São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Medida, que visa Saddam Hussein, entra em vigor dia 30; violência deixa 29 mortos no fim de semana

Iraquianos reinstituem pena de morte

DA REDAÇÃO

O governo interino iraquiano anunciou que reinstituirá a pena de morte no país tão logo recupere a soberania, no próximo dia 30, revivendo uma medida da época de Saddam Hussein para usá-la contra o próprio ex-ditador. O anúncio, ontem, coincidiu com um fim de semana sangrento no país, no qual atentados e ataques deixaram ao menos 29 mortos.
Segundo o futuro ministro da Justiça, Malik al Hassan, a pena capital só será aplicada em "casos muito especiais" -entre os quais estaria o de Saddam. "Ele foi chefe das Forças Armadas e desertou. Segundo a lei de seu regime, ele mereceria [a pena]."
A pena de morte foi revogada no Iraque em abril de 2003, após a queda do regime de Saddam, pela Autoridade Provisória da Coalizão. A entidade liderada pelos EUA será dissolvida no próximo dia 30, quando deve tomar posse o governo interino iraquiano. "Com a recuperação da soberania, não há por que manter a suspensão", disse Al Hassan.
A revogação vem a propósito. Capturado pelos EUA em dezembro último e mantido sob custódia americana, o ex-ditador será julgado por um tribunal iraquiano com assessoria de juristas e especialistas internacionais. A data não foi definida, pois o sistema judiciário do país passa por uma completa reestruturação.

Violência
Na medida em que se aproxima a posse do governo interino a violência tem aumentado no Iraque.
Ontem, ao menos nove iraquianos morreram e mais de 30 foram feridos na explosão de um carro-bomba perto de uma base americana em Taji (norte), em um atentado reivindicado pelo grupo do terrorista jordaniano Abu Musab Zarqawi, ligada à Al Qaeda.
O ataque fechou um fim de semana sangrento, em que delegacias de polícia em Bagdá e no sul do país sofreram ataques a bomba e quatro civis estrangeiros foram mortos em uma emboscada. A insurgência matou ainda dois soldados americanos.
Os ataques contra delegacias ocorreram ontem no bairro xiita de Al Sadr, em Bagdá, e anteontem em Musayib, ao sul da capital. No segundo incidente, dez policiais e dois civis morreram. Mais dois policiais foram mortos em um ataque a bomba numa estrada perto de Ramadi, no oeste do país.
Já os civis estrangeiros -dois americanos e dois poloneses- foram vítimas de uma emboscada no sábado perto do aeroporto de Bagdá, conforme comunicado emitido ontem pela empresa para a qual eles trabalhavam, a Blackwater USA. A firma é a mesma que empregava os quatro civis americanos cuja morte e mutilação dos cadáveres na cidade de Fallujah (oeste), em abril, deram origem a uma onda de violência.
Também ontem, os EUA libertaram 320 iraquianos da prisão de Abu Ghraib, palco de torturas cometidas por soldados dos EUA contra prisioneiros, dentro um programa de redução da lotação.

Resolução da ONU
A violência constitui o principal problema do país no pós-guerra, e a cargo de quem deve ficar o controle da segurança é a principal discussão para a aprovação de uma nova resolução sobre o país na ONU. Depois de duas revisões, uma proposta americana dá ao governo interino iraquiano o direito de pedir a retirada da força multinacional que permanecerá no país, sob controle dos EUA.
O Conselho de Segurança se reuniu ontem para debater adendos ao texto sugerido em uma carta do futuro premiê iraquiano, Iyad Allawi, que reivindica para si a palavra final sobre as operações de segurança. Autoridades americanas prevêem que o texto seja votado nesta semana.


Com agências internacionais

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