São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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Boca de urna aponta derrota de Brown

Partido Conservador ganha 95 novas cadeiras, maior avanço em um pleito desde 1945, mas não obtém maioria absoluta

Resultado, se confirmado, dá brecha para que o atual premiê tente se manter no poder em aliança com o Partido Liberal-Democrata


Toby Melville/Reuters
Ao lado da mulher, o conservador David Cameron acena após votar

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O Partido Trabalhista do primeiro-ministro Gordon Brown perdeu a eleição de ontem no Reino Unido, mas, até 2h45 da madrugada de hoje (22h45 em Brasília), não estava claro quem governaria o país.
O Partido Conservador ficou com o maior número de cadeiras mas, aparentemente, não o suficiente para alcançar a maioria absoluta (326 parlamentares em um total de 650).
A pesquisa boca de urna das três grandes redes de TV dava aos conservadores 305 cadeiras, 21 a menos que a maioria necessária. Os trabalhistas ficariam com 255 e, para surpresa dos comentaristas britânicos, os liberais de Nick Clegg, sensação da campanha, não passariam de 61 parlamentares, um a menos do que tinham.
Configurava-se, se a pesquisa estiver certa, o que o jargão local chama de "hung Parliament" (Parlamento enforcado ou pendurado, ou seja, sem maioria absoluta). A derrota dos trabalhistas ficou nítida pelo número de cadeiras que perderam (94), combinada com o número de novos parlamentares conservadores (95).
A apuração, no entanto, até 2h45 (22h45 em Brasília), ainda dava vantagem aos trabalhistas, com 68 cadeiras contra 52 dos conservadores, 8 para os liberais e 19 para outros partidos, quase todos agrupações regionais (Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte).
Por isso e também porque os conservadores, na boca de urna, não obtinham a maioria absoluta, lideranças trabalhistas aferravam-se ao poder.
O argumento, usado por Peter Mandelson, ideólogo do chamado "Novo Trabalhismo" e hoje ministro de Negócios, era este: "As regras são claras. Se há um "hung Parliament", não é o partido que tem o maior número de assentos que tem o direito à primeira tentativa de formar o gabinete, mas o governo que está em funções".
A consequência desse raciocínio é óbvia: os trabalhistas querem tempo para tentar formar uma coalizão com os liberais. "Se as pesquisas estiverem certas, o eleitorado não quer um governo puramente trabalhista mas tampouco quer um governo puramente conservador", dizia Mandelson.
Emissoras informaram, citando fontes não especificadas, que o próprio premiê tentaria a coalizão com os liberais democratas. Brown, ao ser proclamado eleito pelo distrito escocês de Kinkcaldy, não falou em derrota, o que reforçou a sensação de que os trabalhistas tentarão agarrar-se ao poder.
Os conservadores não aceitam a hipótese. Dizem, sempre com base na boca de urna, que o eleitorado "rejeitou maciçamente o governo trabalhista", como afirmou George Osborne, que será o responsável pela economia, caso os conservadores formem o governo.
A hipótese de um "hung Parliament" foi o permanente pesadelo dos conservadores durante a campanha, porque levaria à demora na formação do governo e, por extensão, a um atraso na adoção de medidas para reduzir o deficit público.
Uma primeira reação de agentes de mercado demonstra que o receio dos conservadores tinha razão de ser: a agência Reuters ouviu de Howard Wheeldon, estrategista-sênior da corretora BGC, a avaliação de que "qualquer forma de "hung Parliament" é pior do qualquer outra coisa que eu possa imaginar".
Wheeldon antecipou que a reação dos mercados, se confirmado o "hung Parliament", seria de decepção e, pior ainda, "coincidindo com tudo o que está ocorrendo [nos mercados], poderia ser semi-catastrófica".
Para ajudar nessa sombria previsão, há ainda o fato de que em pelo menos cinco distritos houve sérias irregularidades, como a falta de papeletas de votação, o que pode levar a algum tipo de impugnação judicial, tornando o Parlamento ainda mais "pendurado" do que apontaram as pesquisas.


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