|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMENTÁRIO
Munição para extremistas
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Se a indiscutível derrota de
Jean-Marie Le Pen no segundo
turno da eleição presidencial
francesa foi um golpe nos movimentos de extrema direita europeus, o assassinato de Pim Fortuyn, ocorrido ontem, na Holanda, deverá dar munição aos líderes dessas formações extremistas.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, tirar proveito de qualquer
situação "favorável", mesmo no
exterior, é uma das estratégias de
grupos políticos extremistas. "É
cedo para analisar as repercussões do assassinato de Fortuyn,
porém uma coisa é certa: todas as
formações de extrema direita européias tentarão tirar proveito dele", declarou Christian Lequesne,
do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais (Paris).
"Partidos extremistas que vêm
participando do jogo político democrático não perderão a oportunidade de dizer que o sistema que
prega a liberdade de expressão
tenta calá-los por meio de métodos não-democráticos", afirmou
Marc Sadoun, do Centro de Estudo da Vida Política Francesa.
Isso não tardou a concretizar-se. Poucas horas depois do assassinato, o austríaco Partido da Liberdade, de Jörg Haider, e o belga
Vlaams Blok já viam nele motivos
políticos. Isso sem que a polícia tivesse divulgado o nome do suspeito que mantinha encarcerado.
Fortuyn fugia de comparações
com outros líderes de extrema direita. No entanto sua retórica lembrava a de outros extremistas.
"Ele insistia na tecla da falta de diferença entre a esquerda e a direita. Ademais, não negligenciava as
vantagens que críticas à insegurança e à imigração poderiam
render-lhe", disse Lequesne.
Mas sua meteórica ascensão
ocorreu sem a ajuda de uma formação política forte, como a
Frente Nacional, de Le Pen. "Seu
partido [Roterdã Habitável] se
parece mais com a Força Itália, de
Silvio Berlusconi [premiê italiano], em seu início. Ou seja, um
grupo amorfo que apóia um líder
carismático", apontou Lequesne.
Embora os motivos do assassinato ainda não sejam conhecidos,
o crime reforça o temor do reaparecimento de movimentos terroristas de extrema esquerda na Europa, já que, em março, um assessor do governo italiano foi morto
por um grupo que se dizia herdeiro das Brigadas Vermelhas.
"O crescimento da direita radical poderia, em tese, dar alento a
terroristas extremistas. Alguns
grupos, como as Brigadas Vermelhas [Itália] e o Baader-Meinhof
[Alemanha], eram bastante ativos nos anos 70", indicou Lequesne.
Texto Anterior: Morte choca extremistas europeus Próximo Texto: Perfil: Ascensão política foi meteórica Índice
|