São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMENTÁRIO

Munição para extremistas

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Se a indiscutível derrota de Jean-Marie Le Pen no segundo turno da eleição presidencial francesa foi um golpe nos movimentos de extrema direita europeus, o assassinato de Pim Fortuyn, ocorrido ontem, na Holanda, deverá dar munição aos líderes dessas formações extremistas.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, tirar proveito de qualquer situação "favorável", mesmo no exterior, é uma das estratégias de grupos políticos extremistas. "É cedo para analisar as repercussões do assassinato de Fortuyn, porém uma coisa é certa: todas as formações de extrema direita européias tentarão tirar proveito dele", declarou Christian Lequesne, do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais (Paris).
"Partidos extremistas que vêm participando do jogo político democrático não perderão a oportunidade de dizer que o sistema que prega a liberdade de expressão tenta calá-los por meio de métodos não-democráticos", afirmou Marc Sadoun, do Centro de Estudo da Vida Política Francesa.
Isso não tardou a concretizar-se. Poucas horas depois do assassinato, o austríaco Partido da Liberdade, de Jörg Haider, e o belga Vlaams Blok já viam nele motivos políticos. Isso sem que a polícia tivesse divulgado o nome do suspeito que mantinha encarcerado.
Fortuyn fugia de comparações com outros líderes de extrema direita. No entanto sua retórica lembrava a de outros extremistas. "Ele insistia na tecla da falta de diferença entre a esquerda e a direita. Ademais, não negligenciava as vantagens que críticas à insegurança e à imigração poderiam render-lhe", disse Lequesne.
Mas sua meteórica ascensão ocorreu sem a ajuda de uma formação política forte, como a Frente Nacional, de Le Pen. "Seu partido [Roterdã Habitável] se parece mais com a Força Itália, de Silvio Berlusconi [premiê italiano], em seu início. Ou seja, um grupo amorfo que apóia um líder carismático", apontou Lequesne.
Embora os motivos do assassinato ainda não sejam conhecidos, o crime reforça o temor do reaparecimento de movimentos terroristas de extrema esquerda na Europa, já que, em março, um assessor do governo italiano foi morto por um grupo que se dizia herdeiro das Brigadas Vermelhas.
"O crescimento da direita radical poderia, em tese, dar alento a terroristas extremistas. Alguns grupos, como as Brigadas Vermelhas [Itália] e o Baader-Meinhof [Alemanha], eram bastante ativos nos anos 70", indicou Lequesne.



Texto Anterior: Morte choca extremistas europeus
Próximo Texto: Perfil: Ascensão política foi meteórica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.