares, intimidar adversários em potencial e assegurar nossos aliados e parceiros de nossos compromissos de segurança", afirmou Robert Gates, secretário da Defesa dos EUA.
Apesar dos investimentos no arsenal já existente, o país se comprometeu a não construir novos artefatos nucleares.
Gates disse ainda que a revisão -a primeira desde que o governo Bush anunciou a reestruturação da doutrina nuclear, após o 11 de Setembro- resolve as ambiguidades com relação à conduta nuclear do país, que detém a maior quantidade de ogivas prontas para o uso, e é parte dos planos de Obama por um mundo sem armas nucleares.
O presidente dos EUA, que recebeu o Nobel da Paz, em 2009, justamente por sua "visão de um mundo sem armas nucleares", afirmou ontem que não é "ingênuo" de achar que esse objetivo será atingido "com rapidez". "Talvez nem enquanto eu estiver vivo."
Mas a revisão é tida como um passo importante de Obama, que ainda deve assinar amanhã, em Praga, acordo com a Rússia para a redução do arsenal nuclear nos dois países.
Ontem, o chanceler russo, Sergei Lavrov, insistiu que o país manterá o direito de abandonar o pacto caso os planos americanos de desenvolver um escudo antimísseis no Leste Europeu ameacem o potencial de ataque da Rússia -o que Washington nega. O chanceler acrescentou, no entanto, que os russos não veem os planos iniciais dos EUA como uma ameaça ao equilíbrio na região.


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