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Chávez acusa EUA de buscarem novo golpe
Venezuelano diz que Washington manipula estudantes com a ajuda de reitores, mas que poderá reagir com "revolta jacobina"
Em primeira coletiva desde o fim da RCTV, em maio, Chávez diz que Lula é amigo e agradece a brasileiro por declarações apaziguadoras
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
As manifestações de estudantes universitários em Caracas contra o fim das transmissões da emissora oposicionista
RCTV fazem parte de um "golpe suave" de Estado elaborado
pelos Estados Unidos com a colaboração dos reitores, afirmou
ontem o presidente venezuelano, Hugo Chávez, sobre a onda
de protestos que ontem completou dez dias.
Em sua primeira entrevista
coletiva desde que a emissora
saiu do ar, no último domingo
de maio, Chávez comparou o
suposto golpe de Estado a uma
dinamite. Na metáfora, os universitários são o fogo que, aceso
pelos EUA, querem produzir
uma "grande explosão" para
dar fim ao seu governo.
O presidente venezuelano
disse que, em último caso, liderará uma revolta "jacobina",
em alusão à revolta popular durante a Revolução Francesa
(1789) que se traduziu em vantagens aos mais pobres (os
"sans-culottes") -mas que, no
entanto, desencadearam o período conhecido como Terror.
Leia, a seguir, trechos da entrevista coletiva, da qual a Folha participou:
LULA
"Quero agradecer as declarações do presidente Lula, que
[outros] vêm tentando manipular, certamente, mas não vão
conseguir. Venezuela e Brasil
continuarão juntos. Eu respondo da mesma maneira: você é
um grande amigo, um grande
presidente e um grande homem, humilde, e é isso o que
lhe faz grande [Lula disse que
não-renovação da concessão é
questão interna da Venezuela].
Marco Aurélio Garcia, que é
um grande amigo, disse: "Não
me venham com essas bobagens outra vez. Na Venezuela
há democracia, eu tenho andado na Venezuela". (...) Lula mesmo já disse que na Venezuela
há excesso de democracia."
"GOLPE SUAVE"
"Essa é a estratégia do golpe
suave [mostra um desenho de
dinamite]. Eu chamo de pavio
lento. A estratégia é fácil, mas
nós já a descobrimos. Eles querem acender o pavio para que
ela ande até que um evento
qualquer, a qualquer momento,
faça estourar a carga explosiva.
A batalha nossa está aqui. Eles
acendendo, e nós apagando o
foguinho (...) Eles vão tentar
aumentar [o pavio]. Só que aqui
essa explosão não vai ocorrer.
(...) Aqui, os únicos que podem
causar a explosão são as massas
populares, e não a oligarquia."
BUSH
"Acuso o presidente George
W. Bush de estar por trás de tudo isso. Vão fracassar, e faço um
chamado aos venezuelanos de
boa-fé para que não se deixem
ser utilizados, para que não se
deixem ser manipulados."
EUA E OEA
"A secretária de Estado Condolezza Rice, se aborreceu [durante reunião da OEA em que
discutiu com o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro] e
saiu como um raio. Esses são os
sinais da decadência imperial.
Foi uma grande derrota para o
império [Rice propôs, sem sucesso, que a OEA investigasse
em Caracas o fim da licença da
RCTV]. Não conseguiram
quem fizesse o trabalho sujo."
REITORES
"Saberão esses reitores da tamanha responsabilidade que
eles têm como autoridade universitária? Imagino que não
exista nenhum reitor inocente
do jogo imperial. Estão tentando usar os meninos e as meninas como bucha de canhão para
produzir a grande explosão."
REVOLTA JACOBINA
"O que poderia ocorrer é um
conjunto de pequenas explosões (...) que poderia dar nascimento a uma grande explosão.
Mas seria uma grande explosão
revolucionária (...).
Estamos tentando cortar o
pavio. Mas, se não pudermos
conseguir isso, porque estão
colocando muito dinheiro, reuniões em Miami e em outros
países da América Latina... Nós
estamos dedicados 24 horas
com inteligência, contra-inteligência, aqui, na América Latina
e até dentro dos EUA. Já neutralizamos lugares onde havia
armas de guerra, bombas molotov, fuzis. E vamos continuar.
Agora, senhor George W.
Bush e seus ideólogos do golpe
suave em pavio lento, senhores,
esse plano de vocês, aqui na Venezuela, esqueçam. Em último
caso, o que poderia ocorrer é
uma explosão desproporcional.
Jacobina. Não queremos que
ocorra. Se ocorrer, eu estarei à
frente. (...) O governo estaria ao
lado do povo, conduzindo a explosão revolucionária."
CONCESSÃO DA GLOBO
"Alguém escreveu um artigo
perguntando: "Quando é que
termina a concessão da Globo?". Muita gente na Europa, na
América Latina, no mundo, [está se inteirando] que esses sinais que saem por aí são produto de uma concessão."
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