São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Sarkozy, eleito, exalta "trabalho e mérito"

Ex-ministro do Interior, que assume no dia 16 Presidência da França, impõe à esquerda terceira derrota consecutiva

Novo presidente estende a mão aos Estados Unidos, mas cobra parceria no clima; derrota acentua as divisões do Partido Socialista

Reuters
Sarkozy é saudado por seus partidários após o anúncio da vitória


JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Nicolas Sarkozy, 52, candidato da direita, foi eleito presidente da França para o próximo qüinqüênio. Recebeu 53,06% dos votos no segundo turno de ontem e deverá tomar posse no próximo dia 16.
A candidata socialista, Ségolène Royal, 53, amarga a terceira derrota consecutiva das esquerdas numa disputa presidencial. Ela telefonou às 20h02 a seu adversário para felicitá-lo, dois minutos depois do encerramento da votação em Paris e do anúncio das projeções.
Minutos antes, no entanto, estava claro que Sarkozy seria eleito. A polícia anunciou o fechamento de quatro estações de metrô nas imediações da praça da Concórdia, onde um palanque começava a ser armado para os festejos do eleitorado conservador, que reuniram, tarde da noite, multidão calculada em 40 mil pessoas. Caso Ségolène fosse vitoriosa, seus eleitores teriam comemorado na praça da Bastilha.
O presidente eleito fez seu primeiro pronunciamento na sala Gaveau, imediações da avenida dos Champs Elysées, auditório habitualmente usado para a música erudita.
Diante de partidários entusiastas e pela última vez com o slogan de campanha diante dos microfones - "juntos tudo se torna possível"-, afirmou ter respeito por "madame Royal e por suas idéias". Respeitá-la, disse ainda, é "respeitar os milhões de franceses que por ela votaram". Afirmou que os eleitores votaram por mudanças e para "reabilitar o trabalho, a autoridade, a moral, o mérito e o respeito". "Quero honrar a nação e a identidade nacional."
Sua mensagem também se endereçou aos EUA, "que podem contar com nossa amizade" e que devem compreender que "os amigos podem pensar de um modo diferente". Lamentou que os EUA façam obstáculo às medidas contra o aquecimento global, em combate que deveriam liderar.
Ségolène Royal aguardou os resultados no terceiro andar de seu comitê eleitoral, no bulevar Saint-Germain, 182. Dirigiu-se em seguida à Maison de l"Amérique Latine, 600 metros adiante, para a leitura, diante de 300 partidários, de sua mensagem. Admitiu que "o sufrágio universal deu a última palavra" e disse ter iniciado uma renovação política no Partido Socialista. "Podem continuar a contar comigo para novas convergências, para além de nossas fronteiras tradicionais", menção à possibilidade de alianças com os centristas.
A abstenção, de 15,24%, foi espantosamente baixa para um país em que o voto não é obrigatório. Os eleitores da extrema direita não seguiram a palavra de ordem de seu dirigente e candidato desclassificado no primeiro turno, Jean-Marie Le Pen. Para eles (10,44% dos votos válidos) a prioridade era derrotar Ségolène.
Com a derrota da candidata, a França deixa de eleger sua primeira mulher para a chefia do Estado, embora a nítida politização tornasse secundário o fato de os socialistas não serem representados por um candidato do sexo masculino.

Novo premiê
Rumores convergentes indicam que Sarkozy indicará como primeiro-ministro François Fillon, 53, hoje senador e que foi o principal chefe de sua campanha. Fillon foi importante articulador, como ministro de Questões Sociais (2002-2004), da reforma da aposentadoria, pela qual os assalariados passaram a se aposentar após 40 anos de contribuição, em lugar de 37. Inexiste para essas questões, por aqui, a figura do direito adquirido.
Em Paris, na praça da Concórdia, os eleitores de Sarkozy dançavam ao som de um rock francês. Sarkozy, depois de seus compromissos públicos, refugiou-se no Fouquet's, restaurante do Champs Elysées onde um grupo de amigos o aguardava para um jantar.
A esquerda está agora de olho nas legislativas de junho, para as quais já sai em desvantagem, segundo uma primeira pesquisa anunciada ontem (só 21% das intenções para o PS).
A derrota salientou as divisões entre os socialistas. Ontem à noite, o ex-ministro das Finanças Dominique Strauss-Kahn, da ala mais liberal do PS, disse que "a esquerda nunca esteve tão fraca porque não conseguiu se renovar". O ex-premiê Laurent Fabius, mais à esquerda, disse que o partido precisa se renovar e se abrir, "mas sem esquecer nossos valores". "A bandeira está no chão. Temos que apanhá-la e levantá-la outra vez", pediu Fabius.

NA INTERNET - Leia trechos do discurso de Sarkozy em www.folha.com.br/071261


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