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Boca de urna aponta derrota de Brown
Partido Conservador ganha 95 novas cadeiras, maior avanço em um pleito desde 1945, mas não obtém maioria absoluta
Resultado, se confirmado, dá brecha para que o atual premiê tente se manter no poder em aliança com o Partido Liberal-Democrata
Toby Melville/Reuters
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Ao lado da mulher, o conservador David Cameron acena após votar
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O Partido Trabalhista do primeiro-ministro Gordon Brown
perdeu a eleição de ontem no
Reino Unido, mas, até 2h45 da
madrugada de hoje (22h45 em
Brasília), não estava claro
quem governaria o país.
O Partido Conservador ficou
com o maior número de cadeiras mas, aparentemente, não o
suficiente para alcançar a
maioria absoluta (326 parlamentares em um total de 650).
A pesquisa boca de urna das
três grandes redes de TV dava
aos conservadores 305 cadeiras, 21 a menos que a maioria
necessária. Os trabalhistas ficariam com 255 e, para surpresa
dos comentaristas britânicos,
os liberais de Nick Clegg, sensação da campanha, não passariam de 61 parlamentares, um a
menos do que tinham.
Configurava-se, se a pesquisa
estiver certa, o que o jargão local chama de "hung Parliament" (Parlamento enforcado
ou pendurado, ou seja, sem
maioria absoluta). A derrota
dos trabalhistas ficou nítida pelo número de cadeiras que perderam (94), combinada com o
número de novos parlamentares conservadores (95).
A apuração, no entanto, até
2h45 (22h45 em Brasília), ainda dava vantagem aos trabalhistas, com 68 cadeiras contra
52 dos conservadores, 8 para os
liberais e 19 para outros partidos, quase todos agrupações regionais (Escócia, País de Gales
e Irlanda do Norte).
Por isso e também porque os
conservadores, na boca de urna, não obtinham a maioria absoluta, lideranças trabalhistas
aferravam-se ao poder.
O argumento, usado por Peter Mandelson, ideólogo do
chamado "Novo Trabalhismo"
e hoje ministro de Negócios,
era este: "As regras são claras.
Se há um "hung Parliament",
não é o partido que tem o maior
número de assentos que tem o
direito à primeira tentativa de
formar o gabinete, mas o governo que está em funções".
A consequência desse raciocínio é óbvia: os trabalhistas
querem tempo para tentar formar uma coalizão com os liberais. "Se as pesquisas estiverem
certas, o eleitorado não quer
um governo puramente trabalhista mas tampouco quer um
governo puramente conservador", dizia Mandelson.
Emissoras informaram, citando fontes não especificadas,
que o próprio premiê tentaria a
coalizão com os liberais democratas. Brown, ao ser proclamado eleito pelo distrito escocês
de Kinkcaldy, não falou em derrota, o que reforçou a sensação
de que os trabalhistas tentarão
agarrar-se ao poder.
Os conservadores não aceitam a hipótese. Dizem, sempre
com base na boca de urna, que o
eleitorado "rejeitou maciçamente o governo trabalhista",
como afirmou George Osborne,
que será o responsável pela
economia, caso os conservadores formem o governo.
A hipótese de um "hung Parliament" foi o permanente pesadelo dos conservadores durante a campanha, porque levaria à demora na formação do
governo e, por extensão, a um
atraso na adoção de medidas
para reduzir o deficit público.
Uma primeira reação de
agentes de mercado demonstra
que o receio dos conservadores
tinha razão de ser: a agência
Reuters ouviu de Howard
Wheeldon, estrategista-sênior
da corretora BGC, a avaliação
de que "qualquer forma de
"hung Parliament" é pior do
qualquer outra coisa que eu
possa imaginar".
Wheeldon antecipou que a
reação dos mercados, se confirmado o "hung Parliament", seria de decepção e, pior ainda,
"coincidindo com tudo o que
está ocorrendo [nos mercados],
poderia ser semi-catastrófica".
Para ajudar nessa sombria
previsão, há ainda o fato de que
em pelo menos cinco distritos
houve sérias irregularidades,
como a falta de papeletas de votação, o que pode levar a algum
tipo de impugnação judicial,
tornando o Parlamento ainda
mais "pendurado" do que
apontaram as pesquisas.
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