São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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Chávez acusa EUA de buscarem novo golpe

Venezuelano diz que Washington manipula estudantes com a ajuda de reitores, mas que poderá reagir com "revolta jacobina"

Em primeira coletiva desde o fim da RCTV, em maio, Chávez diz que Lula é amigo e agradece a brasileiro por declarações apaziguadoras

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

As manifestações de estudantes universitários em Caracas contra o fim das transmissões da emissora oposicionista RCTV fazem parte de um "golpe suave" de Estado elaborado pelos Estados Unidos com a colaboração dos reitores, afirmou ontem o presidente venezuelano, Hugo Chávez, sobre a onda de protestos que ontem completou dez dias.
Em sua primeira entrevista coletiva desde que a emissora saiu do ar, no último domingo de maio, Chávez comparou o suposto golpe de Estado a uma dinamite. Na metáfora, os universitários são o fogo que, aceso pelos EUA, querem produzir uma "grande explosão" para dar fim ao seu governo.
O presidente venezuelano disse que, em último caso, liderará uma revolta "jacobina", em alusão à revolta popular durante a Revolução Francesa (1789) que se traduziu em vantagens aos mais pobres (os "sans-culottes") -mas que, no entanto, desencadearam o período conhecido como Terror.
Leia, a seguir, trechos da entrevista coletiva, da qual a Folha participou:

LULA
"Quero agradecer as declarações do presidente Lula, que [outros] vêm tentando manipular, certamente, mas não vão conseguir. Venezuela e Brasil continuarão juntos. Eu respondo da mesma maneira: você é um grande amigo, um grande presidente e um grande homem, humilde, e é isso o que lhe faz grande [Lula disse que não-renovação da concessão é questão interna da Venezuela].
Marco Aurélio Garcia, que é um grande amigo, disse: "Não me venham com essas bobagens outra vez. Na Venezuela há democracia, eu tenho andado na Venezuela". (...) Lula mesmo já disse que na Venezuela há excesso de democracia."

"GOLPE SUAVE"
"Essa é a estratégia do golpe suave [mostra um desenho de dinamite]. Eu chamo de pavio lento. A estratégia é fácil, mas nós já a descobrimos. Eles querem acender o pavio para que ela ande até que um evento qualquer, a qualquer momento, faça estourar a carga explosiva.
A batalha nossa está aqui. Eles acendendo, e nós apagando o foguinho (...) Eles vão tentar aumentar [o pavio]. Só que aqui essa explosão não vai ocorrer. (...) Aqui, os únicos que podem causar a explosão são as massas populares, e não a oligarquia."

BUSH
"Acuso o presidente George W. Bush de estar por trás de tudo isso. Vão fracassar, e faço um chamado aos venezuelanos de boa-fé para que não se deixem ser utilizados, para que não se deixem ser manipulados."

EUA E OEA
"A secretária de Estado Condolezza Rice, se aborreceu [durante reunião da OEA em que discutiu com o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro] e saiu como um raio. Esses são os sinais da decadência imperial.
Foi uma grande derrota para o império [Rice propôs, sem sucesso, que a OEA investigasse em Caracas o fim da licença da RCTV]. Não conseguiram quem fizesse o trabalho sujo."

REITORES
"Saberão esses reitores da tamanha responsabilidade que eles têm como autoridade universitária? Imagino que não exista nenhum reitor inocente do jogo imperial. Estão tentando usar os meninos e as meninas como bucha de canhão para produzir a grande explosão."

REVOLTA JACOBINA
"O que poderia ocorrer é um conjunto de pequenas explosões (...) que poderia dar nascimento a uma grande explosão. Mas seria uma grande explosão revolucionária (...).
Estamos tentando cortar o pavio. Mas, se não pudermos conseguir isso, porque estão colocando muito dinheiro, reuniões em Miami e em outros países da América Latina... Nós estamos dedicados 24 horas com inteligência, contra-inteligência, aqui, na América Latina e até dentro dos EUA. Já neutralizamos lugares onde havia armas de guerra, bombas molotov, fuzis. E vamos continuar.
Agora, senhor George W. Bush e seus ideólogos do golpe suave em pavio lento, senhores, esse plano de vocês, aqui na Venezuela, esqueçam. Em último caso, o que poderia ocorrer é uma explosão desproporcional. Jacobina. Não queremos que ocorra. Se ocorrer, eu estarei à frente. (...) O governo estaria ao lado do povo, conduzindo a explosão revolucionária."

CONCESSÃO DA GLOBO
"Alguém escreveu um artigo perguntando: "Quando é que termina a concessão da Globo?". Muita gente na Europa, na América Latina, no mundo, [está se inteirando] que esses sinais que saem por aí são produto de uma concessão."


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