São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Nova doutrina é incentivo para adesões ao TNP

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ao contrário de fuzis e tanques, armas atômicas são feitas com o propósito de não ser utilizadas. O principal teatro de operações da estratégia nuclear não são cidades ou a infraestrutura do país inimigo, mas a mente humana, mais especificamente um pedacinho da racionalidade que atende pelo nome de teoria dos jogos, o ramo da matemática aplicada que lida com estratégias e decisões.
Durante a maior parte da Guerra Fria, EUA e URSS atuaram sob a lógica da doutrina MAD (acrônimo inglês de "destruição mútua assegurada"), segundo a qual o uso de artefatos nucleares em larga escala levaria inexoravelmente à aniquilação tanto da parte que lançou o primeiro ataque quanto da que a ele respondeu.
Tão ou mais importante do que manter grandes arsenais era garantir que uma fração das armas sobreviveria à primeira investida e poderia ser usada num segundo assalto -daí a ênfase em submarinos com mísseis atômicos.
Assim, ambas as partes operavam para consolidar a situação em que nenhum jogador teria a ganhar mudando sua estratégia unilateralmente. É o que, em teoria dos jogos, leva o nome de equilíbrio de Nash, em referência ao trabalho do matemático John Forbes Nash Jr..
Também conhecida como "equilíbrio do terror", a doutrina MAD, que ganhou força após a crise dos mísseis de 1962, é vista por muitos como o verdadeiro fator a ter impedido o conflito aberto entre EUA e URSS. Curiosamente, a lógica da destruição mútua sobreviveu à própria União Soviética e ainda dá as cartas nas relações entre Washington e Moscou.
O que Obama tenta fazer agora ao anunciar mudanças na atitude nuclear dos EUA -por lei cada presidente precisa detalhar sua posição- é atrair mais jogadores para o tabuleiro da razão.
Quando diz que os EUA não atacarão primeiro nenhum país que esteja cumprindo com as obrigações estipuladas pelo TNP, ele está oferecendo um incentivo concreto para quem adere a esse tratado, que muitos veem como ônus (abrir-se a inspeções) sem bônus.
No mesmo caminho vai a disposição de não desenvolver novos tipos de ogiva, o que afasta o espectro de uma nova e custosa corrida armamentista atômica.
O problema dessa lógica é que ela exige jogadores racionais. E o receio em relação a um Irã ou uma Coreia do Norte nucleares é justamente o de que seus líderes possam agir de forma irracional.


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